O sétimo pecado capital

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Equipas de alto rendimento são aquelas que, envolvendo pessoas com elevadas competências e focadas num objetivo comum, procuram atingir resultados acima da média. O desporto de alta competição, empresas tecnológicas de topo ou a realização de operações militares especiais são contextos onde é necessário gerir este tipo de equipas.

O seu sucesso assenta, desde logo, na constituição. É essencial que sejam formadas por gente de talento diversificado mas com grande coesão e focada num propósito coletivo. Só assim se conseguirá ir mais longe, potenciando sinergias sem se perder a consistência do grupo.

Um segundo requisito prende-se, por isso, com a necessidade de haver funções e responsabilidades bem definidas. De outra forma, não se conseguirá o grau de coordenação necessário para que resultados excecionais surjam.

A terceira característica tem a ver com o processo de tomada de decisão. Este deverá ser rápido e eficaz, por vezes até descentralizado, sem que isso coloque em causa a consistência da atuação global do grupo.

Em quarto lugar há que assegurar uma comunicação interna que seja aberta, mas que não cause entropia. Equipas de alto desempenho exigem uma fluidez de informação sem a qual a própria coordenação de atividades ficará em causa.

Depois, é também crucial garantir que todos os elementos do grupo estão altamente motivados e dispostos a "suar a camisola". Se cada um não estiver predisposto a dar o seu melhor, ultrapassando-se a si mesmo, também os resultados coletivos ficarão aquém do desejado.

Em sexto lugar é fundamental ter foco. Todos os elementos devem centrar-se na missão da equipa, sem que isso signifique uma perda do sentido da realidade. Se o contexto se alterar - e isso tantas vezes acontece - há que recentrar o objetivo coletivo.

Claro que nada disto funciona se não houver liderança, sendo este o sétimo grande fator crítico do sucesso das equipas de alto rendimento. Isto não significa que seja algo que só se deva definir no fim. Pelo contrário, é provavelmente o primeiro fator a condicionar o desempenho coletivo. Deixei para o final apenas porque só agora é possível entender que nenhum dos seis fatores anteriores funciona se não houver uma liderança eficaz que congregue as necessárias hard, soft e social skills em torno de um propósito comum ambicioso.

Como assinalei no início, estas equipas são necessárias em contextos fortemente competitivos e exigentes. Isso pode ocorrer no desporto, nos negócios ou em operações militares, entre muitas outras situações... incluindo o da governação de um país, especialmente em épocas voláteis, incertas, complexas e ambíguas como a que vivemos.

Hoje, em 2023, esperar que o Governo seja gerido como uma equipa de alto rendimento não é descabido - principalmente quando se pede à seleção nacional de futebol, a um departamento de I&D de uma tecnológica ou a um destacamento militar na República Centro-Africana que o sejam.

Curiosamente, o Presidente da República, na sua mensagem de Ano Novo, apontou seis "pecados capitais" do atual Governo: erros de orgânica, descoordenação, fragmentação interna, inação, falta de transparência e descolagem da realidade. Só não mencionou o sétimo pecado capital - a falta de liderança - talvez para não personalizar ainda mais na figura do primeiro-ministro a reduzida eficácia da governação.

Pedir que o Governo se comporte como uma equipa de alto rendimento não é demais. Só que para isso não basta criar checklists de perguntas a fazer quando se convida alguém para integrar a equipa governamental; assim como também não ajuda que a equipa seja constituída a pensar, não tanto nos grandes desígnios nacionais, mas nos pequenos equilíbrios partidários dentro da família socialista.

Para bem de todos precisamos de um líder. O que "está mais à mão" é António Costa, até porque a alternativa social-democrata é fraca. Diz que ainda se vai preparar, como se sete anos de oposição não fossem mais do que suficientes para estar à altura do desafio.

É por isso que deixo a seguinte recomendação quer ao primeiro-ministro quer a Luís Montenegro: adquiram algumas competências em termos de gestão de equipas de alto rendimento. O país merece mais do que um Governo instável e sem rumo que pouco realiza, e de uma oposição incapaz de mobilizar os Portugueses para um projeto coletivo que nos coloque na senda do crescimento, da inclusão e da sustentabilidade.

Professor da Universidade do Porto - Faculdade de Economia e Porto Business School

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