A presidência cipriota da União Europeia garantiu hoje, em Bruxelas, durante a apresentação das suas prioridades, que o facto de o Chipre ter acabado de pedir um resgate não afetará o trabalho do próximo semestre, marcado precisamente pela crise.
Numa conferência de imprensa realizada um dia depois de o Chipre ter recebido da Dinamarca a liderança rotativa do bloco europeu, o ministro dos Assuntos Europeus cipriota, Andreas Mavrogiannis, admitiu que o seu país assume esta responsabilidade, pela primeira vez, num "clima que não é o melhor", não só na zona euro, mas também no seu país, "que também tem os seus problemas económicos", e que levaram Nicósia a pedir assistência financeira aos seus parceiros, na semana passada.
No entanto, assegurou, o resgate em curso "não irá distrair" o Chipre de trabalhar intensamente na sua agenda para o semestre, que tem por lema "por uma Europa melhor", e que se baseia em quatro grandes prioridades, que visam designadamente uma "Europa mais eficiente e sustentável", com "um melhor desempenho e uma economia baseada no crescimento", "mais relevante para os seus cidadãos, com solidariedade e coesão social" e "mais próxima dos seus vizinhos", especialmente a sul.
Dentro do primeiro pilar, encontra-se aquela que será a principal tarefa da presidência cipriota: as negociações para o orçamento da União Europeia para os próximos sete anos (pós 2013, ou seja, o quadro financeiro plurianual 2014-2020), que acabaram de arrancar e que Nicósia tentará concluir até dezembro.
Reconhecendo que a tarefa não é fácil -- as primeiras discussões tiveram apenas lugar na cimeira de líderes da semana passada -, o ministro revelou que o Chipre vai começar a trabalhar desde já nesse sentido, iniciando já na próxima semana contactos bilaterais com todas as capitais.
Oito anos depois da adesão à UE (2004) e quatro anos volvidos sobre a entrada na zona euro (2008), o Chipre, uma pequena ilha do Mediterrâneo, com cerca de 800 mil habitantes, e ainda dividida desde 1974 entre a parte turca (um terço do território, no norte) e a parte greco-cipriota (sul), iniciou no domingo a sua presidência semestral dos 27, com o mesmo "fardo" das últimas presidências, ou seja, uma agenda marcada pela crise económica.
Essa mesma crise levou a própria República do Chipre, particularmente afetada pelos problemas da "vizinha" Grécia, a pedir ajuda aos seus parceiros europeus e ao FMI a 25 de junho passado - sendo o quinto país a fazê-lo, depois de Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha -- e, ironicamente, Nicósia recebe a liderança da União na mesma semana em que acolhe também técnicos comunitários e do Fundo Monetário Internacional, que se deslocarão ao país para avaliar as necessidades de assistência financeira.
Na quarta-feira de manhã, o presidente do Chipre, o comunista Dimitris Christofias, desloca-se a Estrasburgo para apresentar, perante o Parlamento Europeu, a "sua" presidência, e no dia seguinte recebe em Nicósia a Comissão Europeia liderada por Durão Barroso, para o tradicional encontro entre o executivo comunitário e aquele que assegura a presidência rotativa da União.