Bourdain: "[Com Lobo Antunes] Foi uma conversa que irei lembrar o resto da minha vida"

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O conhecido chef norte-americano Anthony Bourdain confessou que, de tudo o que comeu (e adorou) durante a semana que esteve em Portugal, "os pequenos bifes suculentos de carne de porco", referindo-se às famosas bifanas, foi algo que o tocou profundamente.

"Adorei a típica comida de Lisboa, a chamada old school", confessa, em conferência de imprensa, o chef autor de Cozinha Confidencial ou Les Halles (editados pela Livros d'Hoje), referindo-se ao "polvo grelhado com batatas cozidas, com azeite e alho, algum vinho barato mas delicioso."

Recusa mostrar, para o programa que apresenta, No Reservations (emitido na SIC Radical) os sítios melhores ou mais bonitos para comer. "O que me interessou foi saber onde vão os lisboetas às duas horas da manhã comer e embebedar-se, saber o que lhes dá prazer, os sítios onde vão...", diz.

Referindo que esta é uma extensão do seu trabalho, com mais de 20 anos como chef, Bourdain instiste que o interessa "ver as pessoas comer, como comem, o que cozinham, como o cozinham", pois esta é uma maneira de "aprender muito sobre as pessoas."

"Experimentámos grande comida de grandes chefs, que fazem comida moderna, levando a comida portuguesa para o futuro, mas ao mesmo tempo às tradições", algo que interessa ao chef norte-americano esteja onde estiver no mundo.

"Tornar a cozinha exportável foi o que interessou neste local", cruzando o "amor feroz pela tradição com o o futuro incerto, que achei particularmente interessante e charmoso", defende Anthony Bourdain, que remata: "Deus, é uma cidade linda e os chefs são simpáticos, o que será, por ventura, o mais importante."

Além da boa comida, bom álcool e boa música, as "pessoas são incrivelmente simpáticas e amigáveis", destaca, revelando que tal se estende a António Lobo Antunes, um escritor que muito admira. "Esqueci as câmaras, só queria conhecer aquele tipo que escreveu magníficos clássicos. Foi uma conversa que irei lembrar para o resto da minha vida", diz.

Mas também gostou muito do fado, que conheceu com o autor de Esplendor de Portugal, na Tasca do Chico. "É impossível resistir", diz Anthony Bourdain, que salienta a "interessante relação com o passado". Já "Lobo Antunes é muito ambivalente em relação ao fado", revela, justificando que para este escritor "lembra um mau período da história".

Também gostou de Dead Combo, a banda de Tó Trips e Pedro Gonçalves, que o faz lembrar a música do sul da Califónia, do início dos anos 60, ou a banda sonora de Ennio Morricone.

"Ser chef é como pertencer à Mafia, no sentido de que os chefs pelo mundo fora automaticamente recebem-nos, pelo que estou numa posição privilegiada perguntado-lhes onde podemos e o que podemos fazer", defende o chef que anda pelo mundo fora a provar para depois dar a conhecer desde a gastronomia mais tradicional à mais sofisticada.

"Procuramos também profissionais locais que nos ajudem na produção do programa, na logistica...", conta Bourdain que frisa que também em relação a estes é pedido "o mais icónico."

Relativamente às diferença que Lisboa poderá ter face ao Porto, cidade onde esteve em 2006 (a primeira vez que esteve em território nacional), o chef confirma: "É diferente. O primeiro lugar onde fomos, quando aqui chegámos, foi a uma marisqueira [Ramiro] e foi muito diferente do que experimentei no norte. Gostei no Porto, mas aqui foi de tirar o fôlego. Por mais que goste de comida brilhante preparada pelos melhores chefs, é difícil bater um óptimo marisco com sal e azeite."

Anthony Bourdain confessa que sabe cozinhar um prato de peixe açoreano. "Fiquei obcecado por um guisado com batatas, pimentos... durante anos tentei".

Já relativamente à frequência com que viaja, o chef conta que tem sempre a bagagem pronta para a viagem seguinte, quando chega a casa. E aprendeu, nos aeroportos, a nunca desesperar e a ter paciência, diz revelando que de Lisboa vai para a cidade do Kansas para ver os churrascos. E pouco tempo depois partirá para a Líbia, sendo que, pelo menos, uma vez por ano, tem de dedicar um programa à Itália, por causa da sua mulher.

No final, deixou uma promessa: "Voltar? Claro que sim". Pena é que não soube dizer quando.

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