NOS Alive está "mais inteligente" mas festival é experiência que se quer "ao vivo"

Edição de 2023 arranca esta quinta-feira. Festival regressa ao formato de três dias. Promotor espera ter 55 mil pessoas por dia no evento. Alive será palco da inovação da NOS: vai medir o humor dos festivaleiros ao minuto, a cada música.
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Após uma edição especial de quatro dias há um ano, começa esta quinta-feira o NOS Alive de 2023. Preveem-se três dias de animação e inovação no Passeio Marítimo de Algés, Oeiras. O evento da Everything Is New, de Álvaro Covões, volta ao formato tradicional com a expectativa de juntar 55 mil festivaleiros por dia e de gerar entre 50 a 60 milhões de euros na economia da Grande Lisboa. A grande novidade - embora invisível aos visitantes - surge com a NOS que, além do naming, dá este ano inteligência ao Alive. Com recurso à Inteligência Artificial (IA), o parceiro tecnológico vai medir em tempo real o mood (humor) das pessoas a cada música. Trazer tecnologia para o festival agrada ao promotor, mas este defende que um festival ainda é uma experiência que se quer viver presencialmente.

O Audio Mood Detection é a grande novidade. Trata-se de uma aplicação criada pela unidade de inovação da NOS que permite avaliar a aceitação e a satisfação de audiências. No caso do Alive, através do efeito da música no comportamento dos festivaleiros. "Vamos conhecer o público através do áudio", resume ao Dinheiro Vivo (DV) Joana Sousa, gestora da NOS Inovação responsável por esta aplicação.

Joana Sousa afirma que este tipo de tecnologia já existia, mas será esta "a primeira vez" que será implementada no festival. Como? A partir de dois microfones externos, colocados nas régies do Palco NOS e do Palco Heineken (os espaços mais relevantes do evento), serão recolhidos os sons emitidos pelo público durante os concertos, em todos os dias do festival. Através de um sistema de smartphones com 5G, o áudio será retransmitido para um servidor alojado na cloud, que permitirá o tratamento e análise dos dados.

A responsável explica que será possível avaliar as diferentes frequências do áudio e os níveis de intensidade ao detalhe, a partir da "tipologia de som" (música ambiente, música da banda em concerto, interações do vocalista com o público, palmas, gritos etc.). Com recurso a um algoritmo e a processamentos em machine learning, será possível encaixar os dados recolhidos em diferentes métricas.

Resultado? Será possível aferir as emoções da audiência ao longo das diferentes atuações. Esta aplicação será operada apenas pela NOS e os resultados serão entregues no final do festival, após tratamento dos dados, à Everything Is New (e possivelmente também às bandas).

"Por um lado, hoje, as bandas montam um alinhamento com base numa crença, sem dados concretos. Esta tecnologia pode tornar esse processo menos ambiguo. Por outro, pode ajudar a organização a tomar decisões que melhorem o desempenho do evento. A informação que recolhermos vai estar disponível para as bandas e promotor usarem e adaptarem às necessidades [futuras]", explica Jorge Graça, chief technology and information officer (CTIO) da NOS.

Segundo explica Jorge Graça, a inovação só é possível graças ao 5G, o que demonstra "o poder transformativo do 5G na criação de novos serviços". "Vemos isto no futuro a expandir para outras soluções, como para os serviços de televisão, ou para a rádio, por exemplo", refere o CTIO da NOS, notando que a aplicação "tem capacidade para influenciar a criação de conteúdos de uma forma que não havia antes".

A solução preparada para o Alive é um piloto que a NOS pretende tornar num caso de uso do 5G. De acordo com Joana Sousa, esta ideia já vinha a ser explorada pela telecom, tendo havido "ensaios" em jogos de futebol, mas só com o Alive a ideia ganhou uma forma concreta. O Audio Mood Detection levou dois meses a ser desenhado para o festival, segundo a responsável.

