... Yanis, ainda está em choque?.Totalmente. Mas o choque foi atenuado pelo facto de estar no Late Night Live. Sinto-me em território familiar neste momento..É agora uma pessoa importante, provavelmente nunca mais o vamos ouvir aqui..É para ver o mundo louco em que vivemos. Isto é o que acontece quando estamos numa situação de medo económico, então, o medo político segue-se-lhe..O The Guardian descrevia-o como um John Maynard Keynes e um Karl Marx. Quer comentar?.Não seria tão presunçoso. Não há qualquer dúvida de que fui fortemente influenciado por Karl Marx, por John Maynard Keynes, mas também fui influenciado pelos libertários e não só. Philip, eu sou um libertário comunista, ou um libertário marxista, mesmo que haja uma contradição nos termos..Deve, na verdade, sentir-se intimidado pela tarefa que o espera..É verdade. Mas é essa a beleza da democracia. Estou em frente a uma janela no Parlamento em Atenas e as pessoas estão ali. Fico deslumbrado com o pensamento de que foram a uma cabina, depositaram os boletins e é por isso que aqui estou. Todo este processo significa que a experiência é importante, mas as ideias também. E que o sistema pode ser derrubado por....Perdemo-lo. Está aí, Yanis?.Sim, estou de volta..Continua a concentrar toda a responsabilidade pela crise, a crise económica grega, na UE?.Não e sim. Deixe-me explicar: a Grécia é um país que tem sido caracterizado desde o século XIX por uma série de malignidades, ineficiência, corrupção, etc., mas não é por isso que continuamos a falar da Grécia. Não é por causa disso. Nós tornámo-nos parte de uma união monetária que não foi nunca concebida para aguentar uma enorme crise financeira como foi a crise financeira global, e claro que as partes mais fracas dessa união monetária são as que começam a sentir mais fortemente quando a zona euro como um todo começa a fragmentar-se. Portanto, a Grécia é responsável por ter sido a primeira peça do dominó a cair, não pelo efeito dominó..Quando falámos recentemente falou não de uma crise política, mas de uma crise humanitária....Deixe-me contar-lhe uma história que marcou a minha pré-campanha eleitoral, a nível pessoal. Estava a ser entrevistado por um jornalista espanhol acompanhado por um ajudante grego, como é costume acontecer. No fim dessa entrevista o grego, que não tinha dito uma palavra, pediu licença em espanhol para falar comigo em grego numa base pessoal. Chegou ao pé de mim, agarrou-me com ambas as mãos e, com os olhos marejados de lágrimas, disse-me: "Sabe, eu ensinava línguas estrangeiras neste país, agora sou sem-abrigo, sou sem--abrigo há dois anos, alguns jornalistas estrangeiros usam-me, mas passo o dia e a noite a percorrer as ruas de Atenas a tentar fingir que não sou sem-abrigo e a preparar--me para as visitas quinzenais à minha filha, em que o meu único objetivo é não lhe mostrar que sou sem-abrigo". Aí, segurou-me nas mãos e disse: "Não há nada que peça para mim. Não há nada que possa fazer. Estou acabado. Mas garanta que outros que estão no mesmo precipício e ainda não caíram, não o façam." Portanto, é esta a situação em que estamos..De certa forma vocês estão carregados de esperança, tal como Obama estava quando foi eleito..Existe esse elemento. Há uma diferença profunda em relação a Obama, deixe-me dizer, nós, os membros do Syriza, acabámos de ser eleitos e de formar governo, sem condicionamentos de espécie nenhuma, não temos nenhum compromisso com interesses de nenhuma organização empresarial, não nos foram impostos quaisquer acordos pré-eleitorais. As pessoas votaram em nós para que enfrentássemos a oligarquia e puséssemos fim a esta crise, espiral deflacionária fatal que, no fim, é terrível não só para o grego médio mas também para o europeu médio..Pessoas que estão a escutar a conversa ouviram a notícia de que o seu primeiro-ministro estendeu um pequeno ramo de oliveira à Europa ao dizer que a Grécia não tem a intenção de não pagar..Há uma discrepância entre aquilo que temos dito e aquilo que a imprensa internacional diz que temos dito. E eu preciso de esclarecer isto. Desde há semanas que sou o ministro das Finanças em perspetiva, agora sou o ministro das Finanças, a minha mensagem para os meus compatriotas gregos, assim como para os cidadãos europeus, é de que não temos qualquer interesse em entrar em guerra com ninguém na Europa, de aparecer com ameaças, bluffs, nem sequer queremos negociar, queremos deliberar com eles. Isto porque a nossa mensagem é a de que esta crise, que começou em 2010 na Grécia, já se espalhou por todo o lado na Europa, há forças deflacionárias até na Alemanha e é tempo de fazermos alguma coisa sensata. A cura foi pior do que a doença em 2010 e, no fim, é o cidadão médio da Europa que beneficiará com isso..Muita da esquerda lê o seu blogue na procura de alimento espiritual e leram o que disse no dia a seguir às eleições: "Ontem, a democracia grega revoltou-se contra a morte da luz e a Europa e o mundo devem juntar-se a nós." Há agora, pelo menos, uma ligeira indicação de que toda a dinâmica política da Europa está a mudar..Também penso que sim. Mesmo aqueles que desdenham a ideologia de esquerda, que não votaram em nós neste país, que não queriam que nós fossemos eleitos, olham para nós agora e irão olhar no futuro, como uma oportunidade que a Europa tem de recomeçar, com ideias frescas. Não estamos interessados em impor as nossas opiniões monoliticamente no resto da Europa. Somos demasiado pequenos e estamos demasiado falidos para isso. Mas o que podemos fazer é pôr um fim a este discurso tabu orwelliano que tem caracterizado a Europa nos últimos cinco anos, porque, sabe, se falar com as entidades europeias quer elas estejam na Comissão em Bruxelas, em Frankfurt no BCE ou em governos, se falar com eles sem microfones ligados, atrás de portas fechadas, há ideias válidas sobre o que deveríamos fazer, como europeus. E depois, tem as reuniões, sabe, os Conselhos de Ministros, o Conselho Europeu, etc., e, de repente, é como se estivessem a imitar a União Soviética, há uma linha do partido, toda a gente fala, mas ninguém acredita naquilo. Este duplo discurso tem de acabar e o que viemos fazer foi desmontá-lo. Temos a esperança de abrir uma pequena porta para a luz. Para a luz de Dylan Thomas. E os outros seguir-nos-ão..Entrevista gravada e emitida a 29 de janeiro de 2015 no programa Late Night Live, ABC Radio National, Sydney, Austrália