Portugal é das economias mais vulneráveis da Europa ao impacto da guerra comercial via EUA

Exposição é "notavelmente elevada" em países como "Eslováquia, Itália, Áustria, Eslovénia, República Checa e Portugal", indica a Comissão Europeia.
Valdis Dombrovskis, comissário europeu da Economia.
Valdis Dombrovskis, comissário europeu da Economia.EPA / OLIVIER HOSLET
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A economia portuguesa aguenta-se neste ano e no próximo, apesar da vaga crescente de problemas do mundo, do comércio global, que deve pesar nas exportações nacionais, sobretudo na relação com os Estados Unidos (EUA), avisa a Comissão Europeia (CE) nas novas previsões da primavera, divulgadas esta segunda-feira, em Bruxelas.

E aguenta-se até ver, apesar da "volatilidade política" interna, acrescentou a agência de rating Standard & Poor's (S&P), num comentário sobre o rescaldo das eleições legislativas de domingo.

As previsões da CE incluem um estudo onde "se analisa o comércio mundial do ponto de vista da integração nas cadeias de valor mundiais, com destaque para as relações União Europeia-EUA".

"Num cenário geoeconómico cada vez mais desafiante, a narrativa da desglobalização ganhou força, apresentando agora um processo contínuo de rápida diminuição da interdependência económica entre diferentes partes do mundo", diz o trabalho dos economistas de Bruxelas.

"Tendo em conta as atuais tensões relativas ao comércio de mercadorias, a percentagem global de bens no comércio [exportações e importações] implicado nas cadeias de valor mundiais com os EUA é particularmente relevante".

Nesta perspetiva, essa exposição ou vulnerabilidade "afigura-se notavelmente elevada" para "vários países do sul da Europa", pois têm mais de 80% ou 90% em "ligações de cadeias de valor mundiais com os EUA". Os casos mais "notáveis" são "Eslováquia, Itália, Áustria, Eslovénia, República Checa e Portugal", revela a CE.

Os exportadores portugueses têm mais de 80% de exposição ao dominó das cadeias de valor globais com origem e destino nos Estados Unidos. A economia portuguesa surge em sexto lugar nesta medida de vulnerabilidade à deriva tarifária do governo de Donald Trump, num grupo de 28 países analisados.

Se as exportações portuguesas de mercadorias (o principal alvo de Trump, nesta fase) e de serviços (onde pontifica o poderoso turismo, que também pode sofrer com a retração na confiança e do poder de compra dos americanos) correrem, a partir daqui, menos bem, a economia portuguesa vai ter um motor menos potente, basicamente.

Procura interna pode apoiar mais, outra vez

Assim, diz a Comissão Europeia, "a procura interna portuguesa deverá continuar a apoiar o crescimento económico, enquanto as exportações de bens enfrentam fatores adversos significativos devido às tensões comerciais mundiais".

"Projeta-se que a inflação continue a diminuir, num contexto de moderação do emprego e do crescimento dos salários e de uma queda marginal do desemprego".

Nas contas públicas, a CE prevê "que Portugal continue a seguir uma política orçamental expansionista", transformando o excedente das administrações públicas deste ano [0,1% do PIB - Produto Interno Bruto] num défice de 0,6% do PIB em 2026.

A CE insiste que "a escalada das tensões comerciais mundiais em abril deverá pesar sobre o desempenho económico de Portugal nos próximos meses".

"Em contrapartida, a aceleração na execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) deve impulsionar os investimentos, juntamente com dois grandes projetos privados na indústria automóvel".

Um dos maiores é, como se sabe, o da Autoeuropa, que vai começar a produzir um novo carro elétrico em Palmela, em 2026/2027.

"No setor externo, projeta-se que as importações cresçam mais rapidamente do que as exportações, mas espera-se que a balança corrente permaneça excedentária, beneficiando de preços dos produtos energéticos mais baixos."

A economia como um todos regista "uma moderação, passando de um crescimento de 1,9% em 2024 para 1,8% em 2025, em que a forte procura interna é compensada por recuos na procura externa".

"Em 2026, espera-se que o crescimento melhore para 2,2%", mas ainda que "a exposição direta de Portugal ao mercado dos EUA seja relativamente limitada, os riscos de retrocessos indiretos significativos permanecem elevados e estão relacionados com perturbações e incerteza do comércio mundial", refere a CE.

O lado mais positivo pode vir do "recente aumento da poupança das famílias em Portugal e da eventual mudança da despesa para bens produzidos internamente", que "podem oferecer uma procura superior à projetada".

Tudo considerado, a Comissão acha que "o saldo dos riscos é enviesado no sentido descendente [é negativo para o crescimento], uma vez que o nível elevado de riscos externos parece ser apenas parcialmente compensado pelos fatores internos".

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