Eólicas da EDP dão nas vistas no deserto da Califórnia

Quando o presidente executivo da EDP, António Mexia, chegou ao aeródromo do deserto de Mojave, na Califórnia, nos EUA, comentou, gracejando: "Bem, pelo menos temos vento!" Lá fora, as rajadas eram inesperadamente frias e atingiam uns 41 km por hora, o suficiente para obrigar a atar o cabelo e a vestir casacos quentes. Mas era o normal para o mais recente parque eólico da EDP Renováveis no país, o Rising Tree Wind Farm. "Isto é mais uma aragem", brincou Jim Schroeder, o responsável pela supervisão da construção, desde os testes de vento até as pás das torres estarem todas a girar. Neste caso isso só acontecerá lá para meados de junho, porque o projeto está divido em três fases e só a primeira e a segunda já estão totalmente operacionais.
Publicado a

Quando o presidente executivo da EDP, António Mexia, chegou ao aeródromo do deserto de Mojave, na Califórnia, nos EUA, comentou, gracejando: "Bem, pelo menos temos vento!" Lá fora, as rajadas eram inesperadamente frias e atingiam uns 41 km por hora, o suficiente para obrigar a atar o cabelo e a vestir casacos quentes. Mas era o normal para o mais recente parque eólico da EDP Renováveis no país, o Rising Tree Wind Farm. "Isto é mais uma aragem", brincou Jim Schroeder, o responsável pela supervisão da construção, desde os testes de vento até as pás das torres estarem todas a girar. Neste caso isso só acontecerá lá para meados de junho, porque o projeto está divido em três fases e só a primeira e a segunda já estão totalmente operacionais.

O Rising Tree será, assim, o primeiro dos três novos parques que a Renováveis vai terminar este ano nos EUA e que foi visitado por António Mexia esta quinta-feira de manhã. A ele junta-se o Ad Astra no Kansas e o Rose Rock, em Oklahoma, que no total representam um investimento de 600 milhões de euros e mostram a importância cada vez maior que os EUA têm no crescimento da Renováveis e do próprio grupo EDP.

"Dois terços das nossas adições de MW para 2015 e 2016 estão aqui", disse Mexia. Além disso, adiantou o CEO da Renováveis, João Manso Neto, após 2020, "quase metade das centrais a carvão vão fechar e vai ser preciso substituir a eletricidade que era gerada por elas e serão as renováveis a ter esse papel por causa das metas de emissões de carbono", nota.

Há, por isso, muito por onde crescer nos EUA nas renováveis, mesmo quando o gás de xisto permitiu descer o preço do gás no país para quatro dólares. "Neste momento já há zonas com bom vento onde é possível fazer eólicas sem subsídios fiscais a preços que competem com o gás de xisto", esclareceu Manso Neto. E muito disto é por causa da evolução tecnológica das turbinas e das pás.

A Disney dos engenheiros

Jim tem 66 anos e 30 de parques eólicos. "Sou um dos velhos e continuo a adorar o que faço", disse com um sorriso na cara. Nascido no estado do Michigan, na ponta oposta da Califórnia, Jim entrou para esta indústria em 1984, quando ainda mal se faziam renováveis nos EUA. E foi precisamente no deserto de Mojave, na mesma área onde hoje está o parque da EDP, que trabalhou no seu primeiro projeto. "Foi nesta zona em particular, que é uma das ventosas dos EUA, que se construíram as primeiras eólicas do país", explicou Johnny Casana, diretor regional e responsável diplomático da EDP Renováveis.

A paisagem é, por isso, impressionante. Em apenas 35 mil hectares de deserto árido, onde a terra batida se mistura com areia e os cactos se cruzaram com palmeiras e formaram as chamadas "joshua tree", estão hoje 4500 torres eólicas, montadas nos últimos 31 anos e todas elas de altura, tamanho e potência diferente. Algumas até já estão enferrujadas ou paradas e são hoje uma peça daquilo que, na gíria local, chamam de "museu das eólicas".

