Coletes sensoriais, 5G e app criam experiência inédita para surdos

NOS e Access Lab, startup que trabalha na inclusão de pessoas com deficiência na cultura e desporto, criaram solução inédita em Portugal para o festival NOS Alive
A app permitiu a oito festivaleiros surdos seguirem o que estava a ser cantado e sentissem as vibrações da música. FOTO: Direitos reservados
A app permitiu a oito festivaleiros surdos seguirem o que estava a ser cantado e sentissem as vibrações da música. FOTO: Direitos reservadosA app permitiu a oito festivaleiros surdos seguirem o que estava a ser cantado e sentissem as vibrações da música. FOTO: Direitos reservados
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Antes de cantar “These Walls” num concerto eletrizante que pôs 55 mil festivaleiros a dançar, Dua Lipa arriscou umas palavras em português: “Um grande beijo para vocês”, lançou, mostrando-se emocionada com o público que a foi ver ao NOS Alive. Tudo o que a cantora disse foi interpretado em tempo real por uma intérprete de língua gestual portuguesa e visualizado numa aplicação especialmente desenvolvida para o concerto. A app permitiu a oito festivaleiros surdos seguirem tudo o que estava a ser dito e cantado no concerto ao mesmo tempo que experimentavam as vibrações da música através de um colete multissensorial. Foi a primeira vez que uma experiência destas aconteceu em Portugal - mas, se depender da startup Access Lab e da empresa de telecomunicações NOS, não será a única.

“Nós somos uma empresa que apoia a inclusão da pessoa com deficiência na cultura, no entretenimento e desporto”, explicou ao Dinheiro Vivo Catarina Oliveira, responsável da Academia Access Lab. “Neste caso, com os coletes, pensámos fazer um projeto piloto para integrar a comunidade surda neste ambiente de uma forma verdadeiramente inclusiva.”

Criada em 2022, a Access Lab trabalhou com a NOS para desenvolver uma experiência que respondesse às necessidades da comunidade surda em eventos de música. A iniciativa incluiu coletes sensoriais que vibram conforme a música, com botões para aumentar e diminuir as sensações no corpo, uma aplicação com legendagem e interpretação em tempo real, e conectividade 5G para permitir aos utilizadores estarem em qualquer parte do recinto.

“Com o 5G não só conseguimos que os coletes sejam muito mais responsivos, portanto, é imediata a vibração que as pessoas sentem com a música, como também permite às pessoas terem interpretação em língua gestual simultânea e estarem com o colete em qualquer parte do festival”, descreveu Catarina Oliveira. “Não estão circunscritas a apenas um local. Vão pedir uma cerveja, viram-se para comunicar com os amigos e têm sempre a intérprete de língua gestual a interpretar ao vivo.”

A tecnologia resolve o problema de outros eventos, em que a intérprete está num local específico e os participantes têm de assistir a partir de um espaço reservado, longe dos amigos e sem poderem sair se quiserem saber o que está a ser dito em palco.

A responsável indicou que uma das maiores queixas da comunidade “é esta ideia erradíssima de que uma pessoa surda não vem a um concerto” porque não consegue ouvir. “A música é muito mais do que o som”, disse Catarina Oliveira. “A música é um espetáculo, é vibração, são as luzes e é toda a experiência. Essa barreira, à partida, de não se considerar uma comunidade para estar presente neste ambiente é logo a primeira que tem que ser desconstruída.”

Para Margarida Nápoles, diretora de comunicação corporativa e responsabilidade social da NOS, a ideia é que este projeto seja mais do que “uma ação gira”. O trabalho da NOS Inovação com a camada de 5G e da app móvel “fica disponível para o mercado” e a ideia é que tenha continuidade.

“A NOS Inovação já cria conceitos e patentes para poderem ser depois colocadas à disposição de todos”, disse ao Dinheiro Vivo, frisando que se trata ainda de um projeto piloto. “Há muita coisa que tem que melhorar”, referiu. “É um primeiro passo para uma possível massificação deste tipo de soluções.” Para a empresa, o “Colete das Emoções” foi uma oportunidade de demonstrar as características do 5G. “Percebemos logo que libertávamos as pessoas, porque os coletes passam a ser utilizados em qualquer ponto do recinto”, descreveu. “Tem que ser uma rede muito robusta e com uma latência mesmo muito baixa, porque o som está a ser captado e as vibrações estão a ser emitidas para o corpo e convém que seja mais ou menos ao mesmo tempo”, continuou. “Se não, não estamos todos a sentir a mesma coisa.”

Com os resultados da experiência a serem avaliados, a intenção é que o processo possa inspirar outras soluções, tal como aconteceu com os sensores que medem entusiasmo através das palmas e das vozes do público. Margarida Nápoles explicou que essa foi a base de uma solução denominada AI-Belha, um projeto que usa 5G e Inteligência Artificial para detetar a presença da Abelha-Rainha dentro das colmeias e ajudar a combater o declínio das abelhas. “Esta solução dos coletes não se sabe se se pode depois dar origem a outras aplicações.”

É esse o tipo de iniciativa em que a Access Lab trabalha, tendo inclusive uma Academia - que é liderada por Catarina Oliveira - para dar formação às empresas sobre como receber comunidades de pessoas com deficiência e adaptar os seus eventos para serem mais inclusivos e preparados.

“Nós damos capacitação porque a comunidade das pessoas com deficiência está agora a começar a incluir-se nestes meios onde, muitas vezes, não nos projetam.”

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