Além da aplicação de IA, a NOS vai explorar no festival uma ideia assente em realidade virtual (VR). A empresa vai ter uma pessoa no recinto do evento com uma mochila às costas a transportar uma câmara com visão 360 graus. Essa pessoa está incumbida de percorrer todas as zonas do recinto, sobretudo na hora dos espetáculos, transmitindo "tudo o que um festivaleiro faz no evento". Em jeito de ação social, graças a uma parceria com a associação APELA, as imagens captadas poderão ser vistas, em tempo real, por uma pessoa que sofre de esclerose lateral amiotrófica através de uns óculos de VR.

Pormenor interessante: haverá um canal de comunicação direta, sendo que o utilizador poderá dar instruções a quem transporta a câmara para ir a determinado sítio ou para posicionar-se numa determinada posição.

No dia 8, a pessoa que estiver a assistir às imagens captadas vai ver e ouvir o concerto de Queens of Stone Age de uma forma mais imersiva, uma vez que quem transporta a banda poderá posicionar-se perto da banda, dando também uma visão da banda e do público mais aproximadas.

Segundo os responsáveis do operador, demonstrada a eficiência da transmissão e interação, esta solução poderá no futuro ser alargada a mais utilizadores, em simultâneo, sobretudo a quem não pode estar presencialmente no festival.

Em declarações ao DV, Álvaro Covões diz estar "impressionado" com a infraestrutura montada e com as inovações em IA e VR do parceiro tecnológico. "Todo o desenvolvimento é uma ajuda para a organização", afirma. No entanto, do ponto de vista do negócio do festival e da experiência que este tipo de eventos proporciona, o gestor está, quando pensa na ótica do festivaleiro, paciente na hora de apostar num festival mais tecnológico.

"Ainda é cedo [para se pensar em soluções ou formatos mais digitais do festival]. Um festival vive de música ao vivo. Falava-se que a nossa vida ia ficar muito digital depois da pandemia. Afinal não, as pessoas querem mesmo é estar juntas, querem ver música ao vivo e não pelo telemóvel", argumenta.

"A tecnologia pode ser importante para comunicar, para ajudar as pessoas no seu dia a dia, mas a experiência é aqui, ao vivo, olhar para o palco e a sentir o som. Vai ser sempre assim, nada vai substituir a música ao vivo", defende.

Questionado sobre o regresso do festival ao formato de três dias, Álvaro Covões diz que, em Portugal não é possível hoje manter-se um formato superior a três dias. "Ainda não temos massa crítica suficiente em Portugal para fazer quatro dias, nem para fazer dois fins de semana como Coachella nos EUA", assevera.

"Somos um país periférico, só se chega a Portugal de avião. Não há comboios, é uma coisa que tem de ser dita com veemência: não há comboios que nos liguem à Europa. Só há estradas e aviões e isso não é suficiente. Quem sabe um dia não temos [um festival] de cinco dias, com dois fins de semanas", prossegue.

Leia também: NOS Alive capta até 80 milhões de euros para Lisboa em 2022

Havendo menos um dia face a 2022, as estimativas para a edição de 2023 voltam aos níveis tradicionais. Se numa edição especial, como a do ano anterior, o gestor previa 210 mil festivaleiros e extrapolava um impacto económico na Grande Lisboa de até 80 milhões de euros, agora, acredita que o festival reúna 55 mil pessoas por dia (165 mil festivaleiros em três dias). Para esta edição apenas o terceiro dia do festival (sábado) ainda não está esgotado. "Acho que vamos chegar lá e ter 165 mil nos três dias", diz. São mais de 90 nacionalidades diferentes entre os visitantes.

Quanto ao impacto económico? "Os vários estudos que já fizemos no passado sempre apontaram para um impacto económico de 50 a 60 milhões de euros. Mas o que para nós relevante é atrair parceiros, são fundamentais para subsidiar o preço do bilhete", refere sem entrar em detalhes.

Álvaro Covões reconhece que os bilhetes do evento sofreram um aumento face a anos anteriores, mas defende tratar-se de um agravamento abaixo da inflação. Sem entrar em números, revela que houve um aumento dos custos. Sobretudo os custos de logística, "que ainda não se adequaram à normalidade". No entanto, diz que o orçamento do festival cresceu e que a angariação de novos parceiros (como é o caso do Novo Banco) permitiu controlar melhor os custos.

