
As taxas de juro de referência da Zona Euro, definidas pelo Banco Central Europeu (BCE), devem descer mais cinco ou seis vezes a um ritmo de 0,25 pontos percentuais em cada uma das futuras reuniões de política monetária, podendo estabilizar em 2% ou até ligeiramente abaixo no verão de 2025, antecipam vários analistas.
Hoje, quinta-feira, a presidente do BCE, Christine Lagarde, deve anunciar um novo corte na taxa de depósito (a referência principal) em 0,25 pontos percentuais, para 3%, naquela que será a quarta descida desde que o custo do dinheiro atingiu um recorde de 4% em setembro do ano passado no contexto do combate à inflação muito elevada.
Agora, com a inflação a dar sinais consistentes de recuo em toda a linha e com problemas crescentes na atividade (investimento, consumo) em várias economias do euro, designadamente nas maiores (Alemanha, França e Itália), o BCE tem mais certezas de que o caminho é a descer, até para animar o mercado de crédito que sofreu retrações assinaláveis por causa dos juros muito elevados do passado recente.
Segundo fez saber Lagarde, na reunião de outubro, a informação indicava "que o processo desinflacionista está bem encaminhado", que "as perspetivas de inflação estão a ser afetadas por recentes surpresas em baixa dos indicadores da atividade económica", ao passo que "as condições de financiamento permanecem restritivas".
Até julho de 2025, contando com a reunião desta quinta-feira (12 de dezembro de 2024), o conselho do BCE irá reunir seis vezes para decidir sobre política monetária (taxas de juro e outros instrumentos).
De acordo com a agenda oficial da instituição sediada em Frankfurt, os encontros acontecem a 12 de dezembro (hoje), 30 de janeiro de 2025, 6 de março, 17 de abril, 5 de junho e 24 de julho. Na reta final do verão, haverá ainda um conselho de política monetária a 11 de setembro.
A Alemanha, a maior economia e motor da Zona Euro, entrou em recessão e o melhor prognóstico agora é poder ficar estagnada em 2025, havendo imensas empresas de peso (veja-se o caso agudo de gigantes industriais, como a Volkswagen, dona da portuguesa Autoeuropa) a acusarem dificuldades severas na produção e nas suas exportações, isto num ambiente cada vez mais hostil no comércio internacional, exacerbado pelas promessas pouco amigáveis de Donald Trump, o Presidente-eleito dos Estados Unidos, que toma posse em janeiro.
Entretanto, o governo alemão de coligação colapsou e foram agendadas eleições antecipadas em fevereiro.
Em França, o caos político instalou-se, novamente. O governo de Michel Barnier, apadrinhado pelo Presidente da República Emmanuel Macron, caiu quando tentou aprovar o novo Orçamento do Estado para 2025. O segundo maior país da Europa tem um défice público que ultrapassa já os 6% do Produto Interno Bruto (PIB) e uma dívida a subir, que nesta altura já supera 110% do PIB. Tudo uma violação clara do Pacto de Estabilidade europeu, que exige défice máximo de 3% e dívida de 60%.
"Prevemos que o BCE corte taxas de juro mais rapidamente do que esperávamos anteriormente devido aos níveis de confiança persistentemente fracos e à melhor visibilidade da trajetória de desinflação", considera Sylvain Broyer, o economista-chefe da agência de ratings Standard & Poor's (S&P) para a região da Europa.
"Dito isto, não esperamos que a extensão dos cortes nas taxas exceda a nossa previsão anterior", ou seja, "projetamos agora que a taxa diretora principal [taxa de depósito] atinja 2,5% antes do verão de 2025 (maio, talvez)", quando previamente "prevíamos que esse nível fosse alcançado em setembro".
Segundo o mesmo economista da S&P, "prevemos um crescimento do PIB da Zona Euro de 0,8% em 2024 e de 1,2% em 2025, com Alemanha a ficar atrás dos seus pares e Espanha a apresentar um desempenho superior".
No entanto, "com a queda mais pronunciada dos preços da energia, esperamos que a inflação seja ligeiramente inferior em 2024 do que tínhamos previsto (2,4% versus 2,5% anteriormente)", sendo certo que "o longo período de previsões macroeconómicas muito estáveis está a chegar ao fim, à medida que os novos líderes nos EUA, na União Europeia e na Alemanha possam tomar decisões no início do próximo ano sobre tarifas comerciais, Defesa e despesas orçamentais gerais que podem remodelar as perspetivas económicas", acrescenta Broyer.
Para o departamento de estudos de um dos maiores bancos do mundo, o Goldman Sachs, o cenário é similar.
"Tendo em conta o crescimento abaixo da tendência e a inflação globalmente dentro do objetivo, a nossa base de referência continua a ser a de que o conselho do BCE reduzirá as taxas de juro em passos sequenciais de 25 pontos base [0,25 pontos percentuais] até chegar a 1,75% em julho, o que fica ligeiramente abaixo do nosso intervalo de 2%-2,5% para a taxa de juro neutral", indicam os economistas Sven Stehn e Alexandre Stott numa nota enviada aos clientes do Goldman.
Posto isto, o mesmo banco considera até que "a nossa trajetória de referência está orientada para taxas mais baixas, dados os riscos negativos para o crescimento [da Zona Euro]".