"A minha idoneidade não está em causa"

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A pouco menos de uma semana de assumir a presidência executiva do

Banif, Jorge Tomé vê-se confrontado, juntamente com outros gestores

e empresas da Caixa, com a acusação de burla tributária relativa à

fusão da Sumol com a Compal. Com o envolvimento neste processo

levantou-se a questão se poderia estar condicionada a sua nomeação

para a liderança do Banif, mas é o próprio Jorge Tomé a descartar

essa hipótese. "A minha idoneidade e ida para o Banif não

estão em causa", afirmou o gestor em declarações ao Dinheiro

Vivo.

Quatro gestores da Caixa, a sociedade de advogados PLMJ e mais

três empresas (duas delas do grupo CGD) foram acusados pelo

Departamento de Investigação e Ação Penal de Évora de crime de

burla tributária. Em causa está o processo de fusão, em 2008, da

Sumol e da Compal, que teve por detrás um esquema de engenharia

jurídica para fugir ao IMT (imposto municipal sobre as transmissões

onerosas de imóveis) e ao imposto de selo, no total de 1,5 milhões

de euros.

O antigo gestor da Caixa salientou que "os pareceres de

fiscalistas são unânimes em dizer que "não há nenhuma

irregularidade". Jorge Tomé reiterou que "nem a Caixa BI

nem eu próprio estivemos diretamente envolvidos nessa operação".

E considera: "isto é um não-caso".

Questionado sobre se já tinha sido chamado pelo Banco de

Portugal, Jorge Tomé disse que não e referiu: "A única coisa

que o regulador tem de avaliar é a minha idoneidade para exercer o

cargo, e parece-me que isso não está em causa."

O Dinheiro Vivo contactou o Banco de Portugal para saber se

acusação poderia por em causa a nomeação de Jorge Tomé para o

Banif ou mesmo a idoneidade para exercer o cargo de CEO, mas fonte

oficial do banco central não quis fazer comentários. No entanto, o

Dinheiro Vivo sabe que o regulador está a avaliar a situação.

No dia 22 de março, o Banif vai nomear, na assembleia geral de

acionistas, a nova equipa executiva liderada por Jorge Tomé e, no

total, composta por sete elementos.

Os desafios do banco

Jorge Tomé tem uma tarefa quase hercúlea no Banif: satisfazer as

necessidades de capital do banco, limpar o balanço, cumprir metas de

rácios nacionais e internacionais e trazer de novo a confiança aos

investidores que assistiram, no ano passado, a uma desvalorização

de 61% de ações e este ano já acumulam uma perda de 8% em bolsa.

Isto tudo enquanto paira no ar a possibilidade de recurso à linha do

Estado, numa altura de retração económica e em que os prejuízos

varreram os resultados da maioria do sector.

Quando a nova gestão, o cenário financeiro e económico pareciam

ser já desafiantes o suficiente para o banco, a guerra de partilhas

da herança de Horácio Roque, fundador do Banif, que morreu em maio

de 2010, veio desestabilizar ainda mais. A guerra entre herdeiras

está a provocar um verdadeiro braço de ferro entre as acionistas,

uma situação que parece estar longe de ter um fim à vista, já que

Fátima Roque, ex-mulher de Horácio Roque, e as duas filhas não se

entendem quanto à participação no banco, nem quanto à própria

gestão do Banif.

A nível financeiro, até junho o banco tem de ter 9% de rácio de

capitais de base (core tier 1) da Autoridade Bancária Europeia (EBA)

e 10% do Banco de Portugal até dezembro. Isto quando ainda não é

conhecido o valor do core tier 1 no final de 2011, uma vez que ainda

não foram divulgados os resultados anuais.

Do mesmo modo não são conhecidas as verdadeiras necessidades de

capital do banco. No final do ano passado, o até então presidente

do banco, Joaquim Marques dos Santos, admitiu que o banco necessitava

de cerca de 300 milhões de euros e iria recorrer à linha de

recapitalização. No entanto, mais tarde veio afastar essa hipótese.

Em dezembro, o Banif aumentou o seu capital, de 566 milhões, para

780 milhões de euros, tendo este sido integralmente subscrito pela

Banif Comercial SGPS. Na altura, o banco garantia que iria ficar com

um core tier 1 próximo de 10%.

As inspeções da troika revelaram que o Banif necessita de

registar imparidades adicionais de 90 milhões de euros. Os trabalhos

internos, aliados ao contexto internacional, mostram quão desafiante

será para Jorge Tomé assumir os destinos do Banif.

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