Um novo imposto para financiar a guerra

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Está claro aos olhos de todos – desde os primeiros momentos da invasão russa da Ucrânia – a forma como a Europa, as suas instituições e os Estados que compõem a União Europeia menosprezaram uma componente essencial da sua segurança. Trata-se da capacidade, desejavelmente coletiva, de projetar força suficiente para travar um conflito armado, intervir externamente na resolução de um incidente com impacto para Estados-membros ou, simplesmente, para o evitar através da exibição de poderio militar que iniba iniciativas inimigas.

O Velho Continente bem poderia ter aproveitado a sua experiência milenar neste campo para interiorizar que quem deseja a paz, prepara-se para a guerra. A premissa da Comunidade Europeia, no entanto, passava por evitar conflitos através do crescimento económico, capaz de aplacar velhas inimizades internas, suavizar – sob pena de sanções pecuniárias – dramas fronteiriços com décadas ou séculos e, finalmente, seguir em frente. Rumo ao euro, à união bancária e fiscal, eventualmente a uma confederação de Estados a viver em harmonia.

É claro que, em volta deste sonho, o mundo continuou a girar. E os povos que o habitam fora da UE ainda pensam que os desígnios estratégicos de um país, ou muito simplesmente a liberdade, têm muitas vezes de ser garantidos pela armas e pelos braços dos soldados que as brandem.

Chegados a 2025, com três anos de invasão russa na Ucrânia, que cenário temos? A única nação da UE com força para se projetar militarmente para o exterior (mas não globalmente) é a França. Tem um dos maiores e mais bem equipados exércitos do Mundo, tem capacidade nuclear e meios aéreos para a entregar (contida, mas existe), submarinos e porta-aviões. A outra nação era o Reino Unido, mas o Brexit encarregou-se de a retirar da equação, por enquanto. A Alemanha (que se auto-limitou durante décadas) está agora a fazer caminho, tirando o açaime à sua indústria pesada.

O Velho Continente bem poderia ter aproveitado a sua experiência milenar neste campo para interiorizar que quem deseja a paz, prepara-se para a guerra

O espetáculo que se viu na Cimeira da NATO – um verdadeiro reality show com correspondência revelada e uma opereta espanhola – não pode deixar ninguém tranquilo. A inconstância da administração da maior potência militar do mundo, os EUA, ainda menos. Com ou sem meta de 5%, a NATO parece tudo menos capaz de se entender se e quando chegar o momento da verdade.

O ponto aqui é que a preparação da Defesa europeia levará tempo e sairá cara ao contribuinte europeu, que parece tudo menos disposto a aceitá-la. E é por isso que se entende tão bem a mais recente proposta do centro de estudos Bruegel, que agora propõe um imposto especial para os países da UE que menos cumprem a meta de, pelo menos, 2% do PIB em Defesa. Portugal é um deles, com 1,6%. A linguagem do Bruegel, cujas visões costumam ter impacto na Comissão Europeia, deixam poucas dúvidas sobre a atribuição de culpas. “A variedade [nos rácios de despesa para defesa] cria um problema de parasitismo: os países que gastam menos beneficiam efetivamente das despesas mais elevadas dos outros”, considera o centro de estudos.

A lição parece óbvia. Enquanto reina a calma somos todos parceiros rumo ao crescimento económico conjunto. 

Mas quando os carros de combate russos já se vislumbram à distância, há cumpridores e há parasitas que vivem às custas do resto. Nada de novo:também foi assim na crise financeira de 2008. 

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