Gastos com pessoal na CP disparam 76,2% desde 2016
Paulo Spranger

Gastos com pessoal na CP disparam 76,2% desde 2016

O custo com pessoal na empresa pública que opera os comboios tem vindo a subir e só desde há três exercícios é que registou lucros. Mesmo assim, esse resultado positivo resultou de transferências do Estado por conta do pagamento de serviço público e pelo saneamento da dívida. Número de comboios suprimidos quase triplicou entre 2022 e 2023.
Publicado a

Os gastos com pessoal na CP dispararam 76,2% desde 2016, passando de 99,3 milhões de euros para cerca de 175 milhões no final de 2024. Números consultados pelo Dinheiro Vivo nos relatórios e contas da empresa – que atualmente tem o serviço completamente paralisado devido a greves. Quanto ao valor relativo ao ano completo de 2024 foi avançado ontem pelo jornal Eco.

Assim, os gastos com pessoal na CP – empresa que tem quase o monopólio do transporte ferroviário em Portugal – passaram dos 99,3 milhões em 2016 para 109 milhões em 2019. Dois anos depois, em 2021, o valor disparou para 145,77 milhões e para 151,23 milhões em 2022. No ano seguinte, em 2023, o valor subiu fortemente, para 160,54 milhões. No final de 2024, novo salto de 15 milhões, fixando-se em cerca de 175 milhões de euros. No total do trajeto desde 2016 regista-se uma subida de 76,2%

Paulo Spranger

A CP, uma empresa historicamente deficitária, apresentou em 2022 o seu primeiro resultado positivo de sempre, quando registou 9,2 milhões de euros de lucros. No entanto, este valor positivo requer uma explicação: só foi possível porque o Estado transferiu para a CP 85,3 milhões de euros relativos a uma indemnização compensatória pela prestação do serviço público de trans- porte de passageiros.

Estas transferências do Estado ficaram acertadas no primeiro contrato de serviço público assinado entre as duas partes em 2019 – quando Pedro Nuno Santos era ministro das Infraestruturas – estando previsto que vigore até 2030. 

31.300
Comboios suprimidos na CP no ano de 2023, quase o triplo do ano anterior. Quase 9000 devido a greves, diz a empresa.

Por outro lado, em 2021 – também com Pedro Nuno Santos à frente da tutela – o Governo de António Costa aprovou o saneamento da dívida histórica da CP, medida que foi inscrita no Orçamento do Estado para 2022, com uma dotação de 1,8 mil milhões de euros. Foi já com João Galamba à frente do ministério que a dívida da CP foi limpa, numa operação contabilística que, segundo o executivo da altura, não teria impacto no défice.

Ainda assim, por essa altura já a CP tinha beneficiado de cerca de 2 mil milhões de euros em aumentos de capital por parte do acionista Estado, realizados entre 2015 e 2019. Transferências consideradas, na altura, essenciais para fazer frente ao serviço da dívida, para investimentos e para cobrir despesas com pessoal.

Gastos com pessoal na CP disparam 76,2% desde 2016
Segundo dia de greve na CP volta a ter 100% de adesão

Em 2023, já neste contexto, a CP registou um lucro de 3,6 milhões de euros, uma quebra de 60% face ao ano anterior. De acordo com o jornal Eco, os lucros em 2024 foram ainda menores: 1,8 milhões de euros, 50% abaixo de 2023.

Além dos gastos com pessoal, um outro indicador – também este relacionado com a greve atualmente em curso – tem vindo a disparar: o número de comboios suprimidos.

De acordo com dados da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), o número de comboios suprimidos passou de 2659 em 2016 (primeiro ano completo do governo PS apoiado pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, conhecido como Geringonça) para 3543 em 2019 e 8674 dois anos depois, em 2021. O primeiro grande salto acontece já após o fim da Geringonça, quando o número de comboios suprimidos passa para 11.534 comboios em 2022.

Gastos com pessoal na CP disparam 76,2% desde 2016
Greve da CP. Montenegro fala em "injustiça" e admite mexer na lei. Pedro Nuno Santos critica "autoritarismo"

As greves em curso na CP tem sido alvo de intenso debate político, em contexto de campanha eleitoral. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, (AD) admitiu mexidas na lei da greve [as atuais paralisações decorrem sem fixação de serviços mínimos, por decisão do tribunal] e falou em motivações políticas, numa referência à influência do PCP em mui- tos dos sindicatos que representam os trabalhadores ferroviários. 

Em 2023, já com o PCP na oposição ao governo de maioria absoluta de António Costa, o número de supressões quase triplicou face a 2022: 31.300 comboios suprimidos, segundo números nos relatórios da CP, incluindo quase 9 mil devido a greves.

Diário de Notícias
www.dn.pt