É divulgado nesta quarta-feira pela primeira vez, a nível mundial, o Índice de Qualidade das Elites 2020 que, num conjunto de 32 países analisados, coloca Portugal em 14.º lugar, praticamente a meio da tabela.
O novo indicador, abreviado para EQx, pretende avaliar como as elites políticas e económicas contribuem para favorecer ou prejudicar o desenvolvimento do seu país. Singapura lidera o ranking nesta primeira versão, seguida pela Suíça, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos.
“As elites têm capacidade para controlar a gestão dos recursos financeiros, sociais, humanos e até do conhecimento, que moldam o desenvolvimento de uma sociedade”, explica Cláudia Ribeiro, professora da Faculdade de Economia do Porto (FEP), responsável pelo estudo a nível nacional, juntamente com Óscar Afonso, também professor da FEP.
No estudo piloto que deu origem a estes resultados, Portugal surge acima de países europeus, como França (15.º), Itália (17.º) ou Espanha (18.º). O lugar atingido pelas elites nacionais, na opinião de Cláudia Ribeiro, “poderá potenciar uma nova fase de convergência real do país com os restantes Estados-membros da União Europeia, que já se vinha a indiciar antes da covid, mas que com ela sofreu um forte revés”.
Mas, numa análise mais fina, que separa as elites económicas das políticas, a classificação do país já é diversa: Portugal sobe para o 10.º lugar em termos de valor gerado pelas elites económicas, mas cai para a 25.ª posição quanto ao valor gerado pelas elites políticas.
O significado da disparidade entre esses dois segmentos será analisado com mais pormenor durante a conferência desta quarta-feira, que decorre em simultâneo a nível mundial e é conduzida em Portugal pela FEP, a instituição que recolhe e trabalha a informação subjacente à elaboração do índice, garantindo a fiabilidade das fontes, em articulação com a Elite Quality Foundation, na Suíça, sob a liderança da Universidade de St. Gallen, também na Suíça, às quais se junta uma rede internacional de parceiros.
72 indicadores analisados
Desengane-se quem pensa que as elites serão individualizadas. “Este índice é o ovo de colombo”, diz a docente da FEP, “na medida em que vai avaliar a contribuição agregada das entidade de topo num país, medindo as consequências das suas atuações, ora criando valor ou, pelo contrário, extraindo valor”.
Cláudia Ribeiro recorre à gastronomia para ilustrar: “Vamos imaginar que a riqueza de um país é representada por uma tarte. Elites de elevada qualidade desenvolvem modelos de negócio que fazem crescer a tarte como um todo. Nesse processo, conseguem aumentar a sua fatia na tarte. Pelo contrário, uma elite de baixa qualidade está comprometida a fazer aumentar a sua própria fatia de uma tarte, que se mantém inalterada pela ação dessa elite, apropriando-se de mais valor do que aquele que cria.”
Extrapolando para a realidade, neste último tipo de desempenho, a docente coloca, por exemplo, os monopólios, os subsídiodependentes ou países com altíssimas taxas alfandegárias, protecionistas.
O EQx encerra um conjunto de 72 indicadores, provenientes de fontes oficiais, como o Instituto Nacional de Estatística ou o Banco de Portugal, sustentados em 12 pilares, organizados por quatro áreas, e agregados em dois sub-índices: o valor (resultado de atividade produtivas e potenciadoras de riqueza) e o poder (capacidade das elites para fazer prevalecer as suas preferências e interesses, subjacentes a um modelo de negócio).
Porque é relevante?
Para Cláudia Ribeiro, a oportunidade e importância do índice “residem no seu potencial de comparação de diversos países e de aperfeiçoamento dos modelos económicos e políticos, para melhor assegurar o desenvolvimento económico e humano”.
Mas não será uma referência estática. O próximo relatório da Qualidade das Elites, o EQx2021, já irá abranger mais de 100 países e será publicado em janeiro, data a partir da qual terá uma atualização anual. A docente entende que “a dinâmica das sociedades justifica a atualização periódica do índice, que permite identificar e prever o trajeto futuro dessas mesmas sociedades”.