Moda dos “preços dinâmicos” chega a Espanha sob protesto

Valencia e Celta adotam algoritmo que muda valor dos bilhetes consoante procura, dias depois do fracasso da ideia em concerto dos Oasis. No futebol inglês medida não deve passar.
Estádio Mestalla do Valencia. Foto: Valencia CF
Estádio Mestalla do Valencia. Foto: Valencia CF
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“Seguindo a tendência global em espetáculos, eventos desportivos e entretenimento, o Valencia utilizará a prática dos preços dinâmicos dos bilhetes”, escreveu a administração do clube espanhol. O emblema liderado por Peter Lim, magnata de Singapura que fez fortuna na bolsa e a vender azeite, é um dos dois primeiros de La Liga, ao lado do Celta de Vigo, a aderir a uma moda, já testada em concertos de bandas rock e viagens de avião, de flutuação dos preços dos bilhetes de acordo com a oferta e a procura. Os adeptos dos dois clubes estão furiosos - e os ingleses, por antecipação, também. 

“Para tanto”, prossegue o comunicado, “os bilhetes serão colocados à venda a um preço base que poderá aumentar à medida que os dias passem e estarão sujeitos a diversos parâmetros, comprá-los cedo garantirá a obtenção do melhor preço”.

“É uma estratégia de pura especulação baseada na procura”, reagiu o Libertad VCF, grupo de adeptos do clube valenciano, “que não tem em consideração que os fãs de futebol não são meros clientes que não se importam se voam na Ryanair ou na British Airways”. “Aqueles que conseguirem vão pagar, os que não conseguirem terão os seus lugares ocupados por turistas que estão-se nas tintas se o Valencia ganha ou perde”. 

“Queremos acreditar que a preocupação não é tanto com a precificação dinâmica, já usada em concertos e voos, e mais com a incerteza a propósito do calendário de jogos”, respondeu, entretanto, Lim. “Entendemos a preocupação mas achamos que a questão tem a ver com justiça, não seria justo para quem se planeou para comprar um bilhete com antecedência pagar o mesmo que alguém que esperou até ao último minuto”.

Os adeptos do Valencia contra-atacaram: “O que não é justo é um adepto que ama o seu clube, que foi ao [Estádio] Mestalla pela primeira vez pela mão do pai ainda em criança, que apoiou o clube mesmo quando caiu para a segunda divisão, seja tratado como um mero ‘espetador’”.

“Os fãs não são clientes, são os criadores dos clubes, são quem os apoiou ao longo da história, são, afinal, o principal elemento da instituição, talvez isso não seja detetável nas planilhas financeiras mas, sem adeptos, os clubes não são nada”.
A discussão já chegou ao lado de lá do Canal da Mancha. Um porta-voz da Football Supporters Association, que representa fãs em Inglaterra e País de Gales, ironizou a medida à BBC. “O timing é impecável”, referiu. “Depois do fiasco dos Oasis, ouve-se gente do futebol a tentar lançar a ideia de contaminá-lo com os preços dinâmicos”, disse a fonte, a propósito da confusão recente em torno dos preços dos bilhetes do retorno da banda inglesa. Os ingressos para o espetáculo em Wembley passaram de 148 libras [176 euros] para 355 [421 euros] em horas.

“Não podemos jamais subestimar o potencial dos magnatas do futebol mais gananciosos de tentarem importar ideias terríveis de outras indústrias para explorar a lealdade dos adeptos”, continua o porta-voz.

“O público dos jogos já se está a mobilizar contra a recente onda de subida de preços nos bilhetes, logo, qualquer outro tipo de aumento encontrará enorme oposição”, avisou, referindo-se ao aumento das entradas nos estádios de 19 dos 20 clubes da Premier League.

A discussão vai aquecer nos próximos dias, meses, anos - se quiser acompanhá-la, o melhor é comprar já o bilhete.

NÚMEROS 

355

Preço final, em libras, dos bilhetes para concerto dos Oasis inicialmente vendidos a 148. Prática controversa, usada também em companhias aéreas, aterra no futebol

100

Valor original em euros de uma Tribuna Central para o jogo de hoje do Valencia com o Girona – mas deve ter subido entretanto...

19

Número de clubes, entre 20, que aumentaram os preços dos jogos na Premier League

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