O exemplo de Américo Amorim

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Realizou-se a semana passada uma Smart Discussion muito interessante sobre a visão empresarial de Américo Amorim, figura de referência da nossa economia e sociedade. Moderada pela conhecida gestora Isabel Furtado, a sessão contou com os testemunhos de dois gestores que com ele trabalharam – António Rios Amorim e Jorge Armindo e uma animada e participada discussão sobre o seu exemplo. Américo Amorim soube como ninguém dar o seu melhor pelo projeto de um Portugal inovador e competitivo e a sua visão estratégica esteve sempre presente nas grandes decisões empresariais que tomou ao longo dos anos. Américo Amorim era uma pessoa com uma inteligência rara, uma visão única do futuro, que dedicou toda uma vida empresarial a interpretar a realidade dum país para o qual também queria uma agenda de ambição global.

Américo Amorim acreditava que na vida e nos negócios importa assumir uma cultura de risco inteligente. A matriz comportamental da população socialmente activa do nosso país é muitas vezes avessa ao risco, à aposta na inovação e à partilha de uma cultura de dinâmica positiva. Importa por isso mobilizar as capacidades positivas de criação de riqueza. Fazer da gestão do risco e da ambição as alavanca duma nova criação de valor que conte no mercado global dos produtos e serviços verdadeiramente transaccionáveis sempre foi uma das grandes ideias de Américo Amorim na sua batalha pela modernidade.

Américo Amorim era um homem da Estratégia. A falta de ambição e de um sentido de futuro, sem respeito pelos fatores tempo e qualidade não era para Américo Amorim tolerável nos novos tempos globais. Segundo as suas sábias palavras, precisamos de novas ideias, de novas soluções, de projectar na sociedade o exercício da responsabilidade individual de forma aberta e participada. Américo Amorim era um homem onde a vontade de fazer coisas novas e diferentes corria à velocidade do som. Américo Amorim soube melhor do que ningém interpretar o sentido do tempo e a importância de se ser diferente num mundo onde tudo é cada vez mais igual.

Américo Amorim era um homem que promovia muito a partilha da informação e do conhecimento. A ausência da prática de uma cultura tem-se revelado mortífera para a sobrevivência das organizações e também aqui Américo Amorim foi sempre muito claro. Neste novo mundo competitivo e incerto sobrevive quem consegue ter escala e participar, com valor, nas grandes redes de decisão. Num país pequeno, as empresas, as universidades, os centros de competência têm que protagonizar uma lógica de cooperação positiva em competição para evitar o desaparecimento. Por isso, Américo Amorim defendia uma capacidade de cooperação positiva, com dimensão estratégica capaz de se consolidar a médio prazo.

A memória de Américo Amorim continua bem viva em todos aqueles que acreditam numa agenda positiva de criação de valor global para a economia portuguesa. O seu forte sentido estratégico e grande capacidade de gestão operacional foram a base do crescimento de um dos maiores grupos empresariais do país. E a sua indomável vontade em mobilizar equipas para a batalha da modernidade empresarial continuará a ser uma referência presente nos desafios de futuro da economia portuguesa. Foi um grande gosto termos tido a oportunidade de revisitar o seu exemplo nesta excelente Smart Discussion que tivemos a semana passada.

Jaime Quesado é economista e gestor, especialista em Estratégia e Competitividade

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