As 750 principais empresas familiares espalhadas pelo Globo

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O conjunto das principais empresas familiares do mundo, em 2020, obteve um volume de receitas de $10,4 biliões (10,4 biliões de dólares), empregou 33,7 milhões de pessoas e incluía quatro empresas portuguesas que representaram $50,2 mil milhões de faturação dando trabalho a cerca de 195 mil pessoas.

A Family Capital (editora online dedicada ao setor global das empresas familiares), com o apoio da PwC, compilou o ranking baseado nas receitas das 750 principais empresas familiares do globo, através de uma extensa pesquisa de fontes publicamente disponíveis.

A metodologia adotada considerou apenas empresas com 22 anos ou mais (o ano 2000 foi o limite máximo), tendo em consideração que um prazo de 20 anos corresponde, em média, a um nível de transição do controlo de primeira geração para, pelo menos, alguma participação da próxima geração dos proprietários familiares.

Alguns tratamentos aos dados disponibilizados permitem identificar e analisar diversas características interessantes sobre este agregado global de empresas familiares.

A génese e o controlo do capital
A grande maioria destes negócios familiares foi fundada no século XX (82,3%), no entanto, o mais antigo remonta ao séc. XIV (sociedade belga dedicada ao setor das bebidas) e nos séculos XVII e XVIII encontram-se as géneses de 3 e 8, respetivamente, destas sociedades, grupo onde surge em 11.º lugar a primeira empresa portuguesa que tem as suas origens em 1792: Jerónimo Martins.

Para se qualificar para o ranking, a família ou grupo de famílias tem de controlar pelo menos 50% das ações de voto numa sociedade privada, o que é o caso 346 delas, e pelo menos 30% dos direitos de voto nas de capital aberto, o que se verifica nas 404 sociedades que estão cotadas em bolsa.

Estes valores mostram a disponibilidade e a capacidade das famílias empresárias® para abertura do capital social, sem perder o controlo dos negócios.

No conjunto, em 2020, as 750 empresas familiares alcançaram um volume de receitas superior a $10,4 biliões, empregando 33,7 milhões de pessoas.


Nesse mesmo ano, as três maiores empresas americanas de tecnologia - Amazon, Apple e Microsoft - totalizaram $665 mil milhões (MM) ($280MM, $260MM e $125MM, respetivamente), com um acumulado de empregados de 1,1 milhões (798.000, 137.000, 44.000, respetivamente). Em termos comparativos, a faturação por empregado nestas empresas tecnológicas é de cerca do dobro da constatada no grupo das empresas familiares ($616,3 mil e $308,6 mil, respetivamente).

A Europa domina
A Europa é região do globo onde predominam 39,7% destas sociedades familiares, seguindo-se a América do Norte e a Ásia Pacífico com 24,9% cada. Esta dispersão é compreensível e justificável com a evolução histórica das origens, aberturas e movimentações demográficas e económicas das regiões. No futuro e com dados de mais períodos, será interessante analisar a evolução e preponderância destas regiões.

Se o critério para esta agregação geográfica for o volume de receitas das empresas, a variação não se mostra significativa (Europa com 41,6%).

Na componente do trabalho, a Europa representa 36,9% dos empregados (menos que a quota natural do nº de empresas), em detrimento dos acréscimos na Ásia Pacífico (+2%) e na América Latina (+2,7%), indiciando um maior recurso à mão de obra nestas regiões, e justificando-se o valor agregado mais elevado com o contributo do Levante e Oriente Médio (+0,5% em cada).

Portugal destaca-se com quatro Grupos Familiares
Portugal surge representado na lista destas 750 empresas familiares por quatro grupos - Jerónimo Martins, Galp, Mota-Engil e Sonae -, controlados, respetivamente, pelas famílias empresárias® Soares dos Santos, Amorim, Mota e Azevedo. As quatro sociedades encontram-se cotadas na bolsa de valores Euronext Lisbon, sendo que em três delas as famílias referenciadas possuem posições no capital superiores a 55%.

A análise da ordenação suportada na faturação das empresas apresenta a Jerónimo Martins na 105.ª posição, secundada pela Galp, em 116.ª, e com um valor que supera em mais do dobro o acumulado pelas 3.ª e 4.ª posições nacionais da Sonae e Mota-Engil.

A retalhista liderada pela família Soares dos Santos, com os quase 109 mil empregados, dá trabalho a mais pessoas que o conjunto dos outros três grupos portugueses (86 mil).

Os setores de atividade
Dos 65 setores a que se dedicam os grupos familiares, três - conglomerados industriais, produtos alimentares e distribuição de alimentos - agregam um quarto das sociedades e os 10 mais representativos incluem 51% das empresas.

A perspetiva das receitas reflete uma maior concentração: 6 setores acumulam 50,7% do seu valor (a análise detalhada salienta que 81% das receitas são obtidas com 29% dos setores), coincidindo os três primeiros com os mesmos da lista que reúne o maior nº de empresas e representando mais de um terço das vendas.

Síntese
Os grupos familiares desenvolvem as suas atividades e estão dispersos por todo o globo, assumindo enorme relevância no desenvolvimento económico (atividades desenvolvidas) e social (emprego) global: em todas as aldeias, vilas, cidades e países onde exercem a sua atividade, adquirem e vendem produtos.

Assegurar que possuam boas práticas de gestão, de sustentabilidade e que as famílias empresárias® que os controlam saibam ser boas acionistas e procurem a sua perenidade, são contributos essenciais para incrementar os níveis de bem-estar das sociedades onde se encontram inseridas estas fantásticas empresas familiares.

António Nogueira da Costa, CEO da efconsulting® e docente do IPMAIA

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