Regressando ao tema da tecnologia no festival, as inovações que o DV teve conhecimento só são possíveis graças à infraestrutura de rede criada para o festival, sobretudo no que respeita ao 5G.

Em comparação com edições anteriores, a NOS continua preparar toda a infraestrutura de rede fixa e móvel no terreno com um mês de antecedência (desde início de maio, embora o planeamento global seja desde o fim da edição anterior); e a ter mais de cem engenheiros, técnicos e outros profissionais dedicados à montagem, configuração e testes de rede, monitorização, operação e desmontagem no recinto. Também continua a disponibilizar a rede móvel para todas as necessidades do evento e dos festivaleiros, além de que a rede criada assegura a transmissão televisiva da RTP (media partner do Alive).

O que mudou desde há um ano, então? Fundamentalmente, a dimensão da infraestrutura de rede e a respetiva capacidade. Para a edição de 2023, a NOS tem uma rede fixa assegurada por 1200 quilómetros de fibra ótica passada, mais de 300 equipamentos ligados no recinto e duas salas de controlo (uma para efeitos de redundância em caso de ocorrer uma calamidade) para suportar mais de 200 stands no recinto.

Acresce, para assegurar a rede móvel, a implementação de 89 antenas. Mais de uma dezena dedicada ao 5G. Há uma torre de 25 metros com as principais antenas do evento: uma antena lente que equivale a 36 antenas numa só e uma antena 5G que equivale a seis antenas 5G. A NOS levou também para o festival uma torre móvel com uma antena multibeam, o que equivale a 18 antenas. Soma-se também a instalação de 28 smallcells pelo recinto, que asseguram maior amplitude e densificação do sinal de rede nas áreas onde haverá maior concentração de pessoas (zona da restauração e palcos por exemplo). As principais antenas são fornecidas pelas norte-americanas Matsing e Galtronics.

O CTIO da NOS, Jorge Graça, afirma que a infraestrutura montada tem "capacidade para servir uma cidade de média dimensão". Nesse aspeto não será diferente da capacidade instalada há um ano, que podia servir até 150 mil pessoas nos 11 hectares do Passeio Marítimo de Algés. Apesar de este ano haver menos um dia o gestor assegura que a empresa não quis correr riscos, lembrando que na última edição "houve um apagão [de energia] em Algés". "As as pessoas dentro do festival não notaram, mas foi necessário ativar geradores para evitar interrupções de rede", recorda.

Em 2022, quando se previa um consumo de dados móveis entre 20 a 30 terabytes (TB), em quatro dias, o tráfego consumido não chegou aos 20 TB. "O pico de consumo de dados ocorreu durante o concerto de Da Weasel, com cerca de 4 TB. No conjunto dos quatro dias terá sido perto de 20 TB. A previsão para este ano pode ser o dobro, mas como há menos um dia o crescimento deverá ser, sensivelmente, de mais 60%", salienta Pedro Claro ao DV, responsável pela engenharia de rede móvel dedicada e eventos especiais da NOS.

O mesmo responsável conta que a rede instalada tem capacidade para aguentar "facilmente cerca de 20 mil pessoas" a usar dados e rede em simultâneo. "Mas isto implica que toda gente esteja a fazer alguma coisa", diz, notando que o nível máximo de taxa de simultaneidade que a NOS já registou neste tipo eventos foi "de quase 40%, ou seja uma a cada duas pessoas a usar o telemóvel".

De acordo com o CTIO, Jorge Graça, apesar do agravamento do contexto macroeconómico, o encarecimento de alguns materiais "não foi um tema". "Houve uma exposição maior de alguns materiais, mas nada de muito diferente face aos anos anteriores", diz, ressalvando que o planeamento de longo prazo e o conhecimento atempado das necessidades do festival atenuam a volatilidade dos custos e uma eventual escassez de materiais.

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