
Deve ter sido em 1989, ano em que acabei a licenciatura em Economia. Num início de noite de Queima das Fitas, sentado no café Bom Dia, na Praça Velasquez, no Porto, com a inconsciência da juventude e da cerveja, comentava com o meu colega Ricardo Cruz o triste estado do país que as gerações anteriores nos legavam e a nossa obrigação de fazer melhor. A noite aligeirou-nos a inquietação.
O PIB per capita – o valor produzido, em média, por cada habitante – é um indicador fundamental do desempenho económico de um país. Em 2022, em Portugal, terá sido de 23 530 euros. Entre os 27 membros da União Europeia só oito produziram menos: Bulgária, Roménia, Polónia, Croácia, Hungria, Grécia, Eslováquia e Letónia. Com exceção da Grécia, todos vítimas do delírio comunista. Há dez anos, em 2012, havia dez países atrás de nós. Em 1995, data mais recuada para que encontro dados no Eurostat, eram doze países atrás de nós. Estamos a ficar para trás.
As perspetivas para os próximos anos não são animadoras. O PIB per capita corresponde à multiplicação do produto por trabalhador, isto é, a produtividade, pela percentagem que os trabalhadores representam na população, ou seja, a taxa de população ativa.
A taxa de população ativa vai certamente cair. Portugal é já um dos cinco países com a população mais envelhecida do mundo e as perspetivas demográficas do país são tenebrosas. Segundo o INE, num cenário sem migrações, a nossa população diminuiria cerca de 700 mil pessoas até 2040, com a percentagem dos que têm entre 20 e 64 anos a cair de 58% para 51%. Podem muitos de nós estar desconfortáveis com o rápido crescimento do número de imigrantes, mas, sem eles, é difícil vislumbrar um futuro para o país.
Quanto à produtividade, está de há muito identificada como o principal problema económico do país. Num certo sentido, é verdade. Mas não exatamente no sentido em que muitos entendem essa afirmação. A questão não é cada trabalhador produzir mais. O problema português não é que a costureira do Vale do Ave faça menos camisas do que a de Milão. Talvez faça, há eventualmente melhorias a obter a esse nível. Mas a diferença fundamental é que a camisa de Milão se vende por um preço muito superior à de Creixomil. A produtividade é o valor obtido por unidade de recurso utilizado e o nosso problema é conseguir que o mercado valorize o que fazemos. E fazer coisas com maior potencial de valorização no mercado.
É certo que não correu tudo mal. Desde 1995, o nosso produto por habitante aumentou 160%. O da Alemanha aumentou só 90%, o que vai consolando alguns de nós. Mas, em 1995, o PIB per capita da Alemanha já era maior do que o nosso é agora. E, desde então, aumentou mais 22 mil euros por pessoa, quase tanto como nós temos no total. Entretanto, o PIB per capita da Eslovénia cresceu 230%, o da Chéquia 480% e o da Estónia 1200%. O da Irlanda, que já estava bem à nossa frente, aumentou 574%.
Não fizemos grande coisa, Ricardo!
Vasco Rodrigues, diretor do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada (CEGEA) na Católica Porto Business School