Velhos, pobres e mal-agradecidos?

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A esperança de vida à nascença foi, em Portugal e em 2024, de 81,5 anos, um aumento de mais de 10 anos face a 1974. Trata-se de uma tendência global - a ONU fala de uma das maiores histórias de sucesso do desenvolvimento. Nunca é demais sublinhá-lo, ainda que coloque novos desafios à vida em sociedade e às políticas públicas.

O aumento no número de pessoas mais velhas poria sempre pressão sobre o setor da saúde (a probabilidade de doença aumenta com a idade) e, em geral, exigiria novas respostas sociais. A situação complica-se quando o peso das pessoas idosas aumenta no total da população devido a uma menor (absoluta ou relativa) taxa de natalidade: à dimensão social do desafio soma-se, então, a económica, em particular a sustentabilidade dos sistemas de segurança social. A intuição diz que a prioridade deve ser dada a políticas que incentivem a natalidade. Vários países assim o pensaram e agiram em consequência. Como é óbvio, mesmo sendo bem-sucedidas (e é raro!), são políticas que demoram a produzir efeitos sendo, entretanto, preciso fazer pela vida: o aumento da idade legal de reforma e a redução da taxa de substituição são disso exemplos.

Portugal é, a seguir à Itália, o país mais envelhecido da Europa e o 3º do mundo (o Japão é um caso à parte), não apenas pelo aumento da esperança de vida, como pela baixa taxa de natalidade (2ª menor). É assim há uns bons anos. Em paralelo, as projeções vinham apontando para um decréscimo da população já por 2025. Entretanto, aconteceu um milagre: a população começou a aumentar! E a taxa de natalidade desatou a subir (estamos hoje a meio da tabela na Europa).

Portugal passou a ser um paradoxo: continua a ser um dos países mais envelhecidos, mas nas projeções a 25 anos já não consta da lista! Superamos a “maldição da demografia”. Os efeitos começam a aparecer, por exemplo nos saldos da segurança social. Sabe a razão: imigrantes. Reter e integrar são palavras de ordem: eles podem “votar com os pés” (como já fazem os “nossos” jovens). Há quem não o perceba. É preciso esclarecer, e regular, para combater o ódio suicidário. Para que não se diga que somos “velhos, pobres e mal-agradecidos”!

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