O cerco sanitário em Ovar imposto pelo Governo para conter a propagação do covid-19 obrigou à reorganização da fábrica da Nestlé em Avanca, instalada no concelho limítrofe de Estarreja. Com mais de cem trabalhadores impedidos de sair do concelho de Ovar por estarem em quarentena, a unidade de produção teve de reorganizar turnos e focar produção nas gamas mais relevantes para os consumidores nacionais como Nestum, Cerelac Chocapic ou Mokambo.
"Quando foi fixado um cerco sanitário para Ovar a Nestlé rapidamente agiu no sentido de reorganizar a sua operação em Avanca, por forma a permitir prescindir dos colaboradores que habitam nessa cidade, para sua proteção e das suas famílias", adianta António Carvalho, do gabinete de comunicação da Nestlé, quando instado pelo Dinheiro Vivo sobre este tema. Em causa estão 130 trabalhadores de um total de 415 que habitualmente trabalham em Avanca. Trabalhadores "mantêm remuneração", garante, lembrando que no final de março a multinacional comunicou que, no período mínimo de 12 semanas, estão garantidos o emprego e o salário de todos os colaboradores. O cerco sanitário foi prolongado a 17 de abril, com a prorrogação do Estado de Emergência.
"Esta medida foi também para proteção dos restantes colegas da fábrica que continuam a trabalhar. Assim, quando a própria Câmara Municipal de Estarreja solicitou às empresas do Concelho que permitissem que os seus colaboradores originários de Ovar não tivessem de desrespeitar o cerco sanitário imposto à cidade a nossa atuação foi imediata", refere.
A redução de pessoal levou a uma reorganização dos turnos atuais cerca de 280 colaboradores. "Reorganizámos os turnos na fábrica e concentrámos a nossa produção nos produtos que consideramos mais relevantes para os nossos consumidores no atual contexto: Nestum, Cerelac, toda a gama de bebidas de cereais (Mokambo, Pensal, Brasa, Bolero e Tofina) e os cereais de pequeno-almoço" (como Chocopic, Estrelitas e Nesquik), descreve António Carvalho.
A linha de produção do NutriPuffs - snack biológicos para bebés, onde a companhia investiu 11 milhões de euros, com a Avanca a ser o hub de produção mundial deste produto para mais de 35 mercados - mantém-se pois "é muito automatizada". Mas a multinacional viu-se obrigada a deixar de produzir a linha profissional ("neste momento o canal HORECA está fechado"), bem como algumas gamas produzidas exclusivamente para exportação.
"Neste momento delicado de estado de emergência que o país vive, a Nestlé partilha as preocupações dos consumidores portugueses sobre a disseminação e o impacto na saúde pública do coronavírus. Assim, como membros da cadeia de abastecimento alimentar, um dos setores salvaguardados pelo próprio decreto governamental, assumimos o compromisso de garantir a continuidade da produção e da distribuição de alimentos e bebidas seguros para pessoas e animais de companhia, readaptando as nossas operações sempre que necessário", refere António Carvalho.
Os níveis de produção mantêm-se. "Continuamos a produzir nos mesmos níveis que no início deste ano e com os mesmos colaboradores, mas com padrão de turnos diferentes, quando comparado com o ano passado", assegura, referindo que "o trabalho nas nossas fábricas continua a ser efetuado com a normalidade possível no atual contexto que vivemos".
Nem tem havido falhas na obtenção de matéria-prima. "Estamos com as quantidades necessárias. Criámos stocks de segurança e mantemo-nos em contacto com os nossos fornecedores, para nos adaptarmos, em conjunto, à procura do mercado."
Exportando para mais de 30 mercados, a companhia tem conseguido manter o escoamento para o mercado internacional nest fase de pandemia? "Continuamos a conseguir manter os nossos fluxos de exportação, sem problemas de maior sobretudo no que respeita à via terrestre, incluindo para Itália", garante.