Em São Tomé e Príncipe, grande parte do território foi concessionado por um empresário que tem protegido os interesses dos locais. Exemplo é raro no continente africano
Em São Tomé e Príncipe, grande parte do território foi concessionado por um empresário que tem protegido os interesses dos locais. Exemplo é raro no continente africanoGERARDO SANTOS

Hilton e Marriot reforçam em África. Populações perdem

Um novo estudo levado a cabo por investigadores da Universidade de Manchester, no Reino Unido, dá conta de que os esforços de alguns países africanos para atrair o turismo de luxo têm trazido benefícios limitados para as comunidades locais e, muitas vezes, causando mais danos do que benefícios.
Publicado a

A investigação, citada pela agência Reuters, salienta que o aumento das viagens de negócios e lazer no continente tornou-o cada vez mais atrativo para empresas multinacionais, com as companhias aéreas a aumentaram a sua capacidade para aqueles destinos, num esforço de vários governos para conseguirem ter mais retorno para as suas economias. Grandes grupos hoteleiros como o Hilton ou o Marriot têm reforçado a sua presença em África, com unidades de luxo destinadas a clientes que, por norma, gastam muito dinheiro durante as suas estadas em, geralmente, resorts com tudo incluído - que os ajuda também a não ter qualquer tipo de contacto com as populações locais.

O grupo Hilton anunciou, em junho, ter planos para entrar em Angola, no Gana e no Benim com unidades, e também regressar aos mercados de Madagascar e da Tanzânia. O horizonte temporal desta estratégia de expansão não foi, no entanto, divulgado no comunicado libertado então pela empresa. No mesmo sentido, o Marriott anunciou que espera ter, em 2027, mais 50 unidades hoteleiras no mundo, incluindo em cinco novos mercados: Cabo Verde, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Madagascar e Mauritânia.

Em comum, grande parte destes países tem o facto de ter economias em vias de desenvolvimento, com uma percentagem significativa da população a viver abaixo do limiar da pobreza.

É por essa razão que os governos africanos têm reforçado os esforços para atrair mais empreendimentos e, consequentemente, visitantes.

Apelidam-nos como sendo “de alto valor e baixo impacto”. No entanto, a investigação da Universidade de Manchester, publicada a African Studies Review descobriu que nem sempre é esse o caso. Os resorts com tudo incluído estão, muitas vezes, isolados da vida local, contratam poucos trabalhadores locais e impedem os turistas de gastar nas comunidades vizinhas, fornecendo tudo no local, lê-se no estudo.

A pesquisa acrescentou ainda que os alojamentos ecológicos mais lucrativos eram de propriedade estrangeira, com grande parte dos gastos dos turistas a fluir para agências de viagens no estrangeiro, importação de alimentos ou lucros repatriados para o estrangeiro, não representando benefício para a economia local. Também argumentou que o turismo de luxo intensifica a desigualdade, com os lucros concentrados entre operadores estrangeiros ou uma pequena elite local, enquanto os salários da maioria dos empregos no turismo permanecem baixos.

Segundo os mesmo investigadores, estas questões estão a alimentar o aumento de tensões no terreno. A Reuters escreve que, na semana passada, um ativista local entrou com uma ação judicial para impedir a abertura de um novo Ritz-Carlton, um luxuoso alojamento de safári, que safari com piscinas e serviço de mordomo personalizado, na reserva Maasai Mara, no Quénia.

Esta disputa é o mais recente ponto de conflito nas savanas da África Oriental entre o turismo de luxo e os pastores Maasai, que afirmam que o desenvolvimento do setor está a prejudicar os seus habitats e modos de vida. No Quénia, os habitantes locais têm-se queixado do que consideram ser apropriação de terras por parte de investidores ricos. Na Tanzânia, os protestos contra a expulsão de dezenas de milhares de Maasai para dar lugar a alojamentos de caça levaram já a confrontos mortais com a polícia.

Diário de Notícias
www.dn.pt