"É aqui que dá para perceber bem a evolução que as turbinas tiveram. No início, quando o Jim começou aqui a trabalhar, cada uma tinha capacidade de 100 KW e 25 metros, mas agora já chega aos 3,3 MW e aos 130 metros de altura", contou Johnny. É o caso do parque da Renováveis, cujas 60 eólicas se destacam entre as 4500. São as maiores com uma capacidade de 3,3 MW, torres de 130 metros de altura e pás de 95 metros que são também curvadas nas pontas em vez de serem rectas.

Estas torres e turbinas, que neste caso são fabricadas pela dinamarquesa Vestas, são o topo de gama e do mais recente que há atualmente no mercado e são também as que a EDP Renováveis tem estado a usar nos EUA. Elas custam quatro milhões de euros cada uma, quando as anteriores custavam em média um milhão, mas aproveitam melhor o vento e, por isso, permitem ganhar mais dinheiro.

O primeiro parque solar

Foi também a evolução tecnológica e os preços mais baixos dos painéis fotovoltaicos que permitiu à Renováveis avançar para a construção do Lone Valley, o primeiro - e até agora único - parque solar da empresa portuguesa nos EUA, avaliado em 90 milhões de euros.

Ao contrário das eólicas do Rising Tree, que se destacam das mais antigas localizadas na mesma área, os 120 mil painéis que compõem este parque situado entre Los Angeles e Las Vegas, surgem dissimulados na mesma paisagem árida do deserto da Califórnia. Nas duas horas e meia de caminho que separam os dois projetos há apenas uma pequena cidade e rigorosamente mais nada a não ser planícies carregadas de vegetação seca e algumas montanhas despidas e tristes. Mais perto do parque há sim uma antiga fábrica de cimento, que ainda está em funcionamento, mas que está tão longe que mal se vê.

Ninguém diria que naquele terreno de 100 hectares estão painéis - por acaso comprados na China - que produzem eletricidade suficiente para abastecer 10 mil casas, mais precisamente 80 GWh num dia normal. Não foi o caso de quinta-feira, quando o sol só espreitava ocasionalmente, mas é esta a média conseguida nos ainda poucos meses deste parque inaugurado no ano passado.

Com esta produção, a EDP Renováveis garante um retorno do investimento em oito anos, nota o responsável da empresa nos EUA, Gabriel Alonso, mesmo quando fazer um parque solar é ainda mais caro e difícil que um eólico. Não só demora quase o dobro do tempo, como precisa de mais pessoas na construção, neste caso 450 trabalhadores/as.

Tavez por isso é que, os parques solares são, para já apenas uma experiência da EDP Renováveis. "Para fazer mais do que isto temos de ver as vantagens competitivas. Há empresas que fazem melhor ou igual a nós eigual não chega, temos de ser melhores", disse Manso Neto.

Vida para além dos EUA

Mexia não nega que, neste momento, os EUA são o país onde o retorno dos investimentos é mais satisfatório, mas rejeita que possa haver uma dependência. Aliás, não quer de todo ficar refém deste mercado apesar de todas as oportunidades que ele apresenta. "Pós 2017 haverá outros mercados e depois e 2020 há ainda muito para fazer na Europa", repara. Seja nas eólicas, no solar ou nas barragens.

Na verdade, seja onde for, as energias limpas são o grande motor de crescimento da EDP e a partir de 2017 vão já representar 33% dos resultados operacionais do grupo. "Neste momento, as renováveis são o negócio onde é mais fácil ter visibilidade", disse, lembrando que a construção das barragens em Portugal está praticamente terminada e que restam apenas os negócios das redes de distribuição e da venda de eletricidade aos clientes.

Mas Mexia garante que, da mesma forma como a EDPR não vai ficar refém dos EUA, também a casa-mãe não vai ficar dependente apenas das renováveis para crescer. "Encontrámos nas renováveis a capacidade de nos diferenciar e de crescer mais depressa, mas queremos que se mantenha o efeito portfolio e isso passa pela diversificação. Renováveis, redes e clientes são vários pilares da mesma estratégia", rematou.

*Em Los Angeles, a convite da EDP

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt