Há uma diferença entre os que pensam sobre o mundo ideal e os que decidem agir sobre o real, tentando concretizar o máximo possível com os recursos que têm. O LIOS – Transporte Rápido Lisboa/Oeiras é um bom exemplo disso: um projeto que evoluiu de uma matriz de metro ligeiro de superfície para uma versão final em autocarro elétrico em faixa de rodagem segregada e que se encontra agora em vias de implementação, pela vontade conjugada de dois municípios – Oeiras e Lisboa. Sem esta alteração, para uma solução de mais rápida concretização e de menores custos, continuaríamos em 2028 sem resposta para os milhares de pessoas que todos os dias úteis ultrapassam as fronteiras dos dois concelhos para trabalhar.O LIOS (Linha Intermodal Ocidental Sustentável) é um eixo estruturante da estratégia Cardinal que não perde as suas principais características ao ser chamado Transporte Rápido Lisboa/Oeiras. Pelo contrário: traduz a visão do concelho para a mobilidade metropolitana, que articula os meios já existentes e desenvolve no seu máximo potencial das ligações em falta. Esta ideia nem é nova: já na década de 1990 se discutia um corredor de elétrico entre Algés e a Falagueira; e em 2021, os Municípios de Oeiras, Lisboa e Loures, juntamente com a Carris e o Metro, associaram-se no projeto LIOS, para criar uma linha de elétrico desde Alcântara até à Cruz Quebrada. Ao fim de anos de hesitações, as Câmaras de Oeiras e de Lisboa assumiram plenamente o projeto, apresentando-o publicamente em julho, numa versão repensada no traçado e na solução tecnológica.O trajeto assenta agora em dois eixos: um entre Alcântara e Algés, que integra o traçado original do LIOS; e um entre Algés e o Colégio Militar. Esta duplicação de eixos corrige debilidades do projeto anterior, servindo também os territórios mais afastados do rio. Miraflores, Linda-a-Velha e Carnaxide caracterizam-se pela elevada densidade populacional e pela forte concentração de empresas. A ligação ao Colégio Militar e à Linha Azul do Metro, alarga a influência do novo Transporte Rápido à zona norte da capital, acompanhando a crescente dispersão do emprego. Entre duas quaisquer paragens do novo LIOS, será mais rápido chegar em autocarro elétrico em faixa exclusiva do que em carro e esse é o fator fundamental para que aconteça a necessária transição modal. Estes aspetos fundamentam a procura calculada de 22 mil passageiros em cada dia útil e a redução diária estimada em 4 mil automóveis em circulação, logo no primeiro ano de operação. O BRT não é uma mera faixa BUS, mas um canal segregado do restante trânsito, o que garante a previsibilidade e a velocidade comercial do sistema de transporte, permitindo reduções de 35% no tempo de viagem.E qual a razão para Oeiras e Lisboa darem agora preferência ao transporte elétrico rodoviário e não ao carril? Simples: em BRT (Bus Rapid Transit) o investimento émuito menos avultado do que o do projeto inicial, fixando-se nos de 93,5 milhões de euros. O valor e o reduzido prazo de execução da obra, que permitirá iniciar a operação em 2028, são requisitos essenciais para que o projeto seja financiado por Fundos Europeus.Acresce que o sistema BRT permite maior flexibilidade da oferta disponibilizada com a colocação de mais ou menos autocarros em faixa de acordo com a procura e é conciliável com os sistemas de transportes das zonas urbanas consolidadas que atravessa, em Oeiras e em Lisboa, não ficando refém de limites físicos ou formais. Estaopção permite pensar em novas interligações com outros projetos de transportes coletivos em sítio próprio, como o futuro Corredor BRT na A5 e este com o novo SATUO. Na sua essência, o LIOS – Transporte Rápido Lisboa/Oeiras traduz a visão de Oeiras de uma mobilidade metropolitana estruturada em eixos que articulam os meios atualmente existentes, potenciando as ligações que se encontram em falta. Esta componente daestratégia que chamamos “Cardinal” reveste-se de importância, não só por reforçar as ligações entre as duas economias mais dinâmicas do país, mas também por fazer de Algés a porta de entrada da “Lisboa nas duas margens”. E poder ser concretizada já hoje.