O lado negro da Internet: pornografia infantil, drogas e armamento

Publicado a

Um dos fornecedores de substâncias ilegais no mercado negro online Silk Road tentou envenenar Barack Obama, enviando uma carta embebida em ricina ao presidente dos Estados Unidos.

A informação foi revelada recentemente por um oficial do Departamento de Segurança Interna dos EUA, numa nota sobre o "perigo das moedas digitais" e sublinhava a ligação entre os dois crimes - a venda de substâncias ilegais num mercado negro online e um atentado contra o chefe de Estado norte-americano.

Ora a Silk Road, o maior mercado online de substâncias ilegais e contrabando, foi mandada abaixo pelo FBI no início de outubro. A mega operação - dizem - enviou ondas de choque por toda a Dark Net, o submundo que acolhia a Silk Road. Basicamente, é um ecossistema de sites que só podem ser acedidos através de software que torna as ligações anónimas. Que não estão disponíveis na Internet aberta, para simplificar.

Um mundo de sites em que toda a informação é encriptada e anda a saltar de servidor em servidor por todo o lado, para ser impossível de rastrear, tem vantagens e desvantagens. Sem acesso a um submundo destes, não haveria revolução na Síria, não haveria luta de dissidentes, não haveria operações contra crime organizado nem espionagem de agências de segurança.

O lado negro (literalmente) é que um submundo destes permite todo o tipo de patifarias. Ladrões, burlões, traficantes e assassinos promovem os seus serviços, publicam "currículos" e fornecem contactos. Há venda de armas e drogas, assassinatos encomendados e tudo mais que se possa imaginar possível no mundo real.

Mas há uma área que no mundo real seria bem mais difícil de massificar: a pornografia infantil. Não apenas a troca de imagens e vídeos, mas o negócio dos abusos sexuais "a pedido", com crianças ao vivo, 'on demand.' O crescimento da pornografia infantil neste submundo é galopante.

Daí que as recentes movimentações da Google e da Microsoft para eliminarem termos de pesquisa relacionados com pornografia e partilharem tecnologia de detecção de imagens não tenha potencial para mudar grande coisa. O anúncio da parceria entre as duas foi feito ontem, em grande parte graças à pressão do gabinete de David Cameron, o primeiro-ministro britânico, e de uma forte campanha do jornal Daily Mail - no qual o chairman da Google, Eric Schmidr, anunciou as medidas.

São certamente passos bem-vindos pela comunidade. Mas o problema é que os pedófilos que consomem pornografia infantil e os criminosos que a fornecem não usam o Google nem o Bing. David Cameron já foi avisado disto, e disse que vai direccionar os serviços de Inteligência para investigar esta rede de pedófilos que usa o submundo da internet.

Como? É angustiante. Sites que se baseiam exclusivamente em navegação anónima, em tecnologia peer-to-peer, não podem ser mandados abaixo com um estalar de dedos em Downing Street ou na Casa Branca ou qualquer parte do mundo.

Um blogue do site norte-americano da Al Jaazera recordava, acerca da eliminação do Silk Road, que a Dark Net tem o bom, o mau e o nojento - tudo o que os humanos fazem quando sabem que não estão a ser observados. E recordou a questão que um dos fundadores do Tor (The Onion Router, software que permite o tal anonimato das comunicações), colocou em 2004: "A questão real não é: quanta privacidade estarias disposto a ceder para segurança? A questão é, quanta segurança cederias para ter segurança."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt