O MSC Euribia, a navegar nos mares do Norte da Europa há pouco mais de uma semana, é provavelmente o cruzeiro com o melhor índice de eficiência energética do mundo. Esta foi pelo menos a determinação do grupo de origem italiana MSC quando decidiu investir 1200 milhões de euros na construção deste navio turístico, integrando as mais recentes tecnologias de sustentabilidade. Foram mais 300 milhões do que é habitual custar uma embarcação desta dimensão. Tem 331 metros de comprimento, 43 de largura, mais de 73 de altura, uma arqueação bruta de 184,011 GT (volume interno), 2419 camarotes e capacidade para 6327 passageiros. Na sua viagem de estreia, entre o estaleiro de Saint Nazaire, em França, e a capital da Dinamarca, Copenhaga, o MSC Euribia inaugurou uma nova era na indústria dos cruzeiros, percorrendo mais de mil milhas com zero emissões de gases com efeito de estufa. O marco só foi possível devido à utilização de bio-GNL (gás natural liquefeito).
O Euribia, cujo nome remete para a deusa grega Eurybia que, diz a mitologia, controlava os ventos, as correntes e as estrelas para dominar o mar, não irá navegar a bio-GNL, um combustível que garante neutralidade carbónica, mas cuja produção não responde ainda às necessidades do transporte marítimo. No entanto, o 22º navio da frota de cruzeiros da MSC foi equipado com motores para funcionar a GNL, o que permite uma redução das emissões de óxidos de enxofre em 99% e das de óxidos de azoto em 85%. Em simultâneo, diminui em até 20% as de dióxido de carbono em comparação com os combustíveis convencionais. É um passo na descarbonização da operação, que poderá ser acelerada caso a indústria do setor energético garanta uma resposta. O MSC Euribia está também preparado para incorporar outros biocombustíveis, como o metanol verde, e sintéticos, de que são exemplo o hidrogénio verde e o e-LNG.
Mas a aposta na sustentabilidade não ficou por aqui. O navio recebeu um revestimento de tintas ecológicas que limitam o crescimento de algas e organismos marinhos para reduzir o arrasto e o consumo de combustível, incorporou tecnologia para otimizar a sua posição na água e, assim, melhorar o desempenho, e está preparado para se ligar às redes elétricas nos portos (muitos ainda não têm esta possibilidade). Entre as medidas de eficiência energética houve ainda investimentos no sistema de aquecimento, ventilação e ar condicionado, na recuperação do calor dos motores para aquecimento das piscinas e na iluminação LED. A conceção do navio teve ainda em conta a vida no mar. Foi concebido um sistema que evita o transporte de espécies invasoras, criada uma fórmula para o casco e hélice diminuírem o ruído subaquático e instalado um tratamento avançado de águas residuais.
O objetivo da MSC Cruzeiros é antecipar a meta europeia de emissões zero em cinco anos, ou seja, ter só navios "verdes" até 2045. A empresa quer ter uma frota amiga do ambiente e da vida marítima. O sucesso do negócio está intimamente ligado a um mar vivo e saudável. Já no fim do ano passado lançou o seu primeiro navio movido a LNG, o MSC World Europa, mas sem descurar o glamour exigido a este produto turístico. E a empresa, que ocupa o terceiro lugar no ranking mundial do setor e é líder na Europa, América do Sul, Golfo e Sul de África, tem no Euribia mais um símbolo do luxo dos resorts marítimos.
O MSC Euribia, que este verão está a explorar os fiordes noruegueses, espelha o seu charme na luz e cor da maior área de compras no mar, nos dez restaurantes e 21 bares e lounges, nas cinco piscinas, uma das quais com escorregas, no casino, na discoteca e no teatro, com capacidade para 945 pessoas. As crianças e adolescentes têm espaços e atividades dedicadas ao seu entretenimento, e os adultos dispõem de um conjunto de diversões que vão desde concertos ao vivo, a espetáculos de variedades, de circo e de videojogo. Mais de 6300 passageiros podem desfrutar desta oferta mas, como é habitual na MSC, há também uma zona mais exclusiva, o Yacht Club. Este é o local certo para quem procura mais exclusividade e privacidade. Tem 103 suítes, serviço de mordomo, restaurante, piscina e solário.
Portugueses a crescer
O negócio dos cruzeiros ainda não regressou aos níveis pré-pandemia, quando recebeu mais de 30 milhões de passageiros. A confiança dos turistas tem vindo a restaurar-se e os portugueses também estão a contribuir. Segundo Eduardo Cabrita, diretor-geral da empresa em Portugal, a MSC "está em franca recuperação". Os números do negócio no país assim o confirmam. Como avançou, "2023 está acima de 2019 em mais de 40%". No ano anterior à covid-19 entraram quase 36 mil portugueses nos navios da MSC. Para 2024, o horizonte é ainda mais promissor. "O ciclo de reservas já não está como em 2021 e 2022, que era muito em cima. Neste momento, temos o dobro das reservas para 2024 quando comparado com 2018/19", adiantou.
Esta procura nacional já levou a empresa a aumentar o número de escalas no país. Desde o início deste mês que os navios da MSC estão a parar no porto de Lisboa para receber passageiros, e assim continuarão até novembro. Antes, era só entre setembro e novembro. Em 2024, o período irá alargar-se ainda mais, com as escalas a iniciarem-se em abril e a prolongarem-se até quase ao final do exercício. Segundo Eduardo Cabrita, há mais de 20 anos que não há nenhum navio cruzeiro a fazer esta aposta em Portugal. E que cruzeiros preferem os portugueses? Mediterrâneo e ilhas gregas.
A MSC está confiante no potencial do negócio, apesar dos enormes desafios da indústria. A quota mundial dos navios cruzeiros ainda vale menos de 4% no setor do turismo. Há muito espaço para crescer e, por isso, as empresas continuam a investir. Dentro de pouco mais de dois anos, a capacidade instalada a nível global atingirá os 39 milhões de passageiros. A MSC, que tem na sua operação de carga o sustento financeiro para suportar todas as quebras sentidas devido à pandemia, está ativa no aumento da oferta. Ainda este ano vai inaugurar o seu primeiro navio da classe Explora Journeys, o luxo dos luxos. Em pipeline, tem mais seis embarcações previstas até 2030.
A jornalista viajou a convite da MSC Cruzeiros