ESG deve ser incorporado como um objetivo estratégico  

ESG não deve ser visto como um "<em>nice to have</em>", mas como uma parte essencial da estratégia para garantir o sucesso e a longevidade. Isso implica a definição de objetivos e a medição dos progressos.
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O tema da Sustentabilidade, Ambiental, Social e de Governance (ESG) tem vindo a ganhar um lugar de destaque no mundo dos negócios, e as pequenas e médias empresas (PME) em Portugal têm que adaptar-se para não ficarem para trás. A crescente relevância da avaliação do impacto do ESG nas PME, e a necessidade de integração de planos de transição nas suas estratégias, estiveram em debate no segundo no "Programa Sustentabilidade para Pequenas e Médias Empresas, "uma iniciativa do Novo Banco em parceria com a CCIP (Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa) e o Global Media Group, que contou com a presença de Clara Moura Guedes, CEO do Monte do Pasto, Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting, e de Inês Soares, head of ESG Office do Novo Banco.

Um dos pontos centrais discutidos foi a importância da transição energética para as PME. Entre os presentes, é unânime a opinião de que as empresas que melhor se prepararem para essa transição serão as mais resilientes e financeiramente robustas. "Esta é uma preocupação legítima, considerando os desafios ambientais e económicos que o mundo enfrenta", defende Bernardo Maciel.

O setor agropecuário, exemplifica Clara Moura Guedes, é muitas vezes visto como poluente. No caso do projeto do Monte do Pasto, que dirige, "conseguimos demonstrar que a forma como as coisas são feitas, e o uso de recursos tecnológicos podem tornar esta atividade não apenas não prejudicial, mas benéfica em termos de impacto ambiental". A CEO revela que esta foi uma preocupação desde o início do projeto, essencialmente devido à realidade do setor onde se insere. "O projeto sofreu um processo de turnaround profundo, sempre com estes dois aspetos fundamentais em linha de conta".

A explorar uma área de 4200 hectares, o Monte do Pasto apostou num nicho de mercado - o projeto ethical meat - dedicado à produção de carne sustentável, focado no bem-estar animal e na redução do impacto ambiental. "Controlamos a cadeia toda, desde o nascimento do vitelo até à produção da carne", explica Clara Moura Guedes. Além disso, a CEO revela que existem, em paralelo, um conjunto de outras ações, nomeadamente, na parte da embalagem, do prazo-validade, etc..
Outro projeto, desenvolvido em colaboração com duas universidades, foi a introdução de painéis solares na propriedade, com uma dupla função: produção de energia solar específica para fornecer sombreamento aos animais que estão por baixo dos painéis. "Esta combinação demonstrou benefícios significativos, como economias de energia (25%) e aumento de produtividade (25%)", salienta a responsável pelo Monte do Pasto.

As empresas, sobretudo as PME, enfrentam desafios significativos em relação à regulamentação e legislação sobre sustentabilidade e ESG. Para enfrentar esses desafios, é fundamental que as organizações incorporem o ESG como um objetivo estratégico, ajustando-se às normativas em constante evolução. Essa integração antecipada pode ser benéfica para evitar riscos financeiros e garantir a sustentabilidade a longo prazo. "As empresas devem considerar o ESG não como um nice to have, mas como uma parte essencial da sua estratégia para garantir o sucesso e a longevidade", defende Clara Moura Guedes. Contudo, isto implica a definição de objetivos, a medição dos progressos e a comparação com outras empresas do setor, num esforço para identificar áreas de melhoria. Uma opinião partilhada por Inês Soares que acredita que "a integração eficaz do ESG nas estratégias de negócios não é apenas uma obrigação regulatória, mas também um caminho para a sustentabilidade financeira a longo prazo".

Bernardo Maciel sublinha ainda que "as empresas que abraçam este desafio estão a preparar-se para um futuro mais resiliente e bem-sucedido". Na sua perspetiva, há uma preocupação por parte do setor empresarial essencialmente nas questões relacionadas com os fornecedores e clientes na cadeia de valor, com a vertente financeira, "obviamente relevante", e também com as questões ambientais, "seja por uma questão de posicionamento, seja por uma questão de custos, devido a energia, por exemplo".

A regulamentação que atualmente está a ser preparada pela União Europeia, com diretivas como a Taxonomia ou a CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive) permitirá, acreditam os participantes do debate, uniformizar o caminho a percorrer pelas empresas, e apoiar a sua transformação. No entanto, alerta Inês Soares, é preciso simplificar e tentar estas regras para que seja óbvia a comparação entre as diferentes empresas, os diferentes setores de atividade e os diferentes intervenientes das cadeias de valor. "Esse é o grande desafio", reforça, recordando que há mais de 300 certificações ligadas à sustentabilidade a nível internacional e "até haver uma uniformização daquilo que é relevante do ponto de vista normativo vai levar tempo".

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