Pai rico, filho nobre, neto pobre diz o ditado popular. E os especialistas parecem concordar, ao defender que praticamente todas as vantagens - ou desvantagens - que advêm dos nossos antepassados desaparecem em três gerações. Mas Guglielmo Barone e Sauro Mocetti, economistas do Banco de Itália, vieram agora argumentar que não é bem assim..Na verdade, defendem, as famílias mais ricas de Florença são, 600 anos depois, as mesmas. Os dois estudiosos acreditam que estes resultados podem ser extrapolados para outros países europeus..No trabalho, intitulado "Qual é o seu apelido? A mobilidade intergeracional nos últimos seis séculos", os dois economistas analisaram os dados dos contribuintes de Florença em 1427 e compararam-nos com os de 2011. “Os contribuintes que estão, atualmente, nos escalões de topo já estavam no topo da escada socioeconómica há seis séculos. Eram advogados ou membros das guildas [nome dado na Idade Média às associações] dos sapateiros, da lã ou da seda. Tiveram sempre rendimentos e riqueza acima da média”, referem Barone e Mocetti. E destacam: “Em contraste, os sobrenomes mais pobres tinham ocupações menos prestigiadas, e os seus rendimentos e riqueza ficaram abaixo da média na maioria dos casos”. Em causa estão, maioritariamente, operários têxteis e, curiosamente, médicos..No estudo, os economistas italianos mantiveram a confidencialidade dos sobrenomes em causa. Mas sempre vão explicando que ser descendente da família Bernardi (que estava no percentil 90 da distribuição de rendimentos em 1427), em vez de pertencer à família Grasso (que estava no percentil 10), implicaria um aumento de 5% nos rendimentos atuais. A elasticidade da riqueza intergeracional é significativa e “a magnitude do seu efeito implícito é ainda maior”, dizem, ma medida em que o mesmo exercício do percentil 10 e do percentil 90 implica hoje uma diferença superior a 10%. “Encontramos algumas evidências da existência de um ‘piso de vidro’ que protege os descendentes da classe superior de caírem pela escada económica”, defendem Barone e Mocetti..O tema não é exclusivo de Itália e tem mesmo gerado interesse em outros estudiosos no mundo. Gregory Clark, da Universidade da Califórnia, e Neil Cummins da London School of Economics, dedicaram-se a analisar a ligação entre o estatuto educacional das famílias inglesas e os seus sobrenomes entre 1170 e 2012 e chegaram à conclusão que essa correlação se mantém inalterada ao longo dos séculos. “A mobilidade social na Inglaterra é pouco maior do que nos tempos pré-industriais”..Na verdade, concluem estes investigadores, “todas as mudanças sociais e económicas que tomamos por garantidas não fizeram a mais pequena diferença na correlação entre os sobrenomes mais sonantes e instruídos das sociedades e o status social. “O mais notável é a falta de qualquer sinal de declínio na persistência de status ao longo das principais mudanças institucionais, como a Revolução Industrial no séc. XVIII, a disseminação da escolarização universal no final do séc. XIX, ou a ascensão do estado social-democrata no séc. XX “, sublinham..O estudo de Gregory Clark e Neil Cummins não se restringiu a analisar a realidade inglesa, mas também a sueca, a americana, a japonesa, coreana, chilena e até a chinesa. E o mais curioso é que concluem que a mobilidade social na China comunista, incluindo nos anos de Mao Tse Tung, é muito similar à da Inglaterra e dos restantes países. Ou seja, a culpa da manutenção das mesmas elites no topo de cadeia social não é do capitalismo..Self-made men na lista dos mais ricos em Portugal.Em Portugal, a lista dos mais ricos é liderada, desde 2008 e com um ou outro ano de intervalo, por Américo Amorim, o fundador da Corticeira Amorim. Até aí, Belmiro de Azevedo fora o homem mais rico do país, mas acabou por perder o lugar e chegou mesmo a cair para a quarta posição do ranking. Recuperou, mas não muito. Nos últimos dois anos tem estado em terceiro lugar..O segundo posto no top dos mais ricos tem sido ocupado por Alexandre Soares dos Santos que, em 2008, não passava do nono lugar. Mas que chegou a liderar o ranking dos mais ricos em 2012. Nomes de empresários conhecidos pelo seu trajeto como self-made men - em especial nos casos de Américo Amorim e de Belmiro de Azevedo, já que a génese da fortuna de Alexandre Soares dos Santos remonta à atividade mercantil do seu avô, Francisco Manuel dos Santos - e que, de algum modo, contrariam a teoria dos economistas Guglielmo Barone e Sauro Mocetti..Mas também há várias famílias antigas e poderosas na lista dos mais ricos de Portugal. Os Espírito Santo só em 2014 é que deixaram de constar no top, em resultado do descalabro do universo BES. Os Guimarães de Mello, cuja fortuna remonta ao final do séc. XIX, dominam empresas como a Brisa ou a José de Mello Saúde; e os Alves Ribeiro, cujos negócios nasceram em 1931 pela mão de Artur Fernandes Alves Ribeiro, e hoje fazem dinheiro na construção e no imobiliário.