Afinal as ofertas da recém-chegada Digi e os novos serviços da Nowo só deverão surgir no mercado português em 2023, de acordo com uma nota de research do CaixaBank/BPI publicada esta terça-feira, à qual o Dinheiro Vivo teve acesso. Com o leilão do 5G concluído há quase um ano, as ofertas destas empresas eram aguardadas para a segunda metade de 2022, mas a concretização dos planos destes operadores ter-se-á atrasado, o que no curto prazo poderá beneficiar os operadores históricos (Altice, NOS e Vodafone)..As telecom Digi e Nowo adquiriram espetro em Portugal, pela primeira vez, no sequência do último leilão de frequências para o desenvolvimento do 5G no país. Embora a Nowo já operasse em Portugal, a par da Digi, a empresa foi considerada um "novo entrante" no mercado pela Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), visto que as ofertas comerciais estão alicerçadas em rede de terceiros (neste caso da Altice) e não em rede própria, e porque a empresa foi integrada no grupo MásMóvil que ainda não tem uma atividade direta no mercado nacional..Ora, de acordo com os analistas do CaixaBank/BPI, "pouco se ouviu sobre a Nowo e a Digi", após o leilão do 5G. Aliás, por estes dias, apenas se sabe que a romena Digi (cuja operação lusa será um prolongamento da operação espanhola) está a recrutar para lançar a operação portuguesa. A perspetiva era que as primeiras propostas comerciais fossem lançadas no segundo semestre do ano, mas até ao momento apenas se sabe que os clientes móveis irão utilizar números iniciados em '92'..Quanto à Nowo, os analistas tomam nota da incerteza sobre o futuro da operação. "A Nowo vem perdendo participação de mercado", lê-se. Os últimos dados da Anacom indicam que só nas ofertas em pacote, em termos homólogos, a Nowo perdeu quota na primeira metade deste ano (menos 0,3 pontos percentuais na quota de subscritores e menos 0,2 pontos percentuais na quota de receitas de serviços)..À perda de terreno no mercado nacional, os analistas do CaixaBank/BPI somam a incerteza quanto à casa-mãe (a MásMóvil), lembrando que o grupo estará mais focado na joint-venture (com a Orange) para o mercado espanhol. Isto, tendo em conta que a entrada da Digi terá baralhado os planos da MásMóvil para a Nowo e para o mercado português. Em junho, o espanhol Cinco Días dava conta que já havia interessados na compra total ou parcial da Nowo, prevendo-se dois caminhos possíveis: ou a MásMóvil encontrava um parceiro para "atacar" o mercado luso ou poderia sair..Aquando da conclusão do leilão do 5G (outubro de 2021), a Nowo fez saber que tinha encomendado à sueca Ericsson a implementação de um núcleo 5G na futura rede móvel própria, prevendo o desenvolvimento de mil estações base 5G, numa primeira fase. Esse plano avançaria em paralelo com a estratégia de crescimento da rede de fibra ótica. Até hoje, contudo, não se sabe em que pé estarão esses planos da Nowo..Facto é que "os novos entrantes estão atrasados", de acordo com os analistas da CaixaBank/BPI. "Tendo esperado o lançamento [dos serviços] em meados de 2022, agora esperamos que seja em 2023", afirmam..A polémica Dense Air é outro "novo entrante" no mercado de telecomunicações português, mas sobre esta empresa os analistas do CaixaBank/BPI não tecem considerações. Provavelmente, porque a atividade da Dense Air é grossista e não junto dos consumidores. Ainda assim, ao dia de hoje, também não são conhecidos os planos da referida empresa..Apesar de considerarem haver um atraso por parte dos novos players, os analistas reiteram que as ofertam destes comportam um "risco" para o setor telco nacional.."Devido às características estruturais do mercado português, o nosso cenário base é que os novos entrantes representem uma perturbação limitada ao mercado", lê-se. A estimativa do Caixabank/BPI é que os novos operadores conseguiram ocupar uma quota de mercado global de 6,5% até 2026..Qual será o efeito disso? Uma "redução do crescimento da receita no consumidor". Esta perspetiva incide apenas sobre a NOS, visto que das três principais telecom é a única cotada no mercado de capitais em Portugal. Não obstante, o efeito também deverá fazer-se sentir com a Vodafone e a Altice..Pelas contas dos analistas, a taxa de crescimento das receitas da NOS deverá rondar os 0,5% para o período 2021-2026..Enquanto as ofertas dos "novos entrantes" não surgem, a expectativa é que isso beneficie os operadores históricos. No caso da NOS, que "nos últimos trimestres apresentou receitas a crescer entre 1,5% e 2,5% em termos homólogos, a cada trimestre, com margens EBITDA estáveis", o cenário é de "resultados [financeiros] sólidos"..Por isso, os analistas do CaixaBank/BPI subiram assim o preço-alvo de cada título da NOS de 3,8 euros para 4 euros por ação, apontando para um potencial de valorização em bolsa de 11,73%, face à última cotação de fecho (3,528 euros).."Atualizamos ligeiramente as nossas estimativas de 2022 e 2023 para refletir os resultados trimestrais sólidos recentes [da NOS] e o atraso nos serviços dos novos entrantes. No entanto, ainda acreditamos que os novos concorrentes representam um risco de longo prazo e isso continua a ser a principal preocupação", lê-se..Desta forma, a recomendação da casa de investimento sobre a NOS foi revista, elevando a classificação dos títulos da telecom de "underperform" para "neutral"..A mesma nota de research aponta ainda que subsiste a hipótese da NOS vir a vender parte da rede de fibra ótica, o que poderia ser "um catalisador de médio prazo" para os resultados financeiros da empresa.."Depois dos rumores de mercado apontarem nessa direção, acreditamos que a empresa está finalmente a encarar a ideia de vender uma participação da sua rede", lê-se..Os analistas estimam que em cima da mesa poderá estar a venda de 49,99% da estrutura de rede de fibra ótica deste operador, algo que poderia gerar um encaixe de 900 milhões de euros para NOS. A concretizar-se, a telecom poderia "eliminar completamente a sua dívida e elevar o preço das ações para 4,4 euros".