
Ainda os confettis estarão a ser varridos depois das festas de fim de ano quando a primeira grande feira de tecnologia abrir as portas em Las Vegas. A CES 2025 decorre até 10 de janeiro e será a montra inaugural das inovações que vão marcar o mercado durante os próximos doze meses. É aqui que será possível ver para onde o sector tecnológico caminha, com muitas gigantes a fazerem os primeiros grandes anúncios do ano e startups a apresentarem protótipos bizarros, que podem ou não ser comercialmente viáveis no futuro.
O interessante da CES, como primeira feira tech do ano, é marcar o compasso das conversas e medir o pulso aos investimentos que as empresas estão a fazer. Na semana seguinte, será a vez do NRF Big Show, um evento maciço que toma conta de Nova Iorque e onde são mostradas as grandes novidades para o retalho, com enorme foco na tecnologia. E em março, temos o MWC em Barcelona e o South by Southwest no Texas.
A Inteligência Artificial será o foco em todas, mas não só. O que podemos então esperar do mercado tecnológico em 2025? E o que é que isso significará para os negócios? Eis o que analistas, consultoras e especialistas esperam para o ano que começa já na próxima semana.
Inteligência Artificial domina
A IA está no centro de todas as listas e previsões, desde a Gartner e Deloitte à IDC e futuristas. Em 2025, espera-se que os investimentos das organizações nestas tecnologias se tornem mais abrangentes e que apareçam novos tipos de empresas, consideradas nativas de IA (“AI-native”).
Na CES 2025, o foco estará nos novos chips que conseguirão processar modelos IA mais rapidamente que nunca. É expectável que todo o tipo de produtos, desde carros a eletrodomésticos, inclua alguma camada de inteligência; estamos a caminho da omnipresença da IA, algo que será concretizado quando o utilizador nem der conta que a está a usar.
No campo da IA generativa, a Deloitte prevê o surgimento de SML - pequenos modelos de linguagem - que poderão ser mais eficazes para os requisitos de cada empresa que os LLM - grandes modelos de linguagem.
A Gartner aponta para a era de agentes IA, que planeiam e executam ações sozinhos sob orientação programada dos utilizadores. Até 2028, diz a consultora, 15% das decisões quotidianas no trabalho serão tomadas por agentes IA.
Já a IDC antecipa uma viragem da experimentação para a reinvenção e monetização da IA, não só com base nos agentes IA mas também renovações nos dados, infraestrutura e nuvem. A consultora antecipa que os gastos das empresas em tecnologias para suportar IA vão ultrapassar 217 mil milhões de euros em 2025.
“No cenário em evolução da IA, o futuro depende da nossa capacidade não apenas de experimentar, mas de mudar de forma estratégica, transformando a experimentação em inovação sustentável”, notou o analista Rick Villars.
A consultora prevê ainda maior foco das empresas em descarbonizar a infraestrutura IA, tendo em conta os enormes aumentos de consumo energético que estas tecnologias e os necessários centros de dados estão a causar.
Robotáxis e robôs polifuncionais
Na ruas de Los Angeles já se veem carros autónomos da Waymo a transportarem passageiros sem condutores. Em São Francisco, a rival Zoox está a testar veículos pouco convencionais, que parecem saídos de um filme de ficção científica. Na China, foram emitidas 16 mil licenças para robotáxis em 20 cidades, com players como a AutoX e a Apollo Go. E projetos-piloto estão em curso da Noruega à França, com o Reino Unido a preparar a sua introdução após a aprovação do Autonomous Vehicles Act.
Este parece ser, de facto, o ano em que o muito demorado sonho dos robotáxis vai ser concretizado, chegando a consumidores de todo o mundo.
A outra área em que se espera um avanço decisivo é a dos robôs polifuncionais, como lhe chama a Gartner. Trata-se de máquinas que conseguem fazer mais que um tipo de tarefa e que irão substituir os robôs desenhados para executar uma tarefa específica repetidamente. A consultora diz que o retorno do investimento nestes robôs é mais rápido e prevê que 80% dos humanos terão contacto com eles diariamente em 2030.
Criptomoedas na mesa dos grandes
Com a entrada na Casa Branca de uma nova administração pró criptomoedas, os especialistas preveem novos recordes de valor e luz verde regulatória. Isto permitirá a integração de ativos cripto em portfólios de investimento tradicionais, derivados regulados e maior proteção dos consumidores, o que atrairá mais investidores.
Após a vitória de Donald Trump, a Bitcoin disparou e ultrapassou 100 mil dólares pela primeira vez, sendo que a Forbes prevê agora que a moeda ultrapassará meio milhão no próximo ano.
O milionário David Sacks será o “czar da IA e cripto” na administração Trump. Outros magnatas das moedas digitais, como o CEO da Ripple (moeda: XRP) Brad Garlinghouse, e o da Coinbase, Brian Armstrong, estão a assistir a uma valorização incrível das suas plataformas. A expectativa é de que as moedas digitais tenham crescimentos significativos em 2025 e a regulação seja mais clara e transnacional.
Computação Quântica acelera
A recente apresentação do chip quântico Willow pela Google deixou o segmento em alvoroço, pelo enorme salto em frente ao nível de desempenho. O Willow reduz de forma drástica o tempo que demora a executar tarefas complexas, com números tão astronómicos que um dos líderes da unidade na Google disse que torna possível a teoria dos universos paralelos.
Em 2025, a computação quântica ainda se vai manter nos estágios iniciais, mas deverá atrair mais atenção e investimento, com foco na resolução de problemas muito específicos - por exemplo, na aplicação em sistemas financeiros e investigação farmacêutica.
O que a Gartner adverte é que estes avanços vão levar ao fim de vários tipos de criptografia convencional. Será necessário desenvolver métodos que resistam no mundo da criptografia pós-quântica, explicou a Gartner. A consultora prevê que, até 2029, a maioria da criptografia convencional se tornará insegura e não poderá continuar a proteger os ativos sensíveis das empresas.
E que mais?
A Nvidia e a AMD vão anunciar novos e potentes chips para a era da inteligência omnipresente, as construtoras automóveis vão reforçar a aposta em carros elétricos e com tecnologia de ponta embebida (por exemplo, os hologramas nos pára-brisas da Hyundai), e mais empresas embarcarão na tecnologia sustentável, apesar (ou talvez por causa) do custo energético da IA.
A regulação da big tech, o que inclui salvaguardas para a IA e limites nas redes sociais, será uma área de foco com implicação nos negócios. Gigantes como a Meta e a Apple estão a lançar produtos IA nos Estados Unidos que ainda não chegaram à Europa por causa da lei de mercados digitais e do AI Act. Esta é uma situação que procurarão resolver em 2025.