Cidades competitivas

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O crescimento das cidades é um dos principais desafios com que as sociedades contemporâneas se debatem. De acordo com o Banco Mundial, 57% da população do planeta reside em áreas urbanas, prevendo-se que em 2050 haja perto de sete mil milhões de pessoas a viver em cidades.

A crescente urbanização levanta problemas muito significativos e complexos. A degradação do ambiente, a habitação, a mobilidade, a saúde, as desigualdades sociais e a segregação são alguns dos mais importantes desafios enfrentados pelas autoridades que gerem as cidades. O que exige respostas integradas envolvendo múltiplas áreas do conhecimento desde a sociologia à arquitetura passando pelas ciências da vida, economia e tecnologias de informação, entre muitas outras.

Do ponto de vista económico, um dos principais desafios diz respeito à competitividade. Trata-se de uma matéria que não é exclusiva de megalópoles como São Paulo, Londres ou Xangai. Cidades bem menores como Lisboa e Porto enfrentam o mesmo tipo de desafios (a uma escala muito diferente, como é óbvio) bem como outras ainda mais pequenas como Mirandela ou Tavira.

Centremo-nos então na realidade portuguesa. Para potenciar a competitividade de uma cidade há, em primeiro lugar, que conhecer os seus públicos: quem lá vive e trabalha, os que a visitam e aqueles que nela investem o seu dinheiro. Depois, em função dessa realidade, é necessário posicionar a cidade com base em características que a diferenciem da "concorrência" - sendo que esta é constituída por aquelas que competem pelo mesmo tipo de públicos. Isto significa, por exemplo, que o Porto não é concorrente da Covilhã, mas que o Fundão certamente o será.

Que atributos pode uma cidade oferecer para se distinguir das demais? Mais rotundas? Mais pavilhões gimnodesportivos? Mais piscinas olímpicas? Mais centros de cultura?

Provavelmente não é por aí que se irá diferenciar pois esse tipo de equipamentos é cada vez menos diferenciador, limitando-se a cumprir os requisitos mínimos. Por vezes são até em excesso, uma vez que haveria certamente a possibilidade de partilhar estruturas entre cidades próximas - eventualmente integradas na mesma comunidade intermunicipal - com todos os benefícios daí decorrentes em termos de redução de despesas de investimento e custos operacionais.

Uma proposta de valor diferenciada de uma cidade pode assentar em três pilares. Em primeiro lugar, em atributos físicos distintivos e não replicáveis. Por exemplo, Torre de Belém só há uma. O que significa que se compreende que Lisboa a utilize como fator de diferenciação, em especial no segmento turístico. Da mesma forma que Aveiro tira partido dos canais que a tornam única.

Depois, há que criar estruturas e serviços que respondam não só aos mínimos mas que possam eventualmente funcionar como fator de diferenciação. Há cidades que se tornaram atrativas pelos equipamentos aeroportuários, hoteleiros e de congressos para a realização de grandes eventos; há as que se distinguem por se terem tornado hubs de inovação geradores de startups competitivas a nível global.

O terceiro fator diferenciador é a identidade do local. É o pulsar da cidade, o seu ambiente, bem como as oportunidades que propicia em termos de lazer, cultura e educação. Bairrismos à parte, o Porto aposta muito nesta vertente: uma cidade que, sendo cada vez mais cosmopolita, procura não perder a sua autenticidade porque, em última instância, ela é totalmente irreplicável. Trata-se de um fator que tem enorme impacto na atração não só de turistas mas também de estudantes estrangeiros e de nómadas digitais, bem como de investimento externo pelo que representa em termos de qualidade de vida para quadros empresariais expatriados.

O nosso país sofre de um centralismo excessivo limitador do desenvolvimento económico e social. Muito há a fazer neste domínio, quer em termos legislativos quer no que se refere à postura política de quem está à frente da governação. Mas as cidades, designadamente as de média e pequena dimensão, também têm de fazer o seu papel, tornando-se mais competitivas, sendo mais atrativas em termos de captação de residentes, turistas e investimento. Não o fazer, esperando que quem está no Terreiro do Paço resolva o problema, é meio caminho andado para termos um território mais assimétrico, menos coeso e globalmente mais atrasado.

Carlos Brito, professor da Universidade do Porto - Faculdade de Economia e Porto Business School

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