"A Administração da Moviflor informa que, dado não se encontrar ainda definida a evolução da empresa face à necessidade de investimento, e considerando as dificuldades e contingências com que nos debatemos diariamente, foi tomada a decisão de encerramento temporário das instalações já a partir do dia 1 de outubro", refere o comunicado..No documento, Catarina Remígio, que fundou a empresa de mobiliário há mais de 40 anos, agradece o esforço e dedicação dos 950 trabalhadores que a Moviflor tem em Portugal. A questão dos salários em atraso fica por esclarecer..De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços (CESP), no final de julho os trabalhadores ainda tinham em atraso os salários de maio. Por este motivo, uma trabalhadora formulou, em agosto, um pedido de insolvência. Fonte do Sindicato informou, no início do mês, que face ao não pagamento dos ordenados, muitos funcionários suspenderam os contratos e as lojas não funcionam por falta de pessoal, nomeadamente em Coimbra, Aveiro e Vila Real..A Moviflor não conseguiu cumprir o Plano Especial de Revitalização (PER) aprovado em dezembro de 2013, nem chegar a acordo com um potencial investidor estrangeiro, que nunca foi revelado. O incumprimento do PER, e sobretudo a falta do pagamento dos salários e indemnizações, são "lamentáveis", afirmou a sindicalista Marisa Ribeiro em declarações à Lusa..As medidas previstas para a recuperação da Moviflor passavam pelo "reforço da estrutura financeira com capitais próprios, amortização do passivo, financiando meios libertos (cash-flow) negativos" entre 2013 e 2015. Esse reforço dos capitais próprios seria realizado através da doação em espécie de imóveis detidos pelos acionistas, avaliados em cerca de 1,1 milhões de euros. Foi estipulado e aprovado por 80% dos credores que se iria proceder ao despedimento de 320 trabalhadores e ao encerramento de cinco a seis lojas, entre as 24 existentes no país..O plano indica como responsáveis pela situação financeira da empresa a recessão económica, o "desequilíbrio financeiro estrutural" correspondente a uma "deficiente cobertura do ativo não corrente por capitais permanentes" e "fortes restrições na obtenção de crédito bancário", "agravado pelo reembolso de várias linhas de crédito a bancos estrangeiros e a impossibilidade de renovar e reforçar o financiamento" ..A conhecida fabricante de mobiliário tem mais de 1400 credores e mais de 147 milhões de euros de dívida, nomeadamente para com o fisco e a Segurança Social, valores mencionados no programa de revitalização do final de 2013. Catarina Remígio fundou a empresa aos 19 anos e é a principal acionista, com uma participação de 81,9%..Para além de Portugal, a Moviflor mantém atividade em Angola e Moçambique, países onde as operações não foram abrangidas pelo PER, pois a empresa está presente como fornecedora de produtos..Quanto ao incumprimento do PER, Inácio Peres, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Judiciais, revelou ao Público que "há muitos PER aprovados que, depois, não são cumpridos" devido a uma "questão de financiamento. Continua a haver algum receio da banca em financiar as empresas nesse estado"..A empresa de mobiliário tinha 950 trabalhadores em Portugal. Em Janeiro deste ano, a Moviflor lançou um processo de despedimento coletivo de 200 trabalhadores, criando um clima de incerteza em todos os funcionários. Os três meses de ordenado descritos no PER, subsídios de Natal e férias, salários de janeiro e abril de 2014 e indemnizações continuam uma incógnita.