Corretores do Dubai trocam ações por sanduíches

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Chama-se Nabil Rantisi, tem 34 anos e trabalha no setor da restauração. Até aqui nada de especial não fosse o caso de Nabil ter trabalhado, até junho passado, numa das maiores corretoras do Dubai a poucos metros de onde está hoje a servir às mesas.

Nabil é um de muitos corretores que trocou as ações por sanduíches e que hoje serve antigos clientes, depois de ter abandonado o cargo de diretor na corretora Rasmala Investment Bank. "O negócio estava muito, muito fraco e chegou uma altura em que tive de decidir onde poderia usar o meu tempo de uma forma mais rentável", afirmou Nabil à Bloomberg.

Esta é uma das consequências do fim do boom do setor de banca de investimento que o Dubai conheceu há três anos. Hoje está em declínio e revela poucos sinais de recuperação. Apesar do Emirado ter conseguido reestruturar a sua dívida e investido no turismo e nos transportes, o número de trabalhadores no Centro Internacional Financeiro do Dubai recuou para 11.331 em julho passado face aos 11.436 registados em 2009.

Com o volume de transações do mercado do Dubai a afundar 77% desde 2009, 41 das 98 corretoras activas em 2008 teve de fechar as portas. Como exemplo, a maior corretora do Dubai, a Al Futtaim HC Securities, anunciou no passado dia 4 de janeiro que vai terminar as suas operações nos Emirados Árabes Unidos. Além disso, gigantes internacionais como o Crédit Suisse ou o Nomura também suspenderam as suas operações.

O declínio continuou com a especulação imobiliária ao mesmo tempo que o governo e empresas públicas alcançavam um nível de endividamento de 110 mil milhões de dólares. Ainda assim, é no Dubai que se encontra o maior arranha-céus do mundo.

Hoje o valor de mercado das ações do Emirado ascende a 97 mil milhões de dólares, menos de metade dos 206 mil milhões registados em 2007. Como senão bastasse, os investidores estrangeiros têm vindo a reduzir a sua exposição a ações de empresas do Dubai.

Com muito pouco para negociar, os antigos corretores decidiram abrir restaurantes, discotecas e até hotéis de luxo, à espera de um catalisador que volte a reacender os mercados.

Vyas Jayabhanu, antigo gestor na Al Dhafra Financial Broker, desenvolveu no último ano o Boutique 7 Hotel and Suites, um hotel de quatro estrelas no Dubai. "O negócio tem corrido bem. Se declaras bancarrota bebes mais", afirmou à Bloomberg.

"Durante o boom toda a gente investiu para aproveitar. Esgotou-se e o ciclo chegou ao fim. Hoje é o contrário, as pessoas estão a sair das suas áreas para outros investimentos à espera que o mercado recupere", acrescentou Nabil Rantisi.

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