As empresas em Portugal: estratégias para um ecossistema mais competitivo e resiliente

Publicado a

Considerando a atual conjuntura socioeconómica, promover um ecossistema de empreendedorismo eficiente e atrativo, que contribua para a competitividade e sustentabilidade económica do país, deve constituir-se, sem dúvida, como uma prioridade estratégica a nível governamental.

É de reconhecer que têm sido feitos alguns esforços nesse sentido, nomeadamente com a nova Lei das Startups e, mais recentemente, com algumas medidas apresentadas no âmbito do programa “Acelerar a Economia”, mas há ainda muito mais que pode e deve ser feito para mitigar as dificuldades e os desafios críticos que as empresas enfrentam, nomeadamente na sua fase inicial. Além disso, e por muito que a apresentação de medidas seja um excelente primeiro passo, é essencial garantir uma implementação eficaz das mesmas.

Atualmente, o governo impõe uma série de obrigações às empresas, o que torna o seu processo de gestão mais difícil, afetando principalmente as startups. Refiro-me, por exemplo, à obrigatoriedade de ter um contabilista qualificado e de pagar salário a um sócio-gerente, muitas vezes em estágios em que estas empresas ainda não estão a produzir lucro. É, por isso, importante reduzir a burocracia e simplificar estes processos, para que os negócios consigam dar os seus primeiros passos com menos custos (financeiros e logísticos).

Além disto, é fundamental a redução das taxas tributárias e dos custos inerentes à manutenção de uma empresa, garantindo a presença no mercado por mais tempo. Os encargos que uma empresa em Portugal tem de suportar são demasiado altos; não só sobre o lucro, mas também, por exemplo, para manter uma equipa de colaboradores a contrato. Ter um funcionário com um contrato de 1000 euros por mês pode custar à empresa mais de 1800 euros mensais, considerando subsídios, seguros e impostos. Isto faz com que as empresas, para garantirem a sua sobrevivência, contratem a valores mais baixos ou optem por outros modelos de trabalho, nomeadamente os mais precários.

Medidas que incentivem a produtividade e a obtenção de talento qualificado não podem também ser postas de parte. Em relação a este último ponto, de realçar a dificuldade em atrair talento de topo, considerando os salários oferecidos por empresas estrangeiras. Medidas no sentido de facilitar a contratação deste talento poderão proporcionar às empresas portuguesas um grande salto qualitativo. Já o baixo nível de produtividade do trabalho - que, em Portugal, é 28% inferior à média da Zona Euro - faz com que as empresas produzam menos riqueza, tornando o país menos atraente na procura por investimento estrangeiro. Programas que elevem a eficiência produtiva poderão possibilitar a criação de mais riqueza com menos recursos, tornando o mercado nacional mais competitivo.

Aumentar a competitividade do país pode, desta forma, colocá-lo numa melhor posição no cenário internacional, atraindo mais negócios estrangeiros para as empresas nacionais. Portugal tem ainda um número muito limitado de grandes empresas, principalmente comparado com outros países, sendo que boa parte destas empresas respondem a Espanha, limitando o poder de investimento no mercado português. Com um programa robusto de atração de grandes investimentos externos para Portugal, gerar-se-ia “novo dinheiro” na economia, possibilitando a criação de novas empresas e empregos, alargando o mercado nacional e gerando novas oportunidades de desenvolvimento económico.

Por fim, em Portugal, existe uma série de programas de financiamento disponíveis. É, no entanto, crucial garantir o acesso aos mesmos e que estes cheguem às empresas em tempo útil. Quando comparamos o nosso país com outros países mais avançados nesta área, existe ainda pouco capital de investimento para possibilitar que as startups escalem internacionalmente - e o capital que existe não está a chegar, de facto, aos empreendedores. Entre o anúncio da atribuição e a entrega efetiva do capital, passa-se tempo mais do que suficiente para colocar em causa a sobrevivência do negócio. Há casos em que as empresas são informadas de que vão receber determinado apoio e, passado um ano, ainda continuam à espera.

Tendo em conta as dificuldades associadas à criação e manutenção de uma empresa, é imperativo que o governo continue a desenvolver e a implementar medidas que se foquem na simplificação da gestão corporativa, na redução dos encargos tributários e operacionais, no acesso a financiamento, na atração de talento qualificado, na eficiência produtiva e na captação de grandes investimentos. Com uma abordagem estratégica e integrada, Portugal pode criar um ecossistema empresarial ainda mais dinâmico e resiliente, capaz de enfrentar os desafios atuais e futuros.

Fernando Jardim, presidente da 351 Associação Portuguesa de Startups

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt