O YouTube castiga criadores? Como funciona o algoritmo de recomendação

No evento anual VidCon, o diretor de Crescimento & Descoberta do YouTube, Todd Beaupré, esclareceu alguns mitos que têm circulado na comunidade de criadores.
Foto: VidCon
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Há 63,8 milhões de criadores de vídeos no YouTube e muitos deles estiveram na VidCon 2024 em Anaheim, Califórnia, onde nos últimos dias se falou sobre o futuro da indústria do vídeo, streaming e criação de conteúdos. 

Uma das sessões mais concorridas no segmento de indústria foi sobre o algoritmo do YouTube, onde o diretor de Crescimento & Descoberta da plataforma, Todd Beaupré, esclareceu mitos e dúvidas sobre como funciona o motor de recomendações. 

“O algoritmo não empurra vídeos para cima dos utilizadores, vai buscar vídeos para lhes mostrar”, disse o responsável. “Os fundamentos do algoritmo não mudaram muito nos últimos dez anos”, garantiu. Beaupré está na empresa detida pela Google há 14 anos. 

Segundo o especialista, a ideia de que o algoritmo castiga utilizadores ou toma decisões que afetam as visualizações é um mito sem base na realidade. 

“Não há castigos algorítmicos”, sublinhou. “Tudo nos nossos sistemas está centrado na audiência.” 

A fórmula que determina uma recomendação ou outra contém vários elementos, descreveu. Um deles é o comportamento da pessoa que está na plataforma: o algoritmo sabe quais os canais que subscreve, em quais passou mais tempo, e se há vídeos recentes desses canais que possa sugerir. “É personalização básica”, disse. 

Depois, junta-se informação sobre pessoas com perfis similares, aquilo a que o YouTube chama de “filtro colaborativo”, ou seja, pessoas que viram isto também viram aquilo. É um “passa palavra automatizado”, disse Beaupré, comparando às recomendações que as pessoas fazem umas às outras no mundo offline. 

Adiciona-se a isto o trabalho das redes neurais e deep learning, que analisam visualizações, pesquisas, frequência de uso do YouTube e intenção para afinar as recomendações.  

“O sistema olha para cada vídeo de forma individual”, explicou o especialista, frisando que o que importa é o que cada espectador individual fez. 

“Muitos criadores metem na cabeça que o algoritmo decidiu que o seu canal já não presta, mas isto não funciona por reputação”, garantiu Beaupré. “O que interessa é como cada espectador individual reagiu”, porque o algoritmo elenca os vídeos a pensar em quem os vê, não em quem os cria. 

Por exemplo, se um utilizador nunca vê vídeos sobre telemóveis Samsung, um vídeo destes não vai ser elencado no topo das recomendações, mesmo que venha de um canal que essa pessoa segue. 

Rene Ritchie, que opera como intermediário entre criadores e o YouTube, salientou que o problema de muitos Youtubers é não perceberem que o tamanho da sua audiência potencial muda conforme o tema. 

“Vemos criadores a dizerem que os seus vídeos já não alcançam tanta gente”, relatou, o que os leva a pensar que o algoritmo os despromoveu. Mas o problema pode ser sazonalidade, expectativas desajustadas sobre a audiência ou mesmo saturação. 

“A audiência muda, quer novos formatos, perspetivas frescas”, disse. “Os criadores têm de seguir as audiências”. 

Com 2,7 mil milhões de utilizadores ativos por mês, o YouTube tem todo o tipo de oportunidades – mas Ritchie salientou que “não há palavras-chave nem SEO que substituam a necessidade de fazer bons vídeos.”

Para o futuro, as áreas de crescimento onde o YouTube está a focar-se são o aumento da audiência feminina e da “exploração explícita”, que vai recomendar tópicos a explorar pelo utilizador em vez de lhe apresentar passivamente um scroll infinito de vídeos. 

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