
Faltam poucos dias para Dário Pedro fazer 30 anos. Quem olha para o currículo do CEO da fabricante de drones Beyond Vision dirá que já voou sem perder um segundo na vida.
Com perspetivas de fechar o ano a faturar dois milhões de euros, a Beyond Vision poderá alcançar até 30 milhões já em 2025, se todos os projetos avançarem. O que os diferencia são drones que podem ser controlados pela cloud (nuvem) e que voam 90 minutos, muito mais do que os concorrentes da mesma categoria. Já exportam 70 a 80% para quase toda a Europa, Arábia Saudita, Angola e outros países africanos.
Licenciado e mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, pela NOVA FCT, no Monte da Caparica, Dário passou um ano em Erasmus na Universidad Politécnica de Madrid. Trabalhou um ano depois para a consultora Deloitte, mas mal sabia ele, tão jovem, que o seu grande desafio estava prestes a começar.
Em 2018, Dário decidiu fazer um doutoramento. Seguiu pelo caminho do desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial para drones – a sua grande preocupação era dotá-los de capacidade para se desviarem de objetos em movimento, ou de pássaros, por exemplo. Ao mesmo tempo, trabalhava já para a PDM, uma das maiores empresas com capital português de desenvolvimento de software, com contratos para grandes empresas e para o Estado. Para a sua investigação, o então doutorando destruiu muitos drones, mas não tardou a despontar o sucesso, a atrair parcerias e clientes.
Foi aqui que se deu a viragem. O crescimento obrigava a decisões de futuro: ou criavam uma empresa focada nos drones, ou pegavam na já existente Beyond Vision, com um histórico de projetos de investigação e desenvolvimento no Grupo PDM, e focavam-na por completo neste segmento – como veio a acontecer.
Luís Miguel Campos, fundador do grupo PDM, decidiu distribuir uma parte das cotas por quem estava a levar os projetos da Beyond Vision para a frente: Dário Pedro, Álvaro Ramos, Pedro Lousã e Fábio Azevedo.
“O meu objetivo, sendo totalmente honesto, foi o de trabalhar em algo que realmente me desse prazer e eu gostasse de desenvolver. E as coisas foram acontecendo naturalmente. Eu não tinha, de todo, o objetivo de ter uma empresa. Nunca sequer tinha pensado nessa possibilidade”, confessa Dário Pedro. Mas as oportunidades foram aparecendo. “E eu gosto de aceitar desafios. E montar uma empresa, montar uma estrutura e fazer crescer uma empresa é um grande desafio.”
No início, era mais fácil de gerir uma empresa pequena. Hoje, com 40 trabalhadores – e prevendo duplicar no próximo ano –, o ritmo é bastante intenso para acompanhar um mercado gigante de oportunidades. “Os desafios começam a ser mais complexos, de gestão de estrutura interna, de espaços, da qualidade dos drones que entregamos para manter a marca com certificado, entre aspas, de qualidade, com a participação ativa em feiras, marketing”, descreve o CEO da Beyond Vision. “Agora sim, é bastante mais complexo.”
Com capacidade para desenvolver projetos de ponta a ponta, as operações da Beyond Vision dividem-se em quatro áreas. Duas delas estão inerentes à construção da própria aeronave, nas áreas mecânica e aeroespacial, e na área da eletrónica. Uma terceira, diz respeito ao desenvolvimento do hardware completo instalado nos drones, e do software e firmware tanto do controlador de voo como do computador, capaz de lidar com algoritmos de inteligência artificial, graças a um módulo da Nvidia, controlado pela equipa de robótica. A quarta e última área é de cloud, que permite controlar todos os dados dos drones a partir de qualquer parte do mundo.
“O que fez com que a empresa começasse a crescer neste setor, foi a capacidade dos drones serem controlados pela cloud, mas para isso precisavam ter múltiplas linhas de comunicação”, explica o engenheiro. “Por exemplo, nós em 2018 inaugurámos, com a Altice Labs, a primeira antena em Portugal de 5G, em Aveiro – historicamente, a Beyond Vision tinha nascido em Aveiro, num polo de investigação. Inaugurámos com a Altice Labs, com um drone nosso a comunicar em 5G e a ser controlado por 5G. Isto permite que o drone seja controlado a partir de qualquer parte do mundo”, recorda Dário Pedro. “Hoje em dia já temos dezenas de links de comunicação integrados nativamente no nosso drone, ou seja, 4G, 5G, LoRa, ZigBee, Bluetooth, Wi-Fi, vários tipos de rádios mais tradicionais, links de longo alcance militares. Também temos a capacidade de fazer por Starlink. Isto era um dos fatores diferenciadores. Mas hoje, a nível comercial, o que mais influência faz é a autonomia dos nossos drones. Por exemplo, o último drone que lançámos voa 90 minutos e para a sua categoria não há nenhum drone que se aproxime desse tempo de voo. A maior parte dos drones dessas dimensões voam entre 40 a 60 minutos. Por isso é muito diferenciador.”
Podendo servir várias indústrias e até forças militares, como a Marinha portuguesa e agora também o Exército, estes drones – com preços unitários entre 20 mil e 55 mil euros – oferecem grande versatilidade. “Temos clientes desde a área de motorização de postos de média e alta tensão, agricultura, construção. Temos um projeto muito interessante de logística na Alemanha, em que existem várias bases rurais e os drones fazem transportes de pequenas cargas, com a estação de controlo localizada a mais de 600 km de distância.”