A Ryanair entrou num braço-de-ferro com o governo dos Açores ao ameaçar deixar a operação no arquipélago já no próximo inverno. A companhia irlandesa de baixo custo, que voa a partir de Ponta Delgada, em São Miguel, e da Base Aérea das Lajes, na Terceira, garante que o aumento das taxas nos aeroportos açorianos - de 4,3% neste ano - são o motivo que sustenta a decisão. "As taxas aeroportuárias estão mais elevadas e para nós é mais complicado. A Ryanair é uma companhia muito sensível ao preço e às taxas. O preço médio de um bilhete na Ryanair é de 40 euros e temos de ter uma visão a longo prazo. Se as taxas baixam, conseguimos crescer; se elas aumentam não conseguimos", justifica ao Dinheiro Vivo a country manager da Ryanair para Portugal e Espanha. Elena Cabrera assegura que esta é uma "decisão puramente comercial" uma vez que, com estas tarifas, não é possível manter os preços dos bilhetes aos valores atuais. "Se não temos os números para continuar a voar pegamos na operação e vamos para outra região mais atrativa para nós", garante. A transportadora low cost está agora em negociações com o governo regional e assegura que ainda não há uma decisão tomada. Mesmo assim, no site da empresa não é possível comprar viagens para as duas ilhas açorianas a partir do mês de outubro..A Ryanair exige a redução das taxas pagas nos arquipélagos, mas o governo local não tem voto sobre a matéria uma vez que é à ANA, a gestora dos aeroportos nacionais, que compete esta pasta. Em alternativa, Elena Cabrera assume que receber um subsídio "é uma opção" e defende que deve existir "um risco partilhado" com os decisores políticos.."Criar uma rota, para qualquer companhia aérea, é um investimento. Se uma região quer a conexão tem de aceitar partilhar o risco e tem de ajudar a companhia. Subsidiar uma rota é uma partilha de risco", indica. A responsável do mercado ibérico acredita que a operação da low cost liderada por Michael O"Leary é uma mais-valia para os destinos e para as pessoas, permitindo forçar a descida dos preços das suas concorrentes.."Há dois anos que temos uma base na Madeira e os preços, no global das companhias aéreas, já baixaram 36% desde que a Ryanair chegou. Mostrámos que quando a Ryanair chega a uma região os preços gerais das companhias descem. A Ryanair veio ajudar a democratizar o preço das viagens para os portugueses", sublinha..O pedido da low cost não é inédito e as contas provam-no. Desde 2015, ano em que começou a voar para o arquipélago, a irlandesa recebeu mais de 1,5 milhões de euros dos cofres públicos. No total, são sete os contratos disponíveis para consulta no Portal Base. Os pagamentos, assinados pelo governo regional e pela Associação de Turismo dos Açores, que está também sob a tutela do executivo açoriano, variam entre os 24 799 euros e os 920 mil euros..A promoção turística do destino Açores em mercados como a Alemanha ou o Reino Unido justificam as verbas pagas à transportadora. Nos últimos dois contratos disponíveis no portal, datados de 2020, além do valor de 1,3 milhões de euros, estão ainda definidos os pagamentos de dois prémios adicionais, de 240 mil euros e de 70 mil euros, "pela boa execução do contrato e caso a promoção turística, por si efetuada [Ryanair], resulte num aumento da procura do destino Açores, no respetivo mercado"..A secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas dos Açores, Berta Cabral, disse recentemente, aos jornalistas, que o governo regional está neste momento a negociar com a companhia de baixo custo.."Estamos em negociações para procurar minimizar aquilo que for possível e perceber se eles [Ryanair] têm ou não condições para continuar. Nós desejamos que eles continuem e penso que eles também desejam continuar. Estamos em conversações e só espero que cheguemos a bom porto.".Já o secretário das Finanças, Duarte Freitas, admitiu que o governo regional irá impor limites às exigências da empresa irlandesa. "Não podemos dizer que sim a tudo o que nos pedem, porque às vezes isso sai muito caro", alertou. Ao Dinheiro Vivo o governo regional não quis adiantar mais comentários sobre o assunto.