Dura pouco menos de um mês, mas acima de duas semanas: na 42 Lisboa, a fase da piscine são 26 dias consecutivos - fins de semana e feriados inclusive - e intensivos de "aulas" presenciais, em que a escola convida os seus alunos a fazerem os seus horários e testa a sua capacidade de aprendizagem em equipa e por intercâmbio e autoavaliação entre colegas - peer-to-peer. É uma fase exigente, de grande empenho, descrevem, em que os estudantes entram logo nas bases da programação através de um método gamificado, que culmina num teste final. Um método de seleção eficaz que afasta logo cerca de um terço dos que entram em cada piscine, revela fonte da escola: aqueles que nitidamente não se adaptam ao modus faciendi da 42 Lisboa.
"São 26 dias, finais de semana inclusivamente", conta Sofia Cruz, engenheira civil desde 2005, que, aos 41 anos, resolveu mudar de área e considerou que, "pelo seu método de ensino", a 42 Lisboa era a escola que melhor se "enquadrava naquilo que estava à procura", como confessou ao Dinheiro Vivo. Mas, de seguida, esclareceu: "Não é obrigatório irmos à escola, mas eles incentivam a irmos todos os dias e a grande vantagem é exatamente estarmos perto dos colegas em vez de estarmos a aprender sozinhos, de uma forma autodidata." E já lá iremos, à explicação de que vantagem é esta.
Entretanto, ainda acerca da piscine, diz Artur Monteiro, de 22 anos, que após um curso profissional de Programação e Gestão de Sistemas Informáticos optou por continuar a sua formação na 42 Lisboa: "Foi um choque um bocado grande, não estava muito habituado a, por exemplo, não ter professores, não ter aqueles horários rigorosos, como se tem nas escolas. Mas foi um bom choque, porque é um método que apela mais ao convívio entre cada um e à partilha de conhecimento, tal como no mundo do trabalho."
E é esta partilha de conhecimento que Sofia Cruz também aprecia no método da 42 Lisboa. "Hoje em dia a informação está muito acessível e qualquer pessoa pode ir à internet à procura de qualquer coisa. A grande vantagem de nós aprendermos com os colegas é que, quando eu vou ao Google e vou ver um vídeo sobre um determinado assunto, se calhar preciso de ver uns dois ou três vídeos para chegar exatamente à informação que preciso; quando vou aprender com os colegas, a informação aparece mais direcionada para aquilo que efetivamente vou precisar." Além disso, sublinha a engenheira civil, os colegas explicam as coisas, mas o inverso também acontece. É esta a grande vantagem, na sua opinião, de estar presencialmente na escola. "Porque a avaliação na 42 é peer-to-peer, ou seja, como não existem professores, somos nós, os colegas que nos avaliamos uns aos outros e, então, nós temos de explicar aos colegas o que é que fizemos no nosso trabalho. E, ao fazermos isso, a informação fica muito mais consistente para nós e, por vezes, acaba por fazer o clique, aquele ah-ha moment."
Artur Monteiro, que está prestes a terminar a piscine, também considera que se aprende bem assim, mas acredita ser provável que se demore mais tempo a fazer o curso.
O que o jovem programador não sabe, é que os dados reunidos pela 42 Lisboa contradizem as suas suspeitas. A maioria dos alunos da escola termina o curso em três anos, e os restantes nos cinco anos convencionais de qualquer curso superior. E quase todos deixam a escola já com emprego garantido devido aos múltiplos contactos com a alargada rede de empresas e agentes no mercado nacional e internacional que vão fazendo ao longo do mesmo. Portanto, a duração do curso, na prática só depende do empenho e dedicação de cada estudante.
Até porque o curso tem um programa gamificado, ou seja, a progressão acontece pela obtenção de pontos, como se fosse um jogo. Com os pontos sobe-se de nível e desbloqueiam-se novos projetos e caminhos de aprendizagem. O nível de cada aluno define quanto já avançou no programa, pelo que quantos mais pontos ganhar, mais longe chegará.
Algo que não parece faltar ao próprio Artur Monteiro. Na 42 Lisboa, "penso que é preciso ter uma certa disciplina para dedicar o tempo que temos dedicar a este curso, em que eles sugerem um horário de dez a 12 horas por dia. Mas acho que quando estamos realmente a programar e a mexer no computador, depois vem também o gosto por trás, o que faz com que não tenhamos tanto a intenção de parar ou fazer menos horas", diz.
Contando como é o horário que estipulou para si próprio, Artur diz que tirou três semanas de férias para a piscine, chega à escola por volta das 08.30 e passa lá dez a 12 horas por dia. "Mas temos sempre a parte do convívio, temos muito que fazer aqui, nas mesas de pingue-pongue e outras atividades, o convívio em si mesmo, para não estar sempre a ser muito secante."
À despedida, Sofia Cruz deixa um conselho a possíveis interessados: "A piscine é uma experiência muito intensa e coloca-nos à prova de uma forma que nós também somos colocados no nosso dia a dia no mundo profissional. Não se assustem, acaba por ser um teste, a "piscina", mas é vale a pena".