José Padilha: "Lula ama malandro de botequim"

A entrevista a José Padilha, feita no início de julho, em Los Angeles, Califórnia, somando mais de 7 milhões de visualizações no Facebook da revista "Trip", começa agora em Portugal, ser partilhada com muitos comentários. Nela, o realizador de "Tropa de Elite" e mais recentemente da série para o Netflix, "Narcos", revela porque deixou o Brasil. Pelo meio faz críticas duras aos políticos e aos polícias.
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Padilha revela que resolveu deixar o Brasil depois de sofrer uma tentativa de sequestro no pequeno estúdio, no Rio da Janeiro, onde realizou um dos grandes sucessos da sua carreira "Tropa de Elite" 1 e 2.

Colocando a hipótese de vigança da parte dos polícias corruptos que o processaram pelo filme "Tropa de Elite 2" e perderam na justiça, o realizador defende, sem tábús, que "antes de ocupar a favela, você tem que ocupar o batalhão de polícia".

José Padilha temeu pela segurança da sua família, pelo que decidiu aceitar o convite para trabalhar em Los Angeles, onde foi responsável por Robocop (2014), o seu primeiro filme como realizador em Hollywood, com o ator sueco Joel Kinnaman.

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"O Brasil perdeu a sensibilidade para o absurdo", diz José Padilha, na entrevista à revista, dando o exemplo: "uma pessoa para assaltar outra que vai de bicicleta esfaqueia essa pessoa". Algo impensável em Nova Iorque, por exemplo. Numa situação dessas, "a cidade era fechada, não ia acontecer, porque quem está quem Nova Iorque, nós não conseguimos".

José Padilha responsabiliza os políticos pela má gestão do seu país, que o levou ao estado de corrupção e insegurança pública, depois de promessas não cumpridas. E recusa-se a escolher o menos pior, associando o seu nome a bandidos. "No minuto que você aceita associar o seu nome a bandidos, você já perdeu, porque o seu parâmeto ético e moral desceu ao nível de discussão de botequim. E nessa discussão, o Lula [anterior presidente do Brasil] ganha, porque ele ama malandro de botequim", atira.

Para mostrar que o mau exemplo vinha de cima, José Padilha conta, na mesma entrevista, que foi ele próprio a casa do músico e então ministro da Cultura Gilberto Gil confiscar um DVD pirata do seu filme: "Eu fui pra zoar. Ministro da Cultura que vê filme pirata tem que sacanear", diz.

À medida que foi entendendo o país, como não conseguia resolver nada, foi fazendo aquilo que sabia fazer melhor: documentar, filmar, divulgar. Uma dessas formas foram os filmes "Tropa de Elite 1" e "Tropa de Elite 2", chegando a ser anunciado um terceiro filme, mas que não foi para a frente. Percebe-se agora a razão, embora Padilha tenha dito na altura (início de 2014), que não queria fazer um filme apenas pelo lucro.

Mas José Padilha tem mais uma razão para se sentir feliz com a mudança para Los Angels. A série "Narcos", que conta a história real dos esforços dos EUA e Colômbia para combater o temido traficante Pablo Escobar (Wagner Moura) e o cartel de Medellín, uma das organizações criminosas mais ricas e impiedosas da história, foi um sucesso.

Com boas críticas na estreia, a série de 10 episódios iniciais será disponibilizada a partir desta sexta-feira para todos os territórios em que a rede de streaming Netflix opera.

No elenco de "Narcos" estão ainda o americano Boyd Holbrook (Boas Raparigas) e o chileno Pedro Pascal (Game of Thrones), que interpretam agentes da DEA. Entre os colômbianos estão os atores Juan Pablo Raba (El corazón del océano) e Manolo Cardona (Covert Affairs), mas também há atores de nacionalidade britânica, mexicana, entre outras.

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