O grupo Terras & Terroir, dono da quase tricentenária Quinta da Pacheca, no Douro, tem vindo a reforçar a sua aposta nos vinhos e no enoturismo, com a aquisição de propriedades de Trás-os-Montes ao Alentejo. O objetivo é marcar presença "nas principais regiões vitivinícolas nacionais", estando sob mira mais imediata a Região dos Vinhos Verdes e o Algarve. Enquanto a oportunidade certa não aparece, o grupo vai renovando, ou construindo, novas unidades de alojamento nas propriedades que já tem, sendo que, até ao final do ano, abrirá o seu primeiro hotel de 5 Estrelas, na Quinta de São José do Barrilário, em Armamar. O investimento é de 5,5 milhões de euros..Maria do Céu Gonçalves e Paulo Pereira têm um longo historial ligado à distribuição de vinhos e outros produtos nacionais em França, através da Agriberia, que além das bebidas e artigos agroalimentares portugueses e espanhóis, distribui também produtos brasileiros e asiáticos. Com a compra de parte do capital da Quinta da Pacheca, em 2012, e da totalidade no ano seguinte, juntou-se a eles Álvaro Lopes, diretor de Enoturismo da propriedade duriense..Em 2017 compram a quinta em Armamar e é só em 2020, com a aquisição da Caminhos Cruzados, em Nelas, na região do Dão, que nasce o grupo Terras & Terroir que conta hoje com mais de 300 hectares de vinha e 200 colaboradores em Portugal, tendo faturado, no ano passado, 20 milhões de euros. O investimento acumulado é já de 18 milhões e o objetivo é chegar aos 35 milhões de euros de vendas em 2025..No imediato, o grupo tem em marcha a construção, de raiz, do 5 estrelas em Armamar, que contará com 31 quartos, estando ainda a ser recuperada a casa-mãe da quinta, uma das mais antigas do Douro, para a realização de eventos, bem como a capela da propriedade. Em fase de arranque está também a recuperação e renovação do antigo Hotel Parque, junto ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, que estava fechado há mais de 10 anos..Esta é uma concessão a 50 anos, já que o hotel é propriedade da Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, e dará origem ao futuro Lamego Palace Hotel, um 4 estrelas, com 35 quartos, com grande foco no turismo religioso, nos eventos e casamentos, diz Bernardo Mesquita, diretor de Expansão do grupo. O investimento ainda não é avançado: "Estamos já em fase de demolições interiores, para renovação e modernização do espaço, mas é um projeto que levará ano e meio a dois anos"..No concelho de Viana do Castelo, o Terras & Terroir comprou o antigo restaurante Pedra Alta, que está fechado há anos, e vai transformá-lo num hotel temático dedicado ao ouro. Sem data prevista de arranque, ainda, o Filigrana Design Hotel terá 26 quartos, um restaurante e uma loja e espaço de eventos. O investimento inicial previsto era de 1,8 milhões de euros, mas que se admite que possa vir a ser superior, atendendo ao disparar dos custos dos materiais e da construção. A propriedade tem mais de 8 mil m2 e, tal como nos restantes projetos do grupo, o objetivo é desenvolver aqui uma "forte componente de eventos"..Para 2025, a intenção é investir num hotel e restaurante em Nelas, na Quatro Caminhos. O projeto, que está em fase de estudo de arquitetura, prevê a construção de 50 quartos..Usando a experiência de mais de 10 anos de desenvolvimento do negócio de enoturismo e de eventos na Quinta da Pacheca, o grupo procura agora replicar o modelo nas outras propriedades que tem. A Quinta do Ortigão, na Anadia, Bairrada, foi comprada em 2021 e, no ano passado, a Terras & Terroir estendeu-se ao Alentejo com a aquisição das Herdades da Rocha e do Moinho Branco, esta última conhecida por Ribafreixo Wines, no Crato e na Vidigueira, respetivamente. E reforçou no Douro com o projeto Vila Marim Country Houses, em Mesão Frio, uma unidade de alojamento vocacionada para os nómadas digitais..Pelo meio ainda construiu o Olive Nature Hotel & Spa, um hotel rural em Valpaços, na Quinta Dona Adelaide, um investimento de três milhões de euros. A Quinta Dona Adelaide foi comprada por Maria do Céu Gonçalves e Álvaro Lopes em 2015 - a empresária tem as suas origens em Trás-os-Montes - e acabou por ser integrada no grupo Terras & Terroir em 2022..O Olive Nature Hotel & Spa abriu em agosto de 2020, em plena pandemia ainda, o que se relevou uma "dificuldade acrescida". Teve uma taxa média de ocupação de 30%, o ano passado, a expectativa é que este ano consiga já "níveis superiores". Os eventos, e em especial os casamentos, são uma das principais apostas do hotel, que conta ainda com um restaurante em afirmação crescente junto da população de Valpaços..O hotel dispõe de 29 quartos e dois apartamentos - um com dois e outro com três quartos -, dois hectares de jardim e três piscinas, sendo uma delas interior e integrada no SPA da unidade, onde pode usufruir de tratamentos de rosto e de corpo à base de azeite. Uma das piscinas exteriores serve a área de eventos, com duas salas, cada uma com capacidade para sentar 350 a 500 convidados. Conta ainda com 400 lugares de estacionamento..Dos 13 hectares da propriedade, sete são de olival, onde estão plantadas 1500 oliveiras. Além disso, o grupo acaba de adquirir cinco hectares de pinhal contíguo à quinta, onde admite vir a plantar mais vinha e, eventualmente, construir futuramente alguns bungalows. Ainda este ano chegarão ao mercado os vinhos de Trás-os-Montes, que a Terras & Terroir está a desenvolver em parceria com o enólogo transmontano Francisco Gonçalves. Valle de Passos será a marca destes vinhos, mas também do azeite e dos enchidos que são produzidos na propriedade de Valpaços..Já Vila Marim Country Houses são um projeto diferente dos restantes no grupo, são casos de campo, que proporcionam "uma outra face do Douro, mais tranquila, mais imersiva" e mais vocacionada para estadias mais longas, famílias e nómadas digitais. Conta com 13 casas de matriz rural, embora três estejam em fase de renovação e indisponíveis, com tipologias diversas - casas de um quarto, suite junior com varanda, estúdio standard ou Estúdio Duplex, variando a lotação entre as três e as seis pessoas -, todas com vistas panorâmicas para as áreas ajardinadas, a vinha e as árvores de fruto. E todas contam com TV Led, ar condicionado e lareira de etanol. A propriedade conta com piscina exterior e sala de jogos. Mediante marcação prévia, pode ainda fazer uma massagem ao ar livre ou uma aula de ioga. A Terras & Terroir tem previsto, aqui, aumentar o número de casas de campo disponíveis nos próximos dois anos, chegando às 20..Com 60 hectares de vinha, que se estendem até ao Douro, a Quinta da Pacheca é famosa pelos seus vinhos, licorosos e de mesa, mas também pelo enoturismo. O The Wine House Hotel da Quinta da Pacheca conta hoje com 39 quartos, divididos por dois edifícios, e dez wine barrels, pipos gigantes com uma visita deslumbrante sobre a vinha e que têm uma enorme procura..A oferta é complementada por um spa, equipado com circuito de águas, piscina interior e duche escocês, e uma piscina exterior. Provas explicadas e cursos de vinhos, "wine shop", passeios, eventos, "workshops" de cozinha e turismo "à la carte", incluindo passeios de barco, de comboio, de helicóptero ou pedestres, são algumas das atividades disponibilizadas. Conta ainda com dois restaurantes na propriedade, estando previsto um terceiro..Pela Quinta da Pacheca passaram, em 2022, cerca de 110 mil visitantes, mais de metade dos quais brasileiros e americanos, que ajudam a combater a normal sazonalidade do Douro..Seguem-se investimentos em alojamento no Alentejo, mas sem data ainda prevista. "Os eventos são o negócio principal na Pacheca e em Valpaços, queremos também que o venham a ser no Alentejo. Começaremos seguramente pela Herdade da Rocha, num nicho muito ligado aos casamentos, onde já temos oito quartos, mas são poucos para rentabilizar o projeto", explica este responsável. A intenção é construir mais 40 quartos e tirar partido da "localização estratégica" da propriedade, a meio caminho de quem se desloca para o Algarve. "Há um potencial enorme", sublinha Bernardo Mesquita, lembrando que, no grupo, "o enoturismo tem um valor autónomo, por si próprio".