A força que move a economia

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Quando se fala em poder económico, o foco costuma recair nas grandes empresas: multinacionais com operações globais, orçamentos astronómicos e presença constante nas manchetes. Mas a verdadeira força da economia europeia - e particularmente da portuguesa, está noutro lugar. Está nas pequenas e médias empresas. Está na economia real.

Na União Europeia, as PME representam 99,8% das empresas não financeiras. São mais de 25 milhões de negócios, responsáveis por dois terços do emprego no setor privado e por mais de metade do valor acrescentado bruto. Mesmo num ano desafiante como 2023, marcado pela inflação e pela incerteza económica, foram estas empresas que continuaram a criar postos de trabalho, com um aumento de 1,8% no emprego.

Em Portugal, o retrato é ainda mais vincado: 99,9% do tecido empresarial nacional é composto por PME. Estas empresas empregam mais de 80% dos trabalhadores do setor privado e geram mais de 60% do volume de negócios. Mas mais do que números, são rostos, são histórias: o restaurante que traz vida a uma rua, a serralharia que atravessa gerações, a startup no interior que mantém talento longe dos centros urbanos. As PME são, acima de tudo, proximidade - às pessoas, aos territórios e às necessidades reais do país.

Contudo, o caminho do empreendorismo em Portugal continua, muitas vezes, a ser um percurso solitário. Apesar dos avanços na digitalização e na simplificação de processos, persistem entraves estruturais. O acesso ao financiamento é difícil, a carga burocrática continua pesada, e a fiscalidade, muitas vezes, penaliza quem arrisca. A maioria das empresas não chega a celebrar cinco anos de atividade.

Num país que depende das suas pequenas empresas, não pode continuar a ser tão difícil abrir, manter e fazer crescer um negócio. Isso tem de mudar.

Apoiar quem quer empreender e criar valor local não é apenas uma questão económica, é uma aposta estratégica na coesão territorial, na mobilidade social e na vitalidade das comunidades. Cada empresa que sobrevive e prospera é um polo de emprego, de inovação e de dignidade.

Felizmente, há sinais de esperança. Está a emergir uma nova geração de empreendedores em Portugal: altamente qualificada, com mentalidade digital e um propósito claro. Muitos não querem ser unicórnios. Querem, simplesmente, resolver problemas reais, de forma sustentável, com impacto local. E são precisamente esses empreendedores que devemos apoiar, com mais do que palavras: com políticas públicas eficazes, instrumentos de financiamento ágeis e soluções bancárias verdadeiramente adaptadas às PME.

Se queremos uma economia mais inclusiva, mais equilibrada e mais resiliente, as PME não podem continuar a ser tratadas como um apêndice do sistema, têm de estar no centro da estratégia nacional. São elas que seguram o país nos momentos difíceis. São elas que geram valor onde mais precisamos.

As mãos que movem a economia não estão nas torres empresariais. Estão nos cafés, nas oficinas, nas startups e nos armazéns que fazem Portugal andar para a frente, todos os dias, sem manchetes, mas com coragem.

Está na altura de lhes darmos o lugar que merecem.

Co-fundador e CEO da Rauva

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