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Cavaco Silva é a partir de hoje o novo Presidente da República e com ele chegam ao Palácio de Belém expectativas fortíssimas quanto ao estilo, à substância e ao recorte institucional de exercício do mais alto cargo da Nação. Muitos esperam dele uma espécie de arrogância gestionária. Esperam que esteja ali o homem que vem endireitar um país debilitado na economia e com os mais baixos índices de desenvolvimento da Europa. Não será assim! Cavaco Silva é apenas - e já é muito - um político dos mais experientes que há em Portugal que vai exercer a Presidência, um lugar onde poderá transmitir competência, seriedade e serenidade institucional, valores muito em falta na política nacional, mas onde também tem uma esfera de actuação condicionada.

A campanha de Cavaco Silva foi a principal geradora desse tipo de expectativas. Pelo seu próprio perfil, o novo Presidente encostou-se muito a um discurso executivo. Tem, agora, o peso dessa opção sobre as costas e dependerá muito da sua capacidade em responder a essas ânsias, conhecendo-se os limites dos poderes do Presidente, uma boa parte da imagem que deixará perante o País.

Um país descrente tende a acreditar em salvadores. Cavaco Silva não vai ser esse salvador, nem será saudável que seja visto dessa maneira, como mais um pai-da-Pátria que vem fazer o trabalho por nós.

A posse de Cavaco, aliás, marca o início do fim de uma importante fase da democracia portuguesa. Daqui para a frente não haverá mais pais-da-Pátria em Belém. Não haverá candidatos com referências tão fortemente ancoradas no combate ou na construção das duas mitologias essenciais do poder em Portugal, o salazarismo e a democracia pós-revolucionária estabilizada com a adesão à Europa, que teve em Mário Soares e em Cavaco Silva dois protagonistas decisivos.

Esta circunstância aumenta ainda mais as responsabilidades do novo Presidente da República, que não deixará de prosseguir a marca deixada por Jorge Sampaio: uma luta incessante pelo valor da estabilidade, num país sempre pronto para crises e lutas institucionais. Dessa capacidade de potenciar a estabilidade como factor de desenvolvimento dependerá muito mais o seu legado futuro do que da esperança sebastiânica de ter um homem providencial em Belém. E, nesse capítulo, só mesmo Cavaco sabe como o seu destino está inelutavelmente ligado ao de Sócrates. Por uns bons anos, pelo menos.

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