Conquistar Lisboa e o mundo com um éclair de cada vez

Mais de cem anos de história, mais de meio século a fazer éclaires, chegou agora a Lisboa. Próximo passo? Internacionalizar
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Há memórias que nunca se esquecem. Como a de um menino (hoje já avô) que se lembra do dia em que partiu a sua pequena viola de brincar e a mãe levou-o à pastelaria e comprou-lhe um éclair com chantilly para o consolar. “Histórias assim queridas” como esta são muitas nos mais de cem anos de história da Leitaria da Quinta do Paço, no Porto, que acaba de chegar a Lisboa. Plano? Conquistar os alfacinhas com um éclair com recheio de chantilly de cada vez. Depois, é conquistar os gulosos em Madrid e Londres.

Há dois anos que os novos donos da Leitaria da Quinta do Paço, Joana e Eduardo Costa, procuravam ativamente um espaço em Lisboa. “Tinha de ter algumas características: espaço de loja e de fábrica. Os nossos éclaires são produtos do dia e não fazia sentido que em Lisboa não tivessem a mesma qualidade do que os do Porto”, explica Alexandra Sotto Maior, diretora de marketing da Leitaria da Quinta do Paço.

Só no início do ano é que conseguiram encontrar o espaço ideal: uma loja na Avenida João XXI, onde desde os anos 50 funcionou uma padaria. A loja de cerca de 300 metros quadrados criou 12 postos de trabalho e acolhe em cerca de 100 metros o salão de chá e o espaço de venda para fora, e será central no plano de expansão da Leitaria da Quinta do Paço em Lisboa.

“A nossa ideia foi sempre abrir este espaço para ser a loja-mãe e depois franchisar. Não muitos novos espaços, porque a Leitaria não é um negócio massificado. Serão mais uma ou duas lojas em Lisboa”, adianta Alexandra Sotto Maior. Contactos e interesse já existem, mas a diretora de marketing não arrisca uma data para a loja na João XXI ter nova companhia em Lisboa. Uma expansão que será feita em franchising. Em média, cada espaço implica um investimento de cerca de 100 mil euros.

“Quando houver uma rede de franchising em Lisboa vamos também ter uma rede de distribuição, tal como temos no Porto”, diz Alexandra Sotto Maior. A Leitaria da Quinta do Paço tem a fábrica em Vila Nova de Gaia e daí partem todas as manhãs milhares de éclaires e outros produtos como duchaises e bolas-de-berlim (com chantilly, claro) para as quatro lojas que já existem no Norte. Uma expansão da marca implementada com a chegada dos novos donos. Hoje, além da loja da Baixa, existem três outras Leitarias da Quinta do Paço no Norte Shopping, Mercado do Bom Sucesso e em Matosinhos. Dão emprego direto e indireto a cerca de 50 pessoas.

A mudança de donos também assinalou uma nova fase na marca a nível da gama de produtos. Um regresso às origens. Quando começou, em 1920, a Leitaria da Quinta do Paço era uma fábrica que engarrafava leite que era distribuído no Grande Porto por leiteiras. Vendia manteiga, queijo e chantilly a peso. Só a partir dos anos 1950 é que introduziu na oferta aquele que veio a provar-se ser a grande estrela: o éclair com recheio de chantilly.

“E tem tanta fama que nunca mais deixaram de o fazer. Houve uma altura em que os outros produtos quase que nem se vendiam, só vendiam éclaires”, conta Alexandra Sotto Maior. Mais de meio século depois o éclair ainda é o produto que faz os portuenses ir em romaria à Leitaria. Por dia, as quatro lojas no Porto vendem uma média de dois mil éclaires. No fim de semana chegam a vender cinco mil. A força do éclair é de tal ordem que a empresa já o registou como doce do Porto. Mas nem só de éclaires vive a Leitaria da Quinta do Paço. “Há três anos, com os novos proprietários da Leitaria, é que começámos a reviver as antigas famílias de laticínios e abrimos um pouco o leque de produtos”, conta a diretora de marketing. Voltaram a vender chantilly e a manteiga a peso, bem como os queijos. Mas com um toque de modernidade. Há manteiga de funcho e mostarda, de coentros e limão; queijo curado de vaca, de cabra ou de ovelha ou de cabra transmontano.

“Depois como usamos muitas compotas com base de frutas nos nossos éclaires também começamos a aproveitar essas compotas para vender em boião”, conta a diretora de marketing. Há também muitos chocolates, bombons de vinho do Porto, mel, azeite, geleia de marmelo e marmelada... E não para de aumentar a gama de produtos. Em outubro chega uma novidade. “Vamos lançar outro produto que tinha muita fama na leitaria e que deixou de existir: o iogurte. Para já, vamos ter iogurtes naturais, mas vamos fazer pairings com as nossas compotas”, descreve Alexandra Sotto Maior.

A expectativa para a expansão da marca fora da região norte é grande. “Pensamos que a loja vai ser completamente autossustentável porque há muitos serviços aqui à volta. Tem muita vida”, considera a diretora de marketing da Leitaria da Quinta do Paço. “Há imensa gente do Porto, mas que vive em Lisboa, que tem saudades dos nossos éclaires, mas também há muita gente de Lisboa que estudou no Porto que, como as universidades eram todas ali à volta da Leitaria, a conhece”, acrescenta.

E como a gula é um doce pecado que não é exclusivo dos portugueses, a Leitaria da Quinta do Paço já tem os olhos postos no mercado externo. “Estamos a tratar disso”, adianta Alexandra Sotto Maior.

“Estamos a estudar a internacionalização para abrir lojas em Madrid e em Londres e ainda num outro país que ainda não está perfeitamente determinado”, diz a responsável de marketing. Por determinar está o modelo de negócio com que vão avançar para o mercado externo: loja própria ou franchising. “Estamos numa fase inicial do estudo. Este é um projeto para médio e longo prazo.”

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