Em economia – ou em 'economês', como gostamos de dizer nas redações - em linhas gerais, investimento significa a aplicação de capital com a expectativa de um benefício futuro. É isso que pretendemos quando fazemos, por exemplo, um investimento em ações, em Obrigações do Tesouro ou até na compra de uma casa. Investimos para estar mais seguros, para garantir património ou liquidez mais à frente. Na grande maioria dos casos, e se for feito com um nível de risco com o qual nos sentimos confortável, os investimentos dão certo.Pensamos em investimento também quando olhamos para os custos com, por exemplo, a educação dos nossos filhos – se pagamos uma mensalidade é um investimento que, no futuro, dará retorno porque eles estarão, à partida, bem preparados para um futuro que se espera que seja de menos dificuldade que o nosso presente.Os investimentos são, não raras vezes, de longo prazo: quando compramos uma casa é porque queremos deixá-la para os descendentes depois de a usar; o mesmo acontece quando fazemos um Plano Poupança Reforma, que pretendemos usar quando quisermos um complemento ao que vamos receber de pensão ou então quando alocamos capital a instrumentos financeiros do Estado, como as Obrigações de Tesouro de maturidades mais longas. Algo que os Executivos incentivam, até porque precisam dessa liquidez imediata que só nos devolvem passado uns anos, na esperança de que a economia esteja melhor.É por isso que me custa bastante olhar para aquilo que os nossos diversos Governos fazem em matéria de investimento na prevenção dos incêndios e proteção do nosso património.Os nossos climatologistas previram, há 20 anos, que estes grandes incêndios que estão a consumir milhares de hectares do nosso território, iriam acontecer precisamente na dimensão e na cadência em que estão a acontecer. Os alertas sobre o ordenamento do território, a necessidade de um cadastro rural e a reorganização dos meios de combate são uma constante ao longo das últimas décadas. E, no entanto, em 2025, continuamos sem Canadair à disposição para um combate musculado; continuamos com Bombeiros na sua maioria voluntários; continuamos a não alocar os meios necessários, atempadamente, nas zonas que apresentam maior risco de incêndio; acabámos com os Guardas Florestais – figuras indispensáveis à vigilância e prevenção de tantos fogos – e continuamos a surpreender-nos com a dimensão das tragédias que, infelizmente, não irão abrandar. Esta semana, o especialista Pedro Matos Soares avisava, em declarações à RTP: “Até agora, temos tido estes grandes incêndios de cinco em cinco anos. O que os modelos de previsão no mostram é que estes vão passar a ocorrer a cada 1,7 anos”. Ou seja, nós sabemos quando e como nos vão chegar. Investir na preparação da sua chegada é, portanto, imperativo: até porque, tal como quando investimos o nosso capital, há uma altura em que se não houver retorno, também deixaremos de ter capital.Até agora temos investido vidas, profissionais, milhares de plantas, animais, casas, maquinarias... Até quando poderemos continuar a investir com este nível de risco, sem acautelar as perdas?Os dados mais recentes da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, a AGIF, revelavam que em 2024, foram investidos 638 milhões de euros nos incêndios, sendo que deste valor, 55% foi dedicado à prevenção. Ainda assim, e com um número de incêndios rurais menor do que o registado no ano anterior, a área ardida foi quatro vezes maior do que em período homólogo.Na floresta, os prejuízos estimados chegavam quase aos 70 milhões de euros.Este ano ainda é cedo para fazer contas, mas já perdemos quase uma dezena de vidas, e continuamos a perder território rural e urbano, o que tem um custo muito mais elevado do que qualquer sociedade pode pagar. Assim, resta-nos repetir a pergunta: não será melhor investir, de forma inteligente e musculada, em meios humanos e mecânicos para não ficarmos dependentes de aviões que podem não funcionar ou não estar disponíveis para serem alugados; de pessoas que podem ficar fartas de ser voluntárias e de uma sociedade civil cujas ondas de solidariedade arriscam perder força com a repetição da corrente tão forte que teima em criar tsunamis cada vez mais recorrentes?E deixar, em jeito de lembrete, a regra de ouro de Warren Buffet, talvez o mais famoso investidor do nosso século: “A primeira regra de um investimento é não perder. E a segunda regra de um investimento é não esquecer a primeira regra”. Que não hesitemos em fazer investimentos que nos vão impedir de perder mais.