Framedrop. Nunca foi tão fácil cortar clipes curtos de vídeo

Começou por ser uma ideia para cortar vídeos a jogar Call of Duty Warzone e tornou-se numa importante ferramenta para o media que automatiza o processo de corte de vídeos longos em clipes dos melhores momentos. A Framedrop foi considerada a startup mais promissora nos Entrepreneurs Awards, da Startup Lisboa.
Foto: D.R.
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A Framedrop transforma automaticamente um vídeo longo num vídeo curto e pronto para ser partilhado nas redes sociais. No caso da gravação de vídeos de entrevistas, debates, podcasts, TED Talks, por exemplo, a plataforma consegue, através de inteligência artificial, extrair os melhores momentos dessa conversa em pequenos clips e dar-lhes logo um formato vertical, se for preciso, para redes sociais como Instagram e TikTok. É isto que está a atrair produtores de conteúdo e especialmente os grupos de comunicação social em Portugal.

Tudo começou na plataforma de gaming Twitch com aquele que viria a ser o cofundador da Framedrop, JD Costa. Este developer queria ir mais além nos vídeos que gravava a jogar Call of Duty Warzone e, em 2021, cria um primeiro algoritmo para encontrar os melhores momentos das gravações num simples automatismo. Há mais de dez anos, desde a Universidade em Coimbra, que conhecia Mário Tarouca. Não foi de estranhar por isso quando Mário, que na altura era head of growth da plataforma de entrega de refeições EatTasty, recebeu uma mensagem do amigo a perguntar-lhe se sabia como distribuir no mercado este produto.

Cinco meses depois, em maio de 2022, já estavam os dois fundadores a trabalhar em full-time na Framedrop. “A partir daí, desenvolvemos vários algoritmos para vários jogos. Durante um ano e meio, dois anos, tentámos vender esta solução de várias formas, é o chamado pivot”, explica Mário Tarouca. “Inicialmente, tentámos vender aos streamers, aos criadores de conteúdo, às organizações dos streamers, às equipas deles, aos fãs, à comunidade, às marcas. Tentámos vender de várias formas e percebemos por várias razões que não era por aí, não era escalável. Num modelo de negócio como o nosso, queremos algo escalável, replicável e que cresça rapidamente em números bastante grandes.”

No caso dos streamers, a maioria tem menos de 25 anos e não tem ainda a perceção do valor do seu tempo. Depois de estarem 10 horas a jogar em streaming, ainda que completamente esgotados, preferem ser eles a rever as imagens, ou muitos deles anotavam num caderno dos tempos, para saber onde cortar os vídeos dos melhores momentos – explica Mário Tarouca. E fazem isso em vez de pagarem 30 dólares por mês.

A partir daqui, Mário e JD mudaram de estratégia. Criaram novos algoritmos para talking content, como entrevistas, apresentações, debates, podcasts, e integraram a tecnologia com o YouTube. Conseguiram automaticamente, com recurso a inteligência artificial, encontrar os melhores momentos de um vídeo para cortar em clips curtos, enquadrar na vertical, legendar, adicionar grafismo e depois partilhar nas redes sociais ou noutros formatos.

“Pesquisámos e trabalhámos com mais de 50 agências ou produtores de podcasts, em que nós tentámos perceber se existe um padrão, isto é, um highlight, um melhor momento num podcast ou numa entrevista”, explica Mário. E perceberam alguns padrões. “Por exemplo, dizer um número é algo que pode ser interessante do ponto de vista viral para as redes sociais. Outra é uma bold prediction, algo que futuramente que vir a acontecer – por exemplo, dizer o Trump vai ganhar as eleições. Não quer dizer que nós concordemos ou não com isto, mas é um hot topic, portanto, está trending nas redes sociais, isto pode tornar-se viral”, prossegue o cofundador e COO da Framedrop. “com esses 30 a 60 segundos nas redes sociais, conseguirmos promover um conteúdo e depois trazer o utilizador a ouvir os tais 30 minutos do podcast” no site ou na plataforma que o difunde.

Este foi o ponto de inversão que, desde o início do ano, levou a plataforma Framedrop, que junta uma parte gratuita com outra premium, a duplicar o número de utilizadores mês após mês, até aos atuais 100 mil, e uma faturação anual recorrente de 300 mil euros. “Estamos a crescer brutalmente, simplesmente porque integrámos com o YouTube e lançámos este algoritmo”, avança Mário. Com suporte em 25 línguas e com um alcance já em 50 países diferentes, mais de metade dos utilizadores da plataforma estão nos Estados Unidos, 10% estão no Reino Unido, o que mostra a necessidade do mercado global numa solução como esta. “Apesar de sermos uma empresa portuguesa e estarmos cá, sempre olhámos para o mundo como o nosso mercado.”

Já captaram 1,1 milhões de investimento, com sede em Coimbra e até 10 colaboradores este ano, a Framedrop está incubada no Instituto Pedro Nunes, mas também está na capital, há quase um ano, com a Startup Lisboa. Em Portugal, “o momento chave foi uma apresentação [no TestBed AMCC – Aveiro Media Competence Center] em que, com a maior parte dos media em Portugal, em que nós, e outras startups com várias soluções para a indústria dos media, tivemos a oportunidade de em três ou cinco minutos fazer uma apresentação.”, recorda o cofundador da Framedrop. “Permitiu-nos chegar aos maiores media groups em Portugal com uma só ação e de conseguir chegar lá e ter as portas abertas para ir às redações.”

Nascido na Covilhã, Mário Tarouca mudou-se aos 18 anos para estudar Gestão em Coimbra, pelas histórias que ouvia do avô que por lá tinha andado. Chegou a ser presidente, durante um ano letivo, da Júnior Empresa de Estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (JEEFEUC), onde fez inúmeros contactos para a vida e ganhou experiência de liderança. O seu objetivo era trabalhar no setor do Turismo, o que acabou por apenas acontecer por “diversão” quando começou a gerir alojamentos locais (AL) em Lisboa. Sempre teve espírito empreendedor. Em 2017, para resolver o problema dos pequenos-almoços em AL criou a Breadfast, que dois anos depois foi adquirida pela EatTasty.

Esta semana, A Framedrop foi distinguida como a startup mais promissora nos Entrepreneurs Awards no Capitólio, em Lisboa, que é o evento da Startup Lisboa que atribui também o ambicioso Prémio João Vasconcelos, Empreendedor do Ano.

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