Alta velocidade custa 1100 euros a cada espanhol. Vale a pena o investimento?

Espanha conta com a segunda maior rede de alta velocidade de todo o mundo, com 3240 quilómetros
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Passaram esta semana 25 anos desde a primeira viagem do comboio de alta velocidade (AVE) em Espanha, entre as estações de Atocha (Madrid) e Santa Justa (Sevilha). Só que o investimento neste tipo de comboios continua a ser discutido ao fim de tanto tempo. O gasto público foi de 51,175 mil milhões de euros; cada espanhol paga, em média, mais de 1100 euros. Será que vale a pena colocar tanto dinheiro no projeto do comboio de alta velocidade em Espanha? As opiniões dividem-se entre Governo e economistas.

"Sem dúvida. É difícil imaginar como seria hoje o transporte ferroviário em Espanha se não tivesse existido uma aposta do país na alta velocidade. Custa pensar que a viagem entre Madrid e Sevilha continuaria a demorar seis horas", responde o ministro do Fomento, Íñigo de la Serna, em declarações ao jornal El Mundo.

O economista Ginés de Rus, da Universidade de Las Palmas, contrapõe. "Todas as ligações em Espanha são deficitárias e todas as evidências disponíveis mostram que em nenhum caso alcançaremos o limiar da rentabilidade social. São necessários volumes de procura muito superiores aos atuais para justificar este investimento". O ministro do Fomento diz que o AVE deu lucro em 2016.

Espanha conta com a segunda maior rede de alta velocidade de todo o mundo, com 3240 quilómetros. Apenas a China tem mais quilómetros preparados para receber estes comboios. 20,3 milhões de passageiros usaram o AVE em 2016, mais 87% do que em 2010. Isto foi possível graças à construção de ligações de Madrid para cidades como Valência, Albacete, Alicante, León e Zamora.

A taxa de ocupação é atualmente de 82%, graças às alterações de preços promovidas em 2013 pela então ministra do Fomento, Ana Pastor. A ideia passa por tentar rentabilizar ao máximo esta rede ferroviária.

Só que o Tribunal de Contas de Espanha tem dado conta de várias derrapagens na construção das linhas. Na última semana, por exemplo, foi dado conta um desvio de 600 milhões de euros na ligação entre Barcelona e França. Além disso, ter-se-á registado registo o pagamento injustificado de 133 milhões de euros à gestora de infraestruturas ferroviária espanhola (Adif) na construção da estação de La Sagrera. 14 funcionários foram detidos na sequência deste caso.

A Adif tem planos para construir mais de 2 mil quilómetros de linhas para o AVE, o que deverá corresponder a um custo de cerca de 12 mil milhões de euros. Isto deverá reforçar as dívidas desta entidade, que se situavam em 15,9 mil milhões de euros em 2015. Os juros da dívida anuais são de 423 milhões de euros, que praticamente consomem os 513 milhões de euros de receitas obtidos anualmente.

Futuro

2020 será um ano marcante para a alta velocidade em Espanha. Por um lado, a liberalização permitirá a entrada de operadores estrangeiros nas linhas de Espanha e acabará com o monopólio da Renfe - equivalente à CP em Portugal. As tarifas deverão baixar de preço e as linhas terão maior aproveitamento. Além disso, serão introduzidos maiores comboios, com capacidade para transportar mais passageiros.

O El Mundo recorda também as declarações da anterior ministra do Fomento, Ana Pastor. "Temos de fazer com que qualquer espanhol mora a menos de 30 quilómetros de uma estação de comboios de alta velocidade". Mas para o economista Ginés de Rus "isso não é viável nem razoável. Se as linhas anteriores não eram socialmente rentáveis, como explicamos agora a outras províncias ou regiões que eles não terão o AVE por causa da sua falta de rentabilidade", questiona.

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