Netflix aposta em Portugal do Algarve ao Douro

A plataforma de streaming continua a escolher o país para filmar. Produção na capital vai custar 22 milhões de euros e Câmara de Lisboa assegura soluções para moradores.
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Portugal está na mira da Netflix que tem visto o país como uma aposta crescente para a gravação de diversas produções internacionais. Depois das filmagens da última temporada da série espanhola "La Casa de Papel", que decorreram em Lisboa e Almada, e da rodagem da primeira série original portuguesa da Netflix, "Glória", a plataforma de streaming tem já em curso novas produções em solo nacional.

No passado mês de março, São Rafael, em Albufeira, recebeu as gravações da série "Hasta El Cielo", realizada pelo espanhol Daniel Calparsoro, revelou a Chefe de Divisão de Turismo, Desenvovimento Económico e Cultural do Municipio de Albufeira, Carla Ponte, na rede social LinkedIn. As filmagens deverão continuar agora na cidade de Lisboa. A nova produção dará continuidade ao filme com o mesmo nome, estreado em 2020, e que conta com a participação do ator Miguel Herrán, conhecido por ter interpretado o personagem Rio, em "La Casa de Papel".

No próximo mês arranca a rodagem de Damsel, um filme medieval e de fantasia, que escolheu como cenários Tomar, Batalha e a aldeia de Sortelha, no distrito da Guarda, conforme tinha sido já avançado pelas autarquias em questão. Segundo o que o Dinheiro Vivo apurou, as filmagens, que iniciam a 19 de maio e terminam a 11 de junho, irão rumar também à Serra da Estrela e a Vila Nova de Foz Côa. O filme é realizado por Juan Carlos Fresnadillo e terá como protagonista a atriz Millie Bobby Brown, que interpretou a personagem Eleven na série "Stranger Things".

Por fim, em julho, será gravada uma produção da Netflix em Lisboa nos bairros de Alfama, Baixa, Chiado e Mouraria. As filmagens estão orçadas em mais de 200 milhões de euros sendo que uma fatia de 22 milhões de euros corresponde ao investimento a realizar em Portugal. A produção internacional, que irá decorrer durante oito noites e dois dias, contará com uma equipa técnica e artística de uma centena de profissionais, fora os figurantes.

Câmara de Lisboa encontra solução para moradores

Colisões entre automóveis, perseguições, helicópteros e tiros. Estes são alguns dos ingredientes que vão aquecer as filmagens da Netflix em Lisboa já no próximo mês de julho e que têm sido motivo de discórdia entre a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior - que integra os bairros que receberão as gravações - e a Câmara Municipal de Lisboa

A autarquia liderada por Carlos Moedas assegura ao Dinheiro Vivo que foram já encontradas respostas aos possíveis constrangimentos causados aos residentes pelas gravações que decorrem entre as 18h e as 8 horas.

A ofensa ao descanso dos moradores era uma das principais preocupações de Miguel Coelho, presidente da Junta de Freguesia, que endereçou críticas à concretização das filmagens durante o período noturno. Entretanto, os dois representantes estiveram reunidos para discutir algumas medidas. O presidente da Junta de Freguesia diz que desde o encontro, decorrido há um mês, não voltou a ter notícias. A Câmara de Lisboa, por outro lado, garante que estão já desenhadas as soluções para amortecer as perturbações causadas pelos trabalhos da Netflix.

Segundo a autarquia, os moradores serão avisados previamente e, "em caso de interesse", podem ser "envolvidos no próprio processo de rodagem". Os habitantes dos referidos bairros terão ainda ao dispor alojamento e estacionamento alternativos durante os dias de gravações e serão ainda utilizados geradores insonorizados. As bases de trabalho das produtoras vão ficar alocadas em zonas periféricas da cidade para que possam estacionar a frota técnica, como o catering, a maquilhagem e o guarda-roupa.

"A autarquia tem vindo desde há muito a garantir as melhores condições para que a rodagem de filmes e as produções audiovisuais se realizem da melhor forma para os seus promotores, causando o menor impacto possível na cidade", atesta ainda a Câmara que admite que as "filmagens de maior dimensão são também naturalmente suscetíveis de criar mais condicionamentos" e que está comprometida em "minimizar estes impactos, e criar soluções para quem vive, trabalha ou usufrui da cidade".

Investimento em Lisboa é de 22 milhões de euros

Miguel Coelho reconhece que não pode inviabilizar a concretização das filmagens - por não ser uma decisão que diga respeito à Junta de Freguesia mas sim à Câmara Municipal - mas sublinha que a regra é dar sempre um parecer negativo a rodagens noturnas de forma a defender o direito ao descanso dos residentes.

O autarca mostra-se preocupado com a "desertificação e gentrificação da freguesia"e receia que as constantes perturbações afastem os moradores. "O território que está a ficar muito transformado numa espécie de montra para turistas e vai perdendo massa crítica fruto de diversos fatores: o investimento em massa no turismo, a febre do investimento no Alojamento Local. Tudo isto pesa na perda de população. Uns são obrigados a sair porque ficaram sem casas, outros porque a qualidade de vida, o direito ao descanso e à tranquilidade se foi degradando", aponta.

O presidente da Junta de Freguesia revela que ficou "perplexo e apreensivo" quando foi informado das filmagens até porque, no plano apresentado, estava já definida a utilização de algumas infraestruturas de Santa Maria Maior para as filmagens. "Acredito que foi apenas uma manifestação de intenção, certamente, porque isto ainda não está ao desbarato e tem responsáveis", diz.

Miguel Coelho revela que a produção internacional tem um orçamento definido de mais de 200 milhões de euros, sendo que 22 milhões de euros dizem respeito aos custos de filmar no país, mas desvaloriza o impacto económico como bandeira de promoção. "A ideia que tenho é que o Estado português pagou mais de 50% destes 22 milhões", diz.

A Câmara de Lisboa não confirma os valores mas nega que a produção da plataforma de streaming tenha tido qualquer tipo de apoio. "A CML dispõe de um Regulamento de Atribuição de Apoios ao abrigo do qual são atribuídos apoios financeiros ou não financeiros a projetos cinematográficos ou audiovisuais aos quais seja reconhecido valor cultural e artístico. Ainda que esta produção confira um interesse especial para Lisboa, não lhe foi atribuído apoio monetário", esclarece.

O executivo do social-democrata Carlos Moedas relembra que o investimento impacta de forma positiva a hotelaria e a restauração e promove a contratação de serviços contribuindo para a criação de emprego no setor do cinema.

"Esta filmagem para a Netflix trata-se de uma grande produção internacional que trará forte visibilidade a Lisboa, e que poderá colocar a cidade no radar de outras produções, impulsionado os profissionais do filme e beneficiando a economia, após os dois últimos de pandemia em que o setor estagnou e foi obrigado a um grande esforço financeiro", acrescenta.

Também a União das Associações de Comércio e Serviços (UACS) aplaudiu a escolha da cidade pela Netflix e disse acreditar que a iniciativa irá beneficiar o setor do comércio dos bairros em questão. Já o presidente da Junta de Freguesia discorda.

"O impacto que terá no comércio é durante o dia, à noite está fechado. Isto tem tanto impacto como três navios de cruzeiro aqui no terminal. As filmagens são à noite e não estou a ver a Rua Augusta aberta para os senhores produtores e cameramans irem comprar ténis e roupas e comer - até porque eles já têm os caterings definidos".

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