Tive recentemente oportunidade de visitar uma empresa familiar na área industrial que é um exemplo claro de aposta na inovação e qualidade como fatores estratégicos para a criação de valor para o futuro. Uma empresa localizada em plena área metropolitana do Porto, muito ligada à dinâmica industrial desta importante região do país e que as novas gerações agarraram em termos de gestão com uma visão muito prática e centrada na valorização das variáveis centrais para o sucesso - aposta nas pessoas, qualidade de serviço, dinamização de redes de parceria e focalização no investimento inteligente - em particular o estrangeiro - como driver de inovação competitiva. Um exemplo claro de que as empresas familiares podem e devem ser um bom exemplo do modelo de gestão para o futuro que temos pela frente.
As empresas familiares - de que temos inúmeros exemplos no nosso país - têm sido objeto de profunda análise e discussão nos últimos tempos, em múltiplas dimensões, com particular destaque para o tema sempre muito polémico da separação entre o capital e a gestão e a necessidade de saber profissionalizar a condução dos negócios e desta forma assegurar a sua continuidade com sucesso, num contexto global cada vez mais competitivo e exigente. Esse é um tema importante - que tem como base a situação de muitas empresas sobretudo de média dimensão de diferentes setores um pouco por todo o país - mas que não deve esconder a verdadeira realidade que se prende com o imperativo de saber ter uma visão estratégica e de valorizar os recursos disponíveis da melhor forma possível. A empresa que visitei é um bom exemplo desta aposta que se pretende clara.
Os rankings internacionais na área da avaliação da qualidade de gestão continuam a colocar o nosso país num patamar ainda muito baixo e é consensual que em muitas organizações se impõe um verdadeiro choque de gestão, focado numa melhor atenção para com a cadeia de valor dos negócios e para uma mobilização estratégica das equipas de trabalho e dos parceiros para um verdadeiro contrato estratégico voltado para o futuro. Tem sido esta a mensagem de muitos especialistas nesta área e as próprias Business Schools se têm orientado em matéria da sua carteira de formação para este tópico. Importa contudo destacar que a nível de novas gerações - e esta empresa que referimos é um belíssimo exemplo - temos assistido a cada vez mais exemplos de qualificação dos próprios membros da família detentora do capital da empresa para uma resposta mais adequada aos desafios exigentes que o mundo dos negócios hoje suscitam.
As empresas familiares têm e continuarão a ter um papel importante na nossa economia. Porque representam um histórico de afirmação competitiva de saber fazer em várias áreas e fileiras, porque têm um papel central na promoção de emprego e riqueza um pouco por todo o país e porque são em muitos casos a base da estratégia de presença nos mercados internacionais da nossa economia. Nesse sentido a aposta numa gestão estratégica inteligente e na mobilização das novas gerações - em articulação naturalmente com as mais velhas - para um verdadeiro contrato de confiança assente na criação e sustentação de um verdadeiro valor partilhado será sem dúvida um grande desígnio para os próximos tempos.
Jaime Quesado, economista, gestor e especialista em Inovacão e Competitividade.