Como o Mundial põe a economia a rolar

A febre do Mundial está de volta. Empresas aproveitam entusiasmo para apelar ao consumo. Venda de televisões aumentou 50%.
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A bola ainda não começou a rolar, mas Filipe Freitas já faz contas de cabeça. O primeiro adversário de Portugal no Mundial é a seleção espanhola, o que para o bolso do empresário é vitória assegurada. Mas no segundo jogo, contra Marrocos, o proprietário do Kaffa, um bar em Lisboa, vai ter de afinar a tática.

“É numa quarta-feira às 13.00, o que vai ser muito estranho. Será um misto de hora de almoço, dia de trabalho e futebol de seleção. Não sei como nos vamos organizar. Os outros dois jogos são às 19.00 e isso é faturação garantida”, conta.

De dois em dois anos, cafés e restaurantes aproveitam o verão para fintar as dificuldades que o setor atravessa o ano inteiro. “A restauração vive muito de bom tempo e futebol. Os dois juntos são uma combinação explosiva”, afirma o empresário.

Ao todo, a economia nacional pode ganhar 678 milhões de euros se Ronaldo e companhia juntarem o troféu do Mundial à taça do Euro. Se ficarem pelo caminho antes do “mata-mata”, o retorno será de 333 milhões, segundo um estudo do IPAM.

O setor da restauração é um dos grandes vencedores. Enquanto a seleção de Fernando Santos se aguentar na Rússia, Filipe Freitas não tem dúvidas de que o Kaffa vai faturar duas vezes mais do que o normal. Será um pouco assim em todo o país. Segundo o IPAM, o instituto do marketing, a restauração em Portugal pode ganhar mais de 100 milhões de euros se a equipa das quinas trouxer o troféu para casa. A simples presença na fase de grupos vai permitir aos restaurantes encaixar pelo menos 60 milhões de euros. Grande parte em estado líquido.

Filipe Freitas já tratou da primeira grande encomenda de cerveja do ano porque “as vendas duplicam”. Durante o Mundial do Brasil, em 2014, o consumo de cerveja em Portugal aumentou 23%. Com 10 milhões de adeptos de olhos na Rússia, o cenário não deverá ser diferente.

“Sendo a cerveja a bebida de eleição durante os jogos, o impacto do Mundial no consumo será positivo, principalmente se a seleção prosseguir no torneio e se estiver bom tempo para assistir aos jogos em espaços abertos”, salienta Nuno Pinto de Magalhães, diretor de comunicação da Sociedade Central de Cervejas, dona da Sagres, que há 25 anos patrocina a equipa nacional.

Prognóstico idêntico tem a Super Bock, que durante o Mundial espera “impulsionar ainda mais o consumo nos mais de 50 países” onde marca tem presença, e que valem 30% das receitas do grupo.

Venda de televisões dispara 50%

Mas não é só nas esplanadas que os portugueses vão roer as unhas pela seleção. Os números do IPAM revelam que o consumo em casa pode render 237 milhões de euros à economia se Portugal for campeão. Ficar pela fase de grupos vale 143 milhões.

A Jerónimo Martins já tem o esquema tático pensado. “Nos dias em que a seleção nacional joga, os restaurantes do Pingo Doce vão disponibilizar pratos típicos dos países que defrontam Portugal. Por exemplo, no dia 25 haverá pratos típicos do Irão”, revela fonte oficial da retalhista, que antecipa “um aumento expectável das vendas” de produtos como pizas ou camarão.

E porque a Rússia é lá tão longe, os olhos de Portugal inteiro vão estar colados ao ecrã. Nas últimas semanas, a venda de televisões disparou. “É um crescimento previsível face à maior atividade promocional que tem vindo a registar-se nas últimas semanas”, diz ao Dinheiro Vivo Paulo Romeiro, diretor de marketing e vendas de eletrónica de consumo da Samsung, um dos patrocinadores oficiais da seleção. A marca sul-coreana “quase duplicou” o número de televisões vendidas em maio, face aos meses anteriores. Cerca de 60% de ecrãs de ultradefinição.

“O território futebol é muito emocional e tem um impacto forte no adepto e consumidor português. É expectável que este ano as vendas sejam inseridas no padrão que mostra que o mercado de TV cresce cerca de dois dígitos em anos de grandes competições.”

As vendas da LG seguem a mesma tendência. Em 2018 a marca já vendeu mais sete mil unidades do que em 2017, num total de 28 mil televisões. “Os 4K têm valido, em média e em valor, cerca de 55% das vendas”, sublinha Young Soh, gestor de marketing da LG.

O entusiasmo pelo Mundial também chegou à Worten. Nas últimas três semanas, as vendas cresceram 50% em relação ao ano passado. “Todos os televisores têm uma forte procura, mas aqueles cujas vendas mais têm crescido são os de grande polegada, em que chegamos a registar vendas mais de seis vezes superiores às do ano passado”, destaca fonte da empresa do grupo Sonae.

Fazer da sala um estádio de futebol é uma opção popular. Mas também há quem aposte em jogar fora. Segundo a eDreams, o número de portugueses de malas feitas para a Rússia durante o Mundial subiu 162% face ao mesmo período de 2017.

A agência online de viagens indica num relatório que “Portugal é o nono país de origem com mais passageiros já com reservas efetuadas”. A empresa nota que “os adeptos lusos apostam sobretudo nos dois primeiros jogos da fase de grupos”, contra Espanha (a 15 de junho) e Marrocos (20 de junho).

A Rússia também se tornou um destino popular na Momondo. A pesquisa de viagens para o país dos czares subiu 139% entre janeiro e maio, indica fonte oficial da empresa. E se Portugal avançar na competição, esse interesse deverá aumentar. No último Europeu, no dia seguinte à qualificação para a final, as pesquisas subiram 500%.

Goleadas mediáticas

Além dos adeptos, na Rússia estarão também as patrocinadoras oficias da seleção. O retorno para estas empresas pode chegar a 120 milhões caso a equipa das quinas conquiste o título, segundo estimativas da Cision. Mais cinco milhões que o conseguido com a vitória no Europeu.

No entanto, a vantagem está dependente do desempenho de Ronaldo e companhia. Se a equipa ficar pela fase de grupos, o retorno será apenas de 75 milhões. Mas os patrocinadores mostram fair play. “É evidente que as vitórias nos trazem um retorno maior. Mas mais do que o retorno de patrocínio o que importa é a nossa ligação com o público”, diz Nuno Pinto Magalhães.

Apoiar um campeão europeu até pode ser uma goleada em termos mediáticos. Mas o título em Paris há dois anos não implicou um aumento do investimento em campanhas publicitárias.

No Novo Banco e na Sagres está em valores semelhantes ao do Euro 2016. Quanto aos números, a tática é a defesa. As empresas não quiseram revelar detalhes. E os orçamentos podem ser ajustados ao sucesso da equipa. No Novo Banco, por exemplo, durante o Euro 2016 “todos os cenários estiveram previstos na campanha”, indica fonte da instituição. E tal como há dois anos a vitória na final “é sempre um cenário possível”.

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