A partir desta sexta-feira a atividade das estações de tratamento de encomendas dos CTT - Correios de Portugal intensifica-se. A Black Friday inaugura a peak season (época alta) para o operador postal que reforçou meios para responder ao expectável aumento de tráfego até ao final do ano. A preparação para época alta decorreu em todo o país, mas o Dinheiro Vivo pôde ver in loco como serão feitas as coisas no maior centro de tratamento de encomendas dos Correios.
É no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL) que se localiza o maior dos cinco centros nacionais de tratamento de encomendas dos CTT. São dois armazéns que abrangem 20 mil metros quadrados de área de trabalho. Naquelas instalações, que se dedicam só ao negócio expresso e que serve, sobretudo, a região da Grande Lisboa, são tratadas diariamente mais de cem mil objetos, um valor que crescerá significativamente nos próximos dias.
"Vamos sentir um aumento de mais de 50% no tratamento de encomendas, desde esta altura da Black Friday até ao final do mês de dezembro", antevê Nuno Galão, responsável de distribuição dos CTT.
Mais encomendas, mais trabalho, mais pessoas serão necessárias. "Vamos reforçar [os recursos humanos] em 15%", adianta o gestor. Só nos CTT do MARL trabalham cerca de 500 pessoas com este reforço a representar mais cerca de 75 pessoas a laborar. Além disso, aquela estação de tratamento passa, já a partir deste sábado, a operar num "regime contínuo, de segunda a domingo, incluindo feriados".
A distribuição não vai parar e ao reforço de pessoas soma-se um fortalecimento das rotas de distribuição.
São "muitas centenas" de carrinhas que chegam e partem da estação dos CTT no MARL, diariamente. "Só de e para o MARL temos quase 200 circuitos de distribuição. No país são mais de cinco mil, e só para a área expresso temos entre 800 a mil rotas em todo o país", comenta Nuno Galvão.
O gestor explica que o reforço das rotas "dependerá da zona do país", mas em termos gerais o número de circuitos deverá subir "mais de 10% em todo o país". No caso do MARL, e também do centro de tratamento de encomendas que serve a região do Porto, Galão estima que o número de circuitos cresça até 25%.
As instalações dos CTT no MARL faz a triagem de objetos de todo o país, mas dedica-se apenas em acelerar a distribuição no destinatário na Área Metropolitana de Lisboa. Contudo, a capacidade daquela unidade "já não é suficiente".
Nuno Galão relembra que o cenário da distribuição "mudou drasticamente" desde 2019, sobretudo com o impacto da pandemia da covid-19 no comércio eletrónico. "O crescimento de tráfego, especialmente com o comércio online, subiu de forma brutal em 2020 e 2021", afirma. Tal efeito levou os CTT a constatar que, em Portugal, dois centros de tratamento de encomendas - o do MARL e outro no Porto - não eram suficientes. Por isso, este ano já estão operacionais mais três estações de tratamento: em Aveiro, em Leiria e Palmela. São mais pequenas do que as duas estações mais antigas, mas o suficiente para dar uma resposta mais musculada ao aumento do tráfego. A época alta de 2022 é o primeiro grande teste aos novos centros.
"Tínhamos a operação montada em dois grandes centros de tratamento, com duas máquinas. Neste momento temos cinco. Dá para ter noção como a atividade se desenvolveu nos últimos dois anos", realça o responsável de distribuição dos CTT.
A abertura dos novos centros, segundo o gestor, acaba por apoiar sobretudo a região de Lisboa e arredores, permitindo partilhar o tratamento do volume de tráfego que habitualmente chegava à unidade localizada no MARL.
"Em situação normal mais de metade do tráfego passa nos CTT do MARL", refere o Nuno Galão, prevendo que com os três novos centros as encomendas tratadas no MARL serão de cerca de "um terço" do total do tráfego do segmento dos CTT.
A máquina que está instalada no centro do MARL e na estação de tratamento do Porto tem uma capacidade de processar dez mil objetos por hora. Com o crescimento do tráfego, os CTT já começavam a sentir a necessidade de melhorar a capacidade de débito face ao volume de tráfego por hora.
"Este é um tráfego [de encomendas] que recebemos no dia e no dia seguinte tem de estar no destino. Partindo do pressuposto que recebemos o tráfego diluído durante todas as horas do dia, teríamos capacidade para tratar de todo o tráfego que entra na nossa rede [só no MARL]. O problema é que sofremos aqui um período de pico. A partir das 20h ou 21h temos a maioria dos objetos a entrar dentro da rede. E quando as encomendas chegam à estação a janela horária reduz-se para quatro ou cinco horas e cria-se um bottleneck [leia-se constrangimento], porque nós não conseguimos nesse período tratar de todo o tráfego. E convém lembrar que até à meia-noite temos de ter o tráfego todo tratado para garantir que as encomendas estão no destino final no dia seguinte", descreve o dirigente dos CTT. Daí a necessidade de criar novos centros.
O motor deste investimento, cujos valores não foram revelados, está no e-commerce, que tem impulsionado o negócio do expresso. "Neste momento, o negócio expresso [de encomendas] está muito perto de alcançar os 30% do total de receitas da empresa", refere. O negócio tradicional do correio postal "continua a ter maior peso, 54%" do total de receitas.
Nuno Galão indica, ainda, que os CTT têm uma operação ibérica e que, há parte dos centros portugueses, há também estações de tratamento de encomendas em Espanha, estando a maior unidade do grupo localizada em Madrid, "que trata um volume muito superior" ao que é filtrado na unidade do MARL. Segundo Galão, muitas das encomendas que chegam a Portugal têm origem na distribuição dos CTT a partir de Espanha.
No ano de 2021, os CTT registaram rendimentos na área Expresso e Encomendas superiores a 255 milhões de euros, mais 32% face a 2020, beneficiando do "forte desempenho da região ibérica". Nas contas dos primeiros nove meses de 2022, esta área registava rendimentos de 187,8 milhões de euros (+0,8% em termos homólogos).