Bruxelas está de novo a tentar criar
um "céu comum" aos 27 Estados Membros da União Europeia, com
vista a eliminar a "fragmentação e as ineficiências" na gestão
do espaço aéreo. A proposta não é consensual e já deu origem a
movimentos de contestação, com uma greve de vários dias dos
controladores aéreos franceses.
O plano assenta em quatro pilares,
tendo a questão ambiental e a segurança do tráfego de aviões como
bandeiras principais, mas não só. "Precisamos de aumentar a
competitividade do sector europeu da aviação e criar mais empregos,
nas companhias aéreas e nos aeroportos ", afirmou o comissário
europeu dos Transportes e Mobilidade, Siim Kallas, sem concretizar
quantos postos serão criados.
O presidente do conselho de
administração da NAV Portugal, Luís Coimbra, tem uma visão
diferente. "Este modelo de "espaço aéreo único" apresentado
ao Parlamento Europeu não é uma alternativa técnica, operacional
ou económica, tendo em vista o horizonte 2015-2019, como se
pretende", refuta o responsável, em declarações ao DN. "Aliás,
o ano passado foi historicamente na Europa o melhor ano em termos de
segurança operacional da aviação civil. E se existem
constrangimentos na aviação civil e comercial naquele horizonte, o
principal constrangimento será muito provavelmente a nível
aeroportuário e não no espaço aéreo."
A reforma que está em curso
propõe a separação de serviços de apoio, como a meteorologia,
informações aeronáuticas, comunicações, navegação e
vigilância, de modo a poderem ser postos a "concurso público, de
uma forma aberta e transparente, sob regras normais de mercado". O
comissário Kallas acredita que surgirão "novas oportunidades de
negócios para as empresas prestadoras de serviços de apoio às
organizações de controlo de tráfego aéreo".
Neste momento são operados no espaço
europeu 27 mil voos diários, o que corresponde a 800 milhões de
passageiros por ano, em mais de 440 aeroportos. Bruxelas indica que
80% desses voos são operados dentro da União Europeia. "As nossas
companhias aéreas e seus passageiros tiveram de suportar mais de dez
anos de serviços reduzidos e prazos não cumpridos. Não podemos
dar-nos ao luxo de continuar este caminho."
Bruxelas estima que o tráfego
aéreo venha a crescer até 3% ao ano, sendo que o número de voos
deverá aumentar em 50% nos próximos dez a vinte anos.
"Se não fizermos algo, o caos
reinará", afirmou Siim Kallas, sublinhando que "a Europa não só
teria de rejeitar grande parte da procura potencial, como também se
tornaria vulnerável a atrasos e cancelamentos de voos numa escala
sem precedentes".
O Espaço aéreo da UE está dividido
em 27 sistemas nacionais e baseia-se nas fronteiras nacionais,
dividindo-se em 650 sectores - algo que muitas vezes impedes rotas
diretas. Em média, os aviões têm de voar 42 quilómetros além do
necessário. Ou seja: mais tempo de voo, atrasos, consumo extra de
combustível e mais emissões de CO2.