Silvio Berlusconi anunciou que se irá afastar da linha da frente da política italiana. Na sua primeira entrevista desde que abandonou a liderança do governo italiano, em novembro, Berlusconi disse ao jornal britânico Financial Times, il Cavaliére esclareceu que não tem intenção de se voltar a candidatar a primeiro-ministro de Itália.
Além do abandono do governo, Berlusconi adianta que também se afastou do seu partido, mas garante manterá a sua influência enquanto "pai fundador" do Povo da Liberdade. Apesar de reconhecer que, aos 75 anos, já não tem idade para concorrer a primeiro-ministro, o milionário italiano não se afasta totalmente da política, não pondo de parte uma candidatura a deputado.
Sobre a sua saída, Berlusconi fala em "sentido de responsabilidade". "Apesar de ter maiorias nas duas câmaras do parlamento, afastei-me com elegância", considera, explicando que abandonou o cargo porque "por uma obsessiva campanha dos media nacionais e estrangeiros" que o culparam "pessoalmente e ao governo pelos elevados juros das obrigações italianas e pela crise dos mercados financeiros".
"Depois de avaliar as causas da crise, que não residem em Itália, mas sim na Europa e no euro, acreditei que se tivesse ficado no governo teria prejudicado a Itália, porque teriam havido mais campanhas terríveis nos media", acrescentou ainda o antigo primeiro-ministro.
Para a sua sucessão à frente do partido que fundou, Berlusconi reitera o apoio a Angelino Alfano, de 41 anos, ex-ministro da Justiça e secretário do partido. O ex-chefe do governo liderou o Povo da Liberdade durante 18 anos, durante os quais venceu três eleições, desde 1994, tornando-se o primeiro-ministro italiano que mais tempo ocupou o cargo após a Segunda Guerra Mundial.
Silvio Berlusconi renovou também o seu apoio ao governo tecnocrata de Mario Monti e, apesar de não se voltar a recandidatar, recorda que tem melhores resultados nas sondagens que Nicolas Sarkozy, em França, e Angela Merkel, na Alemanha. "Ainda tenho um forte apoio popular, quase o dobro dos meus colegas Merkel e Sarkozy", nota."Nas sondagens de opinião tenho 36% de apoio. Quando ano na rua faço parar o trânsito. Sou um perigo público e não posso andar às compras", acrescenta ainda Berlusconi.
O antigo governante disse ainda ao Financial Times que ter esperança "que este governo, que pela primeira vez é apoiado por todo o parlamento, tenha a hipótese de propor grandes reformas estruturais, começando para arquitetura institucional do Estado, sem a qual não podemos pensar em ter um país moderno, realmente livre e democrático".
Berlusconi avisou ainda que Constituição de Itália depois da guerra tornou o país virtualmente ingovernável, precisando de reformas para dar ao primeiro-ministro mais autoridade, cortando o número de pequenos partidos no parlamento e limitando a influência do sistema judiciário dominado pela esquerda na política.