Há um entra e sai atarefado que condiz com os autocarros estacionados à porta. A Ahava, fábrica de cosméticos do mar Morto, é um verdadeiro chamariz de turistas. Localizada numa das bacias do famoso mar salgado, a empresa a que, nos finais dos anos 1980, chamaram “Amor”, em hebraico, vende a quem a visita uma das receitas mais procuradas pela humanidade: juventude. Aroma, Kawar e Acqua são as concorrentes diretas..O mar Morto é um verdadeiro centro terapêutico a céu aberto. Com uma concentração de sal dez vezes superior a qualquer oceano, e 21 sais minerais como magnésio, cálcio, brómio ou potássio, as suas propriedades são reconhecidas internacionalmente e procuradas tanto por turistas que se querem banhar nas águas que um dia atraíram Cleópatra como pelos que adquirem os cremes, sais e máscaras faciais que estas gigantes exportam para todo o mundo..O mercado é enorme. Em 2015, valia mais de mil milhões de dólares, valor que, segundo as consultoras internacionais, deveria crescer a um ritmo de 14,2% para, em 2024, valer já 3,2 mil milhões de dólares..Os norte-americanos são os maiores clientes, sendo responsáveis por cerca de 35% dos ganhos que esta indústria obtém. Mas a China é cada vez mais compradora. E há uma empresa bem familiar dos portugueses por detrás do crescente interesse: a Fosun..Em 2015, ameaçada pela sombra de um mar Morto que começou a secar - já lá vamos -, e por processos em tribunal por violações da lei internacional por “usurpação recursos para benefício económico”, a Ahava perdeu fôlego e nome no mercado. O resgate pelo conglomerado chinês, que em Portugal comprou a seguradora Fidelidade ao antigo império Espírito Santo, custou 36 milhões de euros, e abriu um novo mercado à empresa cosmética. Um ano depois, estavam a abrir a segunda fábrica. Atualmente, exportam para 30 países..“Os processos são todos artesanais”, explica Sasy, gerente da Ahava, enquanto mostra a batedora gigante que mistura água salgada aos pedaços de terra que, depois de purificados, são embalados como lama terapêutica. O secretismo das receitas é a alma do negócio, mas Sasy admite que por detrás do sucesso dos produtos - a cada 20 segundos é vendido um creme de mãos Ahava - estão equipas laboratoriais que, sem recurso a parabenos, potenciam as propriedades que aquela água oferece. Por exemplo, o cálcio suaviza e alivia as células, o magnésio é um poderoso agente antialérgico e o zinco facilita a regeneração celular..O turismo religioso ainda é a maior chave da economia israelita, mas há uma diversificação de interesses que já se sente nos números. Depois de Jerusalém, Telavive - para onde a portuguesa TAP começou a voar nesta primavera - é a segunda cidade mais visitada e, logo atrás, vem o mar Morto, onde 49% dos turistas que visitam Israel fazem paragem obrigatória..Quem se banha naquelas águas flutuantes, e faz romaria para curar problemas como a psoríase, dificilmente imagina que o prazo de validade está estabelecido: se nada for feito em contrário, até 2050, o mar Morto desaparece..O que está a acontecer? Sem ligação direta ao oceano, o mar Morto não é tecnicamente um mar, mas sim um lago. Ao longo dos anos tem tido no mar da Galileia o seu maior fornecedor de água, mas o crescimento das populações na Síria, em Israel, e na Jordânia obrigam a uma maior retenção de água para consumo, o que tem acelerado a seca..A perda de água é, atualmente, de um metro por ano, e a seca já é evidente nas margens onde a terra salgada deu lugar 6000 buracos (sinkholes), que já obrigaram à interdição de certos locais - fecharam resorts e praias - por questões de segurança..Este não é um fenómeno novo. O primeiro buraco apareceu ainda nos anos 1980, altura em que começaram a surgir evidências da perda de água. Mas os custos financeiros têm adiado a busca por uma solução..“A verdade é que ninguém se entende”, conta Dina Shayk, guia turística em Israel. Há anos que ouve repetidamente a história do desentendimento entre Israel e a Jordânia. “Agora já se encontrou um plano, mas surge um novo problema, é demasiado caro”, conta..O projeto que refere é, para muitos, o único garante de que o mar Morto se vai manter. Passa pela criação de uma enorme fábrica de dessalinização de água do mar Vermelho e de um sistema de bombeamento direto para o mar Morto. O projeto foi fechado no final do ano passado e está à espera de luz verde dos governos israelita e jordano para avançar. Curta 1,5 mil milhões de dólares. São precisos 200 mil milhões de galões de água por ano para mar Morto estabilizar..*A jornalista viajou a convite da TAP e do Ministério do Turismo de